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Análise: Cosmópolis

 

Meninos mimados milionários, podem ter tudo o que desejam, mas claro que só desejarão as coisas preestabelecidas como prova de status. Tudo que seja caro será o alvo. O mundo já não é tão grande para eles, tem tudo e chegam a todos lados, rapidamente.
 
Entretanto estamos parados no trafego intenso da china, dentro da limusine de um destes jovens donos do mundo, e dentro dela vemos passar o mundo, suas relações, saúde,  e até mesmo o sexo, que nada mais é que somente um contrato mais entre clientes e o patrão maior.
 
 
Entre conversas e outras percebemos o mundo cada vez menos e mais previsível: um menino prodígio lê as fórmulas da inversão global e em meio a padrões especulativos tenta ampliá-los a toda natureza humana. Mas ha algo muito maior que ele, quem dirige o carro dita as regras, e sugere um mundo inseguro e cheio de medos criando assim uma forma de guiar o jovem em cada atitude. O mundo material se rebela e invade os padrões abstratos. O automóvel imóvel só reforça essa certeza.
 
 “Assim como a arte, o dinheiro perdeu seu poder narrativo, fala por si mesmo”, Cosmópolis assume essa abstração ficcional, entre diálogos sobre o excesso de informação e a constante busca de uma atualização pela sociedade contemporânea: sempre algo está para ocorrer, a revolução está à porta, a novidade constante necessária do capitalismo (mesmo se fora do carro está a explodir a tal revolução ou trechos do manifesto comunista)
 
Cronemberg cria outro mundo estranho, mas bem pontuado com a realidade, dessa vez do capital abstrato que invade o mundo físico e tenta tirar dele toda a lógica necessária da humanidade, tudo o que foi construído baseado nas tradições. A novidade não permite a tradição. E isso não será ouvido na psicanálise econômica no banco traseiro da limusine.
 
A atuação (a cargo do garoto vampiro de Crepusculo, Robert Pattinson, mas também de pequenas aparições de Juliette Binochet, Samantha Morthon, Paul Giamatti, etc) forçada como na maioria dos filmes de Cronemberg, foge assim de uma representação naturalista tão utilizada em Hollywood. Soa externo, mas é parte do filme, de uma forma rara de relacionar, de ler as previsões, enfim, de um mundo racionalizado e programado, onde somente o dinheiro importa e como a tecnologia está a favor disso, formas de ganhar dinheiro sem sair do lugar. Quem tem o capital o multiplicará
 
A reflexão do mundo atual concorre com a tensão sexual sempre presente na falta de objetividade atual. A única forma de prazer está no ato sexual (mesmo que tal ato seja um único minuto antes da ejaculação): o sexo também banaliza, assim como o debate, nada tem sentido num mundo onde o drama já não existe. Se tudo é planejado e óbvio, nos tornamos autômatos, e o caminho é só um tempo chato que se há de percorrer antes do objetivo padronizado. 
 

Serviço
 
Cosmópolis (Cosmópolis, França/Canadá, 2012, 105 min, 16 anos)
Cine Jardins – Shopping Jardins: Sala 1. 21h15 (exceto sexta-feira)

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