O desfecho da novela do Orçamento 2015, que foi ajustado pela equipe do governador Paulo Hartung (PMDB) e “carimbado” pela Assembleia Legislativa nesta terça-feira (20), mostrou que a peça do governador Renato Casagrande (PSB), ao contrário do que vinha martelando Hartung, não tem nada de ficcional. Basta voltar um pouco no tempo para entender a manobra de Hartung.
Antes, durante e após a campanha eleitoral, Hartung construiu a tese de que o Estado perdera a capacidade de crescimento com Casagrande. “Perdeu o rumo”; tropeçou nas próprias pernas”; “parou”. Essas foram algumas das expressões usadas para traduzir a “incompetência” da gestão do socialista.
Quando a equipe de transição do peemedebista entrou em campo, após as eleições, o discurso passou a ser mais pessimista a cada dia. A equipe se encarregava também de reforçar que Casagrande era o responsável por ter deixado a saúde financeira do Estado moribunda na UTI.
Logo em seguida, não demoraria para Hartung classificar o orçamento do socialista como uma “peça de ficção”. Nesta terça, após a Assembleia aprovar sem ressalvas os ajustes feitos pela equipe de Hartung no orçamento, o ex-secretário de Planejamento do socialista, Davi Diniz de Carvalho, rebateu os ataques e provou que a peça de Casagrande não tem nada de irreal.
Carvalho explicou que a divergência dos números entre uma equipe e outra se deve à visão de cada um dos gestores. O ex-secretário afirma que a atual gestão tem projeções mais pessimistas que a anterior.
Para o ex-secretário, Hartung deu viés político à polêmica do orçamento para justificar seu discurso de campanha. “O orçamento [inicial] é tão real que esse tipo de ação só se justificativa para dar vazão ao discurso de que o Estado perdeu rumo ou explicar a paralisação de obras e convênios que estavam em andamento”.
Carvalho também criticou o fato de o “novo” orçamento não ter sido discutido com a sociedade civil. “Não soube de realização de nenhuma audiência pública ou sequer uma discussão com o sindicato dos servidores”.
O retrospecto dos fatos comprova que uma manobra política impediu a votação do orçamento de Casagrande. Até aí não há nenhuma novidade nem nada de errado. Faz parte do jogo que o governador eleito, caso tenha a Assembleia na mão, queira fazer ajustes para deixar a peça orçamentária azeitada ao seu estilo de gestão.
Mas Hartung foi além. Ele aproveitou a manobra para desgastar a gestão do antecessor, atribuindo a Casagrande todos os reveses que a população deverá enfrentar em 2015. A política do terror serve também para justificar o não cumprimento das promessas de campanha, dentro da seguinte linha: “Vocês estão sendo obrigados a engolir todo este sal porque o governo anterior nos legou o caos”.
Ora, a crise esperada para 2015 não é restrita ao Espírito Santo. Todos os governadores estão com a tesoura na mão. Mesmo os que foram reeleitos estão sendo draconianos na missão de cortar os próprios gastos.
Não há nada de ficcional na peça de Casagrande. O ponto fora da curva na polêmica do orçamento é o terror criado por Hartung para aniquilar seu principal adversário político e justificar à população, sobretudo aos seus eleitores, os motivos que o impedem de “chacoalhar” o Espírito Santo.