O Museu ÁfricaBrasil, no Porto de São Mateus (norte do Estado), criado pelo historiador Maciel de Aguiar, recebeu, nessa semana, visita do jornalista Fernando Gabeira e do cardeal de São Paulo dom Cláudio Hummes. O espaço reúne um dos maiores acervos de arte tribal africana, segundo constatação já feita por importantes antropólogos, historiadores e pesquisadores.
Gabeira foi ao ÁfricaBrasil com a incumbência de realizar um documentário para a TV Bandeirantes. Já o arcebispo, que dirigiu área específica na sua passagem pelo Vaticano (foi membro da Congregação Para a Doutrina da Fé), para conhecer o museu, aproveitando-se da visita para um encontro religioso.
Maciel de Aguiar explicou aos dois que o acervo levou 35 anos para se formar, com centenas de buscas em território africano. São quatro mil máscaras, a maioria relacionada com as correntes tribais que vieram para o Brasil servirem de escravas.
Ainda segundo o historiador, o Porto de São Mateus foi uma das principais portas de entrada de escravos, razão pela qual achou por bem instalar o museu no local, em um casario de época. Podendo, assim, servir melhor como testemunho da escravidão negra no Brasil.
Embora pronto há um ano e meio, o ÁfricaBrasil ainda não pôde entrar em funcionamento. Faltam recursos para sua manutenção e contratação de pessoal especializado, que no entender de Maciel, deve ser custeado pelo setor público, considerando sua destinação, sobretudo no que tange às pesquisas. O governador Renato Casagrande, que também visitou o museu, assumiu compromisso de parceria para cobrir esses custos de manutenção, com as pastas de Cultura e Educação, o que ainda não aconteceu, apesar do empenho do secretário de Cultura, Maurício Silva.
Nesse ínterim, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, propôs parceria com o governo federal, desde que o museu fosse transferido para o Rio de Janeiro ou Salvador, defendendo mais visibilidade e acesso, principalmente à área internacional, dentro do entendimento de que o ÁfricaBrasil é um dos mais importantes museu que se conhece no mundo.
Gabeira, que já conhecia o porto e lá havia estado nos idos dos anos 80, na sua volta do exílio, descerrando a placa em homenagem às prostitutas, conservada por mais de meio século nos casarios do porto, disse que a única condição de o museu continuar em São Mateus é a cidade se refazer em torno dele, dando conta do fluxo de visitantes que fatalmente ocorrerá. Não sendo dessa forma, o ÁfricaBrasil deveria sair do município para cumprir o seu papel, apontando o Rio de Janeira como local mais apropriado.
Já o arcebispo de São Paulo, assinalando que no seu período em Roma conheceu todos os museus da Europa, se disse surpreendido com o que encontrou, com destaque para as máscaras tribais, a ponto de afirmar não ter encontrado nenhum outro similar na Europa.
Ainda sobre a importância africana na formação da humanidade, existe a constatação do escritor Eduardo Galeano, no seu livro Espelhos: na África, iniciou-se a viagem humana pelo mundo.