Durante o processo de democratização do País, um dos seus principais líderes, o deputado Ulysses Guimarães, morto em um acidente aéreo em outubro de 1992, em Angra dos Reis (RJ), cunhou um termo que até hoje é utilizado para designar o poder de parlamentares com pouca expressão no Congresso Nacional: “baixo clero”.
Foi no “baixo clero” que os representantes do Espírito Santo sempre foram encaixados tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. Com um baixo eleitorado e sem nomes que consigam se destacar em nível nacional com poder de influência no jogo político do País.
Na disputa ao Senado no próximo ano, dois terços da casa estarão disputando a eleição. Os dois senadores que estarão com as vagas em disputa, Ricardo Ferraço (PMDB) e Magno Malta (PR), vão tentar suas reeleições e, pelo andar da carruagem, devem conseguir sem problemas. Ah, mas Renato Casagrande (PSB) também pode disputar. Casagrande já passou pelo Senado e, embora tenha feito um bom mandato, e conseguido penetração com a imprensa nacional, nunca foi um senador de primeiro escalão.
O próprio governador Paulo Hartung, em sua passagem pela Casa não deixou uma marca no mandato. Por isso, para ele não bastaria disputar a eleição ao Senado e se tornar mais um entre os 81. Hartung criou uma pretensão de chegar ao Senado um andar acima, como “alto clero”. Investiu em uma assessoria de comunicação de fora, em condições de incluí-lo na agenda nacional, exaltando seu desempenho como governador-modelo, o único que enfrentou e venceu, mesmo que parcialmente, a crise com sucesso.
A estratégia deu certo e Hartung conseguiu ampliar sua imagem, criando uma ideia de que ele seria um dos políticos do futuro, em um cenário de desolação total da população com a classe política. Mas Hartung, a duras penas, percebeu que não basta imagem para se consolidar no espaço que se quer e na hora que se quer.
Suas incompatibilidades com o PSDB, de Aécio Neves – esse sim, um senador de peso e que tem em Ricardo Ferraço a confiança que não tem mais em Hartung –, aliada à indisposição de grande parte do PSDB local, fecharam a porta do ninho tucano para o peemedebista, deixando claro que vão apoiar o senador Ricardo Ferraço. Na área de Magno Malta Hartung não transita, então vai ter de se contentar em permanecer no governo e se conformar com a memória de sua passagem não tão brilhante pelo Senado, como “baixo clero”, sim.
Fragmentos:
1 – A situação na Serra está muito estranha. A Câmara que estava rachada já compõe com o prefeito Audifax Barcelos (Rede) e até seu principal desafeto, o deputado federal Sérgio Vidigal (PDT), se diz à disposição do prefeito. Depois de duas décadas de radicalismo, será que o município caminha para a unidade? Difícil acreditar.
2 – O afastamento do PSDB do governador Paulo Hartung (PMDB) pode se agravar ainda mais com o movimento do ninho tucano de aproximação em direção ao PSB em nível nacional.
3 – O desembargador paranaense João Pedro Gebran Neto participa nesta sexta-feira (27) de uma reunião para a indicação de seu nome para a vaga no Superior Tribunal Federal (STF), com a morte do ministro Teori Zavascki.