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Umas torres para o Atlântico

Ao ler no SéculoDiário que moradores de Manguinhos se reuniram com o prefeito da Serra preocupados com a construção de prédios de oito andares pela Construtora Baleia na área do antigo Restaurante Chico Bento, entre a ES-010 e o Oceano Atlântico, lembrei-me imediatamente de Fernando Betarello, o arquiteto-urbanista que mora ali pertinho e há dez anos participou de eventos, planos e diretrizes sobre a ocupação dos espaços suburbanos da Grande Vitória.
 
 
 
Por sua responsabilidade profissional, Betarello é talvez a pessoa mais indicada para opinar sobre esse assunto. De norte a sul construir na orla é recorrente no país, mas é bom saber que o pessoal de Manguinhos continua fiel à ideia de não permitir a construção de torres. Bastou a lição do Edifício Santana com seus três andares erguidos na década de 1970 na Ponta dos Fachos.
 
 
 
A propósito do conflito entre construtores e moradores, retranscevo aqui como subsídio ocasional uma carta recebida por este colunista no primeiro semestre de 2005. O tema era a ocupação dos espaços na Serra e o autor – Fernando Betarello, que cultiva uma preocupação especial com a manutenção da cultura local, algo geralmente soterrado pela cadeia da construção civil:   
 
 
 
“Venho acompanhando com especial interesse seus artigos sobre Manguinhos. Por ser morador, por querer conhecer sua formação e aspectos relevantes da sua história e também pela preocupação com o seu futuro. Participei da equipe do projeto Agenda Estratégica  para a Serra 2000 a 2020 e em seguida tive a oportunidade de elaborar o Master Plan de uma área de mais de 4 milhões de m² da família Martins na região que vai de Laranjeiras até Bicanga. Logo após  esses dois estudos coordenei dois trabalhos sobre a  Região Metropolitana da Grande Vitória (Agendas Metropolitanas I e II). Esses trabalhos da Serra, de Nova Manguinhos e da RMGV possibilitam afirmar que a expansão urbana da Grande Vitória será predominantemente no sentido da Serra e principalmente na região de Jardim Limoeiro, Laranjeiras, Nova Manguinhos e Manguinhos, pois são espaços que dispõem de infra-estrutura, proximidade com comércio/serviço e com as possibilidades de trabalho. Vitória já não tem mais espaço para crescer e em Vila Velha os espaços disponíveis (Itapoã e Barra do Jucu) estão ficando muito longe do centro da metrópole. Nos casos de J. Limoeiro e Nova Manguinhos essa expansão irá ocupar áreas vazias. Mas no caso de Manguinhos e Bicanga a tendência é a ocupação por  uma classe de renda mais alta que a atual, que trará junto consigo uma necessidade de serviços e um estilo de vida que com certeza modificará a atual característica cultural desses bairros. 
 
A ocupação por uma classe de renda mais alta está sendo incentivada para a região entre Laranjeiras e Bicanga com os loteamentos que estão para ser implantados. Atrás da Escola Técnica está em aprovação o loteamento Nova Manguinhos e atrás do Yahoo está sendo projetado o loteamento Arquipélagos de Manguinhos. Até aí tudo bem. A preocupação é que a ocupação deles induzirá o adensamento de Manguinhos e Bicanga por uma classe de renda mais alta que a atual que pode levar a mudanças na cultura local.
 
Você conhece a organização social local. Manipulada por alguns vereadores e sem liderança. Há uma grande confusão sempre que se tenta fazer algo principalmente em Manguinhos. A alternativa para ter uma unidade dos desejos locais é estudar Manguinhos e Bicanga nos seus diversos aspectos e junto com as populações locais estabelecer uma espécie de Agenda 21, onde fique claro, em cima de aspectos técnicos, o que se quer e o que não se quer. Essa Agenda deve virar lei. Isso me parece que pode ajudar a segurar as características da região e resistir às pressões que certamente virão.”
 
 
 
Encerro aqui a transcrição lembrando que até 2020 o município da Serra terá perto de 500 mil habitantes, ou seja, há efetivamente uma pressão habitacional sobre Manguinhos e arredores.   
 
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
 “Dependendo da forma de ocupação haverá menor ou maior custo de manutenção e dos investimentos públicos, problemas ambientais, sobrecarga no sistema viário existente, alteração no modo construtivo e perda da identidade cultural existente atualmente”.
 
Fernando Betarello, arquiteto

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