Quem ouviu o discurso apocalíptico da secretaria de Fazenda Ana Paula Vescovi nesta segunda-feira (16) na Assembleia deve ter ficado encafifado, com um tremendo nó na cabeça. Afinal, dia desses o governador Paulo Hartung (PMDB) repetia aos quatro cantos que o Espírito Santo poderia fazer as vezes de “farol do Brasil”.
Ele queria convencer a mídia nacional que sua austera política econômica era capaz de vencer a crise. Hartung e Ana Paula até outro dia se gabavam dos resultados do Estado. Mas agora o discurso, pelo menos para dentro do Estado, mudou da água pro vinho.
A secretaria da Fazenda, sempre em tom grave, alertou aos deputados que no mês passado o resultado primário alcançou um superávit de R$ 290 milhões. “É pior que o mesmo período do ano passado, que foi R$ 309 milhões”. Em seguida, foi acrescentando cores mais fortes ao discurso do caos. Lembrou que o resultado orçamentário do Poder Executivo, excluídos os recursos vinculados, teve um saldo deficitário de R$ 22 milhões. “É um alerta. É inferior ao resultado do ano passado, que foi um superávit de R$ 97 milhões. É uma percepção do efeito do agravamento da crise nas finanças”, asseverou.
É difícil de engolir que a “toda poderosa” da Fazenda estadual só percebeu que a situação do Estado se tornou periclitante da noite para o dia. Faz um ou dois meses, Hartung e Ana Paula estampavam o noticiário dos principais jornais País, exaltando os bons resultados do Espírito Santo em meio à crise que tirava (e ainda tira) o sono da maioria dos governadores.
Exagero? Basta lembrar que há menos de duas semanas Paulo Hartung estava sendo “cotado” para o Ministério da Fazenda. Num governo que será cobrado por resultados imediatos na economia, Hartung conseguiu plantar a notícia que os bons resultados do Espírito Santo – décimo primeiro PIB do País – o credenciavam para o cargo mais importante e estratégico do Brasil sob o comando de Michel Temer.
Mas Ana Paula ignorou todas as notícias boas. Ela aproveitou o encontro com os deputados para dar uma cutucada no ex-governador Renato Casagrande, atribuindo à gestão do socialista os maus resultados que o Estado colhe hoje. O discurso, na verdade, funciona como recado para os servidores públicos, que ameaçam paralisações em diversos setores do Estado.
O recado fica claro quando a secretária avisa que o pagamento do funcionalismo já está em risco. Percebam a dramaticidade. “Estamos com dificuldade na arrecadação, mas queremos manter esse compromisso e faremos o possível para cumprir isso. Nosso esforço é máximo e a equipe está envolvida para arcar com a folha de salário”.
Mas…Traduzindo, a secretária quis dizer que o empenho do governo em manter a folha em dia vai depender da boa vontade do servidor em cumprir a sua parte no “acordo”. O recado é claro, com paralisações e pressão pra cima do governo, as chances de a folha não ser honrada aumentam consideravelmente. O governo tem um discurso sob medida para cada ocasião.