Quinta, 02 Mai 2024

Análise: ???A Parte dos Anjos???

Análise: ???A Parte dos Anjos???

 

A hegemonia cultural sempre vem precedida de um poder econômico e, com este, militar. Não é de se estranhar, pois, como o Reino Unido, centro nevrálgico da especulação mundial, com pequenas cidades paraísos fiscais e sobretudo a poderosa City, tenha tanta influência na cultura mundial. 
 
A Escócia, última estação da ilha, mostra que tem sua própria tradição e se desentrelaça de uma cultura globalizada e metropolitana. Servindo como aporte ao referendo de independência marcado para 2014, os escoceses surpreendem com produções otimistas e bem realizadas.
 
Robbie (Paul Brannigan) é um desajustado social que acaba de receber uma pena alternativa de serviço comunitário. Lá conhece outros pequenos infratores que têm uma única chance de serem inseridos na sociedade. Vão perceber porém que às vezes os métodos ilegais podem ser a única via de acesso.
 
“A parte dos anjos”, que dá nome ao filme, é uma visão poética da derramada etílica “pro santo”, mas em forma de vapor que emite a barrica de whisky quando aberta. É o elo de ligação entre os infratores agrupados e o dom descoberto por Robbie de provar a bebida.
 


Retornando a velha história das segundas oportunidades, dessa vez fica a cargo de Harry (John Henshaw), responsável pelo grupo, inserir a estes jovens transgressores no mundo do whisky. Aproveitando a chance, se dedicarão a um último crime como forma última de tentar a reintegração. É a única forma, uma vez que a própria sociedade cria barreiras para aceitar os próprios infratores.
 
A simpatia do filme recai sobre a forma singela com que a recuperação dos jovens é relatada e a incorporação gradual na vida adulta, principalmente com o nascimento do filho de Robbie - a sorte que acompanha os ingênuos (seriam eles os verdadeiros anjos?), mas sobretudo a camaradagem incluída até nas pessoas mais marginalizadas.
 
O roteiro bem estruturado apresenta ações imprevisíveis com um pouco de violência e comicidade, um humor irônico, como uma comédia de erros, onde no final quem erra menos leva a melhor. Pior para os que já começaram equivocados. 
 
A trilha sonora a cargo da banda escocesa The Proclaimers, que fez certo sucesso nos anos 80, dando um certo ar retrô e ao mesmo tempo nacionalista à trama, que ainda conta com trajes típicos e piadinhas da região.
 
O diretor Ken Loach, famoso por seus filmes políticos (Pão e Rosas, 2000; Terra e Liberdade, 1995) continua na vertente, mas cada vez mais sutil, utilizando a anarquia e ficando sempre do lado do mais fraco. 
 
Às vezes para derrubar o sistema é preciso estar dentro dele, invadir as barricas da destilaria mais famosa do mundo e libertar a parte dos anjos, rezando para que eles ajudem ao capital não dar conta de mais uma fraude. 
 
Talvez por esta sutileza tenha levado o prêmio em Cannes pelo filme.
 
Serviço
A Parte dos Anjos (The Angel’s Share, Reino Unido/França/Bélgica/Itália, 2012, 101 minutos, 14 anos) 
 
Cine Jardins - Shopping Jardins: Sala 1. 21h. 

Veja mais notícias sobre Cultura.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quinta, 02 Mai 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/