Há dias não se fala em outro assunto nos jornais: agravamento da crise hídrica e ameaça de racionamento para a população. Muitas campanhas e declarações de secretários, do presidente da Companhia de Abastecimento (Cesan), Pablo Andreão, e – claro! – do governador Paulo Hartung (PMDB). O argumento é sempre o mesmo. A população não tem economizado, apesar do alerta, e tornou-se a vilã do cenário de caos. Campanhas de conscientização são necessárias? Sim. Mas é no mínimo uma piada de mau gosto mascarar a origem do problema e tratar a questão apenas na transferência de responsabilidade para o banho no chuveiro, o pano molhado para limpar o “pó preto nosso de cada dia”, a torneira aberta para escovar os dentes, e por aí vai. Durante esse tempo todo, ainda não vi contemplado no discurso dos nossos “nobres” representantes, muito menos na TV, o debate que de fato interessa. A começar pelo consumo de água das indústrias poluidoras, como Vale, ArcelorMittal e Aracruz Celulose (Fibria); os impactos dos monocultivos que são amplamente incentivados no Estado, inclusive com plantios em áreas que reabastecem os rios, como topo de encostas e morros; e o elevado índice de desmatamento. Enquanto tem gente se engalfinhando com o vizinho, os principais responsáveis pelo problema deitam e rolam sem sequer serem incomodados. É preciso falar sobre água: qual a diferença entre os índices de captação destinados ao consumo da população e do agronegócio, mineradoras, siderúrgicas e etc.? O que o governo Hartung tem feito, na raiz, para combater o problema? O “x” da questão está escondido debaixo do tapete. Mas, ó, não se esqueça de fechar a torneira, hein…
Reação
Em Minas Gerais, representantes da sociedade civil já se mobilizaram para rebater essa estratégia, que não é exclusividade do Estado. Nome do movimento criado por lá: “A culpa não é do meu banho”. Nem do meu.
Reação II
Por aqui, repercute alguns protestos nas redes sociais. Ainda bem que existe a internet!
Números
Vou repetir somente duas informações das inúmeras tratadas desde sempre por Século Diário, que não têm eco na mídia corporativa, muito menos interessa aos órgãos públicos…
Números II
A Vale e Arcelor, sozinhas, consomem um terço da água captada no rio Santa Maria, que abastece a Grande Vitória; o consumo diário das usinas da Aracruz, por meio do canal Caboclo Bernardo, seria suficiente para abastecer 2,6 milhões de pessoas – equivalente à população também da Grande Vitória. E aí, vamos falar sobre água?
Mudanças
Tem muita gente de olho na dança das cadeiras no Tribunal de Contas do Estado publicada nesta sexta-feira (16) no Diário Oficial. São vários atos, numa tacada só.
Ânimos exaltados
O município de Pinheiros está pegando fogo por conta de uma denúncia de suposta fraude na realização de pesquisa eleitoral. O caso foi parar na Delegacia e na Justiça Eleitoral, que suspendeu o levantamento. O principal beneficiado seria, como circula nos bastidores, o candidato a prefeito Tico Gagno (PMDB), cunhado e candidato do deputado estadual Gildevan Fernandes (PMDB).
Segue…
O adversário de Tico no município é o jornalista Arnóbio Pinheiro Silva (PRB). Foi a chapa de oposição que representou contra a pesquisa, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo Instituto de Pesquisas Perfil Editora.
‘Garante’
O Ministério Público Estadual não quer correr o risco de virar “sucesso” entre os internautas em coletivas de imprensa, como ocorreu com o MPF do Paraná na apresentação da denúncia contra o ex-presidente Lula. Contrato assinado pela procuradora-chefe, Elda Spedo, garante a aquisição de licenças do pacote Adobe Creative Clouds, com uma série de aplicativos para criação e design. Vigência de 36 meses, pela bagatela de R$ 19,2 mil.
Nas redes
“São muitos os rios que secaram no ES. Na mesma medida, vários municípios entraram em situação de emergência e impuseram racionamento doméstico de água. Mas a indústria continua sugando água sem piedade (…)”. (Hauley Valim – sociólogo e ativista – no Facebook)
PENSAMENTO:
“A água está para o fogo, assim como a coerência está para a política”. Fabiano Vieira
