Sexta, 03 Mai 2024

Análise: ???Mama???

Análise: ???Mama???

 

Um contraste absoluto marca a perseguição. Um homem coberto de sangue corre num fundo branco coberto pela neve. A memória que às vezes precisa simplificar a informação para poder facilitar a lembrança.
 
Baseando nesses parâmetros de assimilação é possível reduzir toda a sintaxe a níveis básicos, do mesmo modo que a estética, criando uma dualidade belo/feio sempre em tons realistas.
 
Essa mesma memória é perdida e muito tempo depois resgatada e assentida por outra cultura. Mama parte dessa lógica dual, encarnada na figura de um pai recém-desempregado que num acesso de angustia mata a mulher e foge com suas filhas pequenas para a floresta. 
 
Quando crê que tudo está perdido, e disposto a acabar com o sofrimento e toda sua família, depara-se com um ser que habita a casa abandonada onde se refugiam. O ser, logo apelidado de Mama (a estrutura básica de mãe na maioria das línguas) pelas crianças vai cuidar delas, não deixando que ninguém aproxime ou cause dano. 
 
Após anos de procura as crianças são enfim encontradas e sob a custodia do tio Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) e sua mulher Annabel (Jessica Chastain) vão tentar se adaptar à nova condição, tendo para isso que lembrar das poucas regras sociais que ainda lhes restam.
 


Recuperando a lógica do bom selvagem o filme discute esse conceito de bondade através da aparição dessa força sobrenatural que reivindica o papel de mãe das meninas. A memória que guardam da civilidade ressurge quando conseguem contrapor a moral social com a natural com a qual viviam desde então.
 
O filme cria um suspense contínuo e onipresente que às vezes se manifesta mas em grande parte está em potência e por isso ganha mais força e materialidade na imaginação. 
 
Enquanto aposta na subjetividade e num medo ontológico o filme alcança várias qualidades pouco comuns em filmes de suspense e terror, mas se desfaz gradualmente na medida em que as crianças entram para a lógica social adquirindo assim uma necessidade de visualização cada vez maior. 
 
Dessa forma a natureza subestimada necessita fazer algo para recuperar seu espaço. Mas não seria justamente esse o papel natural dos fenômenos, nunca mostrar sua forma, presente só na virtualidade da memória?
 
O diretor estreante Andrés Muschietti parece ter muita afinidade estética com o produtor Guillermo Del Toro, pois retoma a fantasia infantil somada ao terror, menos visível que o aclamado filme de Guillermo, O Labirinto de Fauno (2006). Colocando a infância no seu devido lugar passa a dialogar somente com problemas adultos e ocasionalmente na interferência destes na infância (alheia e remota). 
 
A estética do plug-in sempre presente embeleza todas as imagens sombrias que já não causam medo por feias, mas pela violência contida no ato de romper a lógica social, mesmo que para isso seja necessário entrar no mesmo padrão estético.
 
Serviço
Mama (Mama, Canadá/Espanha, 2013, 100 minutos, 14 anos) 
 
Cinemark - Shopping Vitória: Sala 3. 20h.

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