No dia do noivado, em vez do esperado anel de brilhantes, Vico oferece à futura esposa um anel da Pandora; caro mas inadequado – diamantes são para sempre. O quase-noivo explica que pretendia comprar o anel exigido na ocasião, mesmo com parcos quilates, mas uma notícia nos jornais abalou, não apenas suas economias, mas também as pretensões de Donald Trump à Presidência dos States.
Pois não é que justamente no auge da campanha presidencial, quando o único programa de governo do candidato republicano é ressuscitar o muro de Berlim no sul dos Estados Unidos, a Ford anuncia que está transferindo sua produção de carros populares para … (suspense) … Advinhou? O México! Trump quase arranca o famoso topete – Tanto país pobre no mundo, por que o México? Ficou chato, né?
Mas pode até ser que a mais tradicional fabricante do mais americano dos carros esteja ajudando o candidato em sua política separatista, justamente por semear empregos à mão cheia no terreno inimigo. Se, seguindo o exemplo da Ford, toda a indústria americana também se transferir para o México, teremos dois benefícios a curto prazo: carros mais baratos (mão de obra a preço de garrafinha de água mineral), e inversão da corrente migratória.
A Ford anunciou que vai investir 4.5 bilhões na produção de carros pequenos, mais econômicos porém massacrados pela concorrência de Hondas e Toyotas. Com essa transfusão de dólares na combalida economia mexicana, até los astecas vão deixar suas pirâmides e trabalhar na linha de montagem. Tudo porque a Ford quer se dedicar a seus produtos mais lucrativos –pickups e SUVs, que com a gasolina mais barata, são as preferidas de quem pode pagar.
O problema da imigração ilegal será transferido para o governo mexicano, e todos sairão lucrando. Enrique Peña finalmente vai aceitar pagar os custos do muro, como Trump promete e jura que vai acontecer. Para Vico, porém, a notícia é desastrosa. Trabalhando há anos na fábrica da Ford em Detroit, seus dias estão contados. Claro, a Ford já se espalha por vários países, inclusive o México, mas essa mudança é radical. Empregos andam difíceis, e vamos ter que mudar pro México? Triste ironia.
A quase-noiva recusa o pedido, Prefiro ficar sem anel do que mudar para o México e viver com 10% do seu salário. Vico vai à loja devolver o anel, e a vendedora o consola, Vão-se os anéis, ficam os dedos. Vico rebate, Foram-se os anéis, o emprego, a noiva, de que me adiantam os dedos? A jovem insiste, Sem anel e sem emprego, mas talvez com outra namorada. Vico não pensa duas vezes, Mesmo se tiver que mudar pro México? pergunta, pegando o anel de volta.