Segunda, 29 Abril 2024

Um dia feliz na empresa

O dia começa igual aos outros, e por que não? Corto o queixo ao fazer a barba, coisa pouca, mas  o primeiro evento que confirma meu mau humor crônico: Quais as chances do dia hoje ser melhor que os outros? Brigo com o filho por causa de um brinquedo esquecido na escada, um perigo. Azedo com a mulher por causa do café muito forte, da torrada muito queimada, da laranja muito azeda. Saio chateado imaginando mulher e filho rindo aliviados ao me ver pelas costas; não gosto de dar alegria a ninguém.



 

Entro no carro e o marcador de combustível está no vermelho. Droga! Raramente esqueço alguma coisa, mas esqueci de abastecer ontem. No fim da tarde o posto da esquina está sempre vazio, mas de manhã tem fila em todas as bombas. Xingo o trânsito engarrafado, o que não é novidade, acontece todos os dias, mas por que me aceitar? Com pouca gasolina, nesse anda e para, para e anda, não vai dar  pra chegar no posto...



 

Chego no posto sem agradecer a Deus ou à sorte. Se a gasolina deu para chegar não é motivo de agradecimento; sorte seria ter abastecido ontem à tarde, ou a gasolina não estar nas últimas. Ridículas essas pessoas que se dão ao trabalho de agradecer por nada. “Dei sorte, não quebrei o tornozelo, foi só uma luxação”. Ou, “Graças a Deus o carro quebrou perto da oficina mecânica!” Sorte seria não machucar o tornozelo ou o carro não quebrar.

 



Furo a fila e entro na frente de um idiota que bobeou, falando no celular. O frentista enche o tanque e um flanelinha limpa o parabrisas. Perguntou se eu queria o serviço? Não dou gorjeta, ele que vá limpar o carro do cara do celular aí trás. O mundo está  cheio de otários extras. Também não agradeço nem dou gorjeta ao frentista, que  é pago para fazer esse serviço. Se ganha pouco o problema é dele, não meu. Também ganho pouco, e o patrão não  me dá  gorjetas por isso.



 

Já imagino o bando de incompetentes no escritório olhando o relógio, felizes com meu atraso. E o serviço parado; todo mundo de papo e no cafezinho, enquanto estou aqui esperando o lerdo do frentista me trazer o troco. Deve estar escolhendo notas maiores, pensando que assim lhe darei  uma gorjeta melhor. Sonho dele. Quando finalmente sou liberado, um carro entra na mão errada e fecha a saída. Tentando dar a ré,  o motorista engarrafa o trânsito na rua.



 

Todo mundo buzinando, como se barulho ensinasse o idiota a dirigir. Já estou atrasado, o dia começou mal e só vai piorar, não tenho tempo nem paciência para todo esse transtorno. Abro o vidro do carro e grito umas verdades para o debilóide que não viu a enorme placa de saída, “É Alzheimer ou já nasceu retardado?” O sujeito sai do carro com um objeto preto na mão....  Um tiro, e nem tive tempo de gritar – morto!

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