A atuação política do prefeito Luciano Rezende (PPS) sofreu uma guinada neste início de segundo mandato, isso é inegável. Mas daí a pensar que ele colocaria em xeque o que o mercado político esperava que fosse o truque de mestre do governador Paulo Hartung (PMDB) para coroar sua política de austeridade surpreendeu.
Desde 2012, Luciano Rezende e Paulo Hartung, que até então eram aliados, romperam suas relações políticas. Houve tentativas por parte do prefeito de aproximação com o governador, mas hoje isso não faz mais parte dos planos de Luciano Rezende.
Seu plano agora parece ser o de ocupar a lacuna política de uma eventual terceira via para a disputa do governo do Estado. Embora sua ação pareça isolada, há uma sintonia na ação dos prefeitos da Grande Vitória em relação a um ponto específico. Os prefeitos entenderam que não há mais vantagens na lealdade canina ao governador Paulo Hartung e decidiam seguir seu conselho, de usar a criatividade em momentos de crise.
A política de ajuste fiscal de Hartung, que tem fechado o cofre para os prefeitos e sua movimentação política nada sutil no terceiro mandato, não tem tornado atrativa a companhia do governador e os prefeitos dos grandes municípios têm encontrado formas de sobrevier fora da bolha em que Hartung tenta manter a classe política.
Ao se movimentar para tirar o saneamento de Vitória da Cesan, Luciano Rezende não só encontrou uma solução mais barata e eficiente de prestar um serviço à população da Capital, como também pode colocar água no chope de Hartung, tirando o filé-mignon da venda da empresa. E na linha de Luciano estão os demais prefeitos da Grande Vitória.
O prefeito de Vila Velha também vem encontrando mecanismos para sobreviver com as próprias pernas. Se antes Max Filho viveu um embargo do governo do Estado por estar desalinhado com o Palácio Anchieta, hoje ele se une aos demais 77 prefeitos que não têm recebido ajuda alguma do governo do Estado, mesmo estando com a corda no pescoço.
O prefeito vai usar, inclusive, o mesmo mecanismo utilizado pelo governo do Estado para receber dívidas, com o Refis municipal, que pode render de R$ 8 a R$ 10 milhões para os cofres municipais. O município pode ainda rever os incentivos fiscais, coisa que no Palácio Anchieta é proibido discutir.
Outro que também está se virando é o prefeito da Serra, Audifax Barcelos (Rede). Em fevereiro passado ele esteve em Brasília para fechar um acordo com a Caixa Econômica Federal para a antecipação de R$ 100 milhões da receita de royalties de petróleo, que o município tem direito até 2020, um caminho que Hartung buscou em 2003 para acertar as dívidas do Estado. O recurso deve ser usado para a infraestrutura do município, como a pavimentação de 12 bairros.
Encontrando outros caminhos, usando a criatividade e conhecendo as necessidades de seus municípios, os prefeitos dos maiores municípios do Estado invertem a coisa. Se a maioria das cidades precisa do governo do Estado para sobreviver, hoje é o governador que se isola dos gestores dos principais colégios eleitorais do Estado, o que pode se tornar um problema sério para 2018.
1 – Audifax Barcelos, Luciano Rezende e Max Filho são nomes que são citados ou por se lançarem como pretensos sucessores de Hartung ou por serem citados como lideranças em condições de disputar o governo. Pelo andar da carruagem, nenhum deles tem como prioridade ser o candidato de Hartung ao governo.
2 – Seja para disputar o Senado, seja para emplacar seu sucessor no Palácio Anchieta, Hartung vai precisar reconquistar os prefeitos da Grande Vitória. Mas como fará isso, se não tem nenhuma vantagem a oferecer? Hoje é o governador que vem pegando carona em investimentos federais para mostrar algum tipo de entrega.
3 – Outra coisa que prejudica o governador no jogo político do Estado é o fato de ele não ter mais um discurso agregador, como foi o combate ao crime organizado, no inicio da década passada. A crise econômica e o ajuste fiscal fizeram água com a crise na segurança.