Quarta, 08 Mai 2024

Vitórias do cárcere

 

Contrariando todos os manuais dos gurus do marketing político, Norma Ayub (ex-prefeita de Itapemirim), Edson Magalhães (ex-prefeito de Guarapari), Jorge Donati (prefeito de Conceição da Barra) e Reginaldo Quinta (ex-prefeito de Presidente Kennedy) provaram que passar uns dias na cadeia pode ser, ao contrário do que se supõe, uma eficaz estratégia eleitoral.
 
À primeira vista, a decretação de uma prisão é devastadora para qualquer ser humano, mas não para alguns políticos capixabas. Eles mostraram que mesmo atrás das grades é possível eleger um “poste” ou até se eleger.
 
O mais recente é o caso de Edson Magalhães (sem partido). Preso na Operação Derrama desde o dia 15 janeiro, os observadores apostavam que a candidatura de Orly Gomes (DEM) à prefeitura de Guarapari naufragaria com a prisão do ex-prefeito do balneário, principal cabo eleitoral do demista. 
 
Mas nesse domingo (3), para a surpresa dos que acreditavam em “justiça das urnas”, mais de 24 mil eleitores votaram em Orly como se estivessem votando em Magalhães. Inclusive o prefeito eleito já avisou, sem nenhum constrangimento, que Magalhães será uma espécie de conselheiro especial do seu governo. Segundo ele, Magalhães desempenhará o mesmo papel que o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, exerce com o atual presidente americano, Barack Obama.  
 
Nas eleições de 2012, dois casos chamaram a atenção. No ano passado, o prefeito de Conceição da Barra (norte do Estado) foi preso por duas vezes. A segunda prisão, já durante a campanha, despertou uma euforia nos seus adversários, que passaram a acreditar que a passagem pelo cárcere poderia minar o favoritismo do tucano. 
 
Ledo engano. Donati saiu da prisão como um verdadeiro mártir. Foi literalmente carregado nos braços do povo, que o elegeria com uma votação retumbante: mais de 66% dos votos válidos. 
 
O ex-prefeito de Presidente Kennedy também passou um bom tempo de 2012 atrás das grades. Tanto que se inscreveu para a disputa eleitoral de dentro da cadeia, graças a uma procuração. 
 
No município sulista, os kennedenses já se alvoroçavam em apoio à reeleição do então prefeito preso. Até manifestação para a libertação de Quinta os eleitores fizeram. 
 
Infelizmente, para ele, a Câmara agiu rapidamente e cassou o seu mandato, o que o impediu de continuar na disputa. Inconformado, pois sabia que a eleição estava ganha, Quinta foi obrigado a lançar sua sobrinha, Amanda Quinta (PTB), para sucedê-lo na disputa. Se tivesse lançado o “Zé do Armazém” ou o “Chico da Farmácia” também não haveria dificuldade.
 
Nesse caso, mais uma vez, a prisão do tio, envolvido em corrupção, que deveria ser motivo de constrangimento para a candidata, se tornou trunfo. Praticamente de dentro da prisão, Quinta transferiu mais de 57% dos votos válidos para a anônima sobrinha.
 
O caso da ex-prefeita de Itapemirim, Norma Ayub (DEM), é um pouco diferente. A mulher do deputado Theodorico Ferraço (DEM) foi uma das 31 pessoas presas na esteira da Operação Derrama. 
 
A prisão de Norma não poderia ter acontecido em pior momento, foi decretada duas semanas antes da sessão que elegeria o presidente da Assembleia. Ferraço, já eleito por acordos prévios, viu a sua candidatura ameaçada. 
 
Observadores já falavam que não havia mais clima para Ferraço, que também fora indiciado na Derrama, seguir com o projeto de reeleição. Alguns deputados ensaiaram uma encenação para mostrar que havia uma movimentação na Assembleia já especulando outros nomes, caso Ferraço saísse do páreo.
 
O salvador parecer do procurador-geral de Justiça Eder Pontes provocou uma reviravolta no caso e deu sobrevida a Ferraço. 
 
O anúncio da revogação da prisão de Norma – dos dez ex-prefeitos presos, a única que conseguiu liberdade até agora -, naquele momento adverso, teve um valor simbólico para Ferraço. A libertação de Norma soou como uma extensão de inocência para Ferraço. Por que somente ela estaria sendo solta? 
 
A revogação da prisão da ex-prefeita e a manobra de Pontes, que não ofereceu denúncia contra o deputado, alegando falta de provas, foram decisivas para a reeleição de Ferraço. 
 
Mais uma vez a prisão, que também conferiu a Norma a condição de mártir – estava doente e seu estado de saúde se agravara na prisão –, seguida da liberdade, foi decisiva para Ferraço. É como se Norma tivesse sido presa injustamente e a Justiça estivesse reparando seu erro ao devolver-lhe a liberdade. Por dedução lógica, as acusações contra Ferraço, mentor do esquema em Itapemirim, também seriam descabidas. Logo, não haveria motivo para não reelegê-lo. 

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