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Vade retro, Maniqueu

Enquanto os atletas paralímpicos estão no Rio nos dando exemplos extraordinários de superação das adversidades, o Brasil e o mundo mergulham fundo nas águas do maniqueísmo, “doutrina filosófica” segundo a qual, grosso modo, a vida humana na Terra se dividiria em apenas dois lados: os bons e os maus.
 
Maniqueu viveu na Pérsia no século III e se dizia “apóstolo de Cristo”. Era uma espécie de fanático como tantos que se veem hoje no Brasil e no mundo. “Se V. não está comigo, está contra mim”.
 
Ver apenas dois lados num mundo tão diverso é de um reducionismo atroz…Simplificação grosseira. Um atraso de vida. É impor-se uma limitação castrante. Pior ainda, é imputar aos outros uma pecha negativa e injusta.
 
O fato é que o maniqueísmo domina as relações entre pessoas, clubes, empresas e países.
 
A gente liga o rádio ou a TV, ou navega na internet, e não consegue escapar dos libelos messiânicos de locutores, apresentadores de TV, entrevistados, padres, pastores, políticos…
 
Tiroteio incessante, balas perdidas, muros eletrificados, vigilância permanente, medo, terror. Será um mal passageiro, decorrente do exercício deletério do uso de novos meios de comunicação?  
 
Pode ser, mas o fato é que, na luta entre o bem e o mal, não se vê meio-campo. É céu ou inferno. Os maniqueístas estão em todo lugar. No governo. Nos estádios. No Judiciário. Nem na rua se tem paz. O pedestre pode carregar uma bomba. O carro parado na esquina talvez contenha dinamite para explodir o caixa eletrônico da agência bancária. O flanelinha pode ser assaltante, meliante ou traficante.     
 
Se os lados se respeitassem mutuamente, talvez fosse possível encontrar um denominador comum. Teríamos assim uma convivência pacífica que nos levaria, quem sabe, a um consenso democrático próprio de uma civilização adiantada. Após uma eleição, por exemplo, exerceria o poder quem conquistasse o maior número de votos, sem mimimi.
 
Em caso de dúvida, caberia ao supremo conselho de anciãos decidir quem estaria do lado certo, sem maniqueísmo – só na moral, na ética e nos “bons costumes”.
 
O problema é quando os que deveriam se comportar como juízes passam a se comportar como maniqueus, intimidando os cidadãos e gerando uma distorção generalizada dos conceitos sobre o “bem” ou do “mal”.
 
Não há pior coisa na vida civilizada do que o descrédito dos representantes populares, dos funcionários públicos e, principalmente, dos membros do poder judiciário.
 
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
 
“A política criou um leviatã, que é a politização da justiça. Agora, caberá à sociedade – com sua organização política e social – controlar ou desfazer este grave mal que nos abateu, antes que seja tarde demais.”
 
Jorge Rubem Folena de Oliveira, advogado constitucionalista e cientista social, em artigo no site www.jornalggn.com.br

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