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As medidas silenciadoras contra a cultura da Rua Sete de Setembro

Ao longo deste ano, é notável que a movimentação cultural realizada nas ruas do Centro de Vitória tem diminuído consideravelmente. Não só festas de grupos e coletivos, mas atividades tradicionais como samba, em específico na famosa Rua Sete de Setembro (foto acima), estão cada vez menos visíveis. O que acontece é que já faz certo tempo que artistas e produtores culturais do Centro de Vitória não conseguem mais alvarás para realização de seus eventos – e quando conseguem, o Disk Silêncio bate à porta.

O Presidente da Associação Cultural Capixaba (Cuca), Carlos Rabello, que acompanha a situação ao longo dos últimos anos, detalha o contexto. “Moradores e artistas do Centro não conseguem mais fazer seus eventos por lá.O poder público tem sumido com nossos processos de pedido de licença e, com isso, eventos importantes e tradicionais deixam de ser realizados. Existem ainda uns poucos moradores do Centro que chamam o Disk Silêncio e até a Vigilância Sanitária para interromper todas as atividades. Com isso, todos os bares da Rua Sete estão sendo prejudicados, os artistas estão nesse prejuízo, e tudo que temos realizado de eventos é na base do tapa”, desabafa.

O que Rabello apresenta é uma realidade conflituosa que se concentra bem nas atividades da Rua Sete – caracterizada ao longo da história do Centro como um espaço boêmio de samba, bares, shows, saraus, literatura, entre muitas outras manifestações culturais – que agora estão sendo ‘esmagadas’ pela Prefeitura de Vitória e Ministério Público Estadual (MPES), como explica abaixo a diretora jurídica da Associação de Moradores do Centro de Vitória, Cristiane Martins do Canto.

“Estou acompanhado o que tem acontecido para que tantos eventos na Rua Sete sejam impedidos de serem realizados não só pela recusa de alvará, mas pelo Disk Silêncio. A informação que temos, dada pelo promotor de justiça Marcelo Lemos, é que um grupo pequeno de moradores do Centro fizeram, e fazem, reclamações relatando problemas com som alto, bares com barulho e tráfico de drogas. Até então, não conseguimos acesso a nenhum desses processos. E, por conta dessas reclamações, foi instaurado um inquérito que coloca como réu a Prefeitura em negligência de acompanhamento dessas festas e rotina de bares”, explica Cristiane Martins.

De acordo ainda com Cristiane, a Prefeitura realizou duas medidas em relação a essas situações. A primeira delas foi a promoção de algumas ações de conscientização com os bares da Rua Sete. Contudo, em conjunto disso, a própria Prefeitura passou a dificultar a entrega de alvarás para a realização de eventos no local. “Tivemos o caso de uma produtora cultural que tentou fazer um show em parceria com um bar da Rua Sete. Contudo, a emissão de alvará dela sequer foi analisada e já foi impedida de realização. O que vemos é uma conduta autoritária da Prefeitura”, acrescenta Cristiane.

Rozilene de Sá, ativista cultural e, antes de tudo, moradora do Centro de Vitória, envolvida nas manifestações do samba, relatou situações em que festas tradicionais, inclusive sem caixas de som, foram interrompidas pelo Disk Silêncio por conta das denúncias desses três ou quatro moradores do Centro que acionam o serviço. “Estamos realmente sendo proibidos de realizar eventos de grande importância para o samba local. A Rua Sete é repleta de pontos tradicionais de samba, uma característica do lugar, que agora não pode mais manter essas tradições – a exemplo do Bar do Gege, que promove uma roda de samba à base da voz e violão e que, todas as vezes em que é realizada, o Disk Silêncio é acionado”, critica.

Cristiane Martins pontua que é possível saber mais ou menos a quantidade desses moradores que acionam o Disk Silêncio, em média quatro pessoas, devido aos pontos onde geralmente as festas e bares recebem as reclamações. O que ela apresenta é que não há intenção por parte da Associação de Moradores em realizar festas sem fiscalização, mas sim que é possível o diálogos com essas pessoas – e com a Prefeitura e o Ministério Público – para que tudo seja realizado sem prejudicar moradores e as atividade da Rua Sete e do Centro de Vitória.

“O interesse da Associação de Moradores é ter ciência desses processos de denúncia e usar isso para conciliar as coisas – o que não está sendo permitido, visto que não consigo ter acesso às acusações. É a partir desse acesso que podemos iniciar os diálogos com esses moradores para mediar essa situação”, reitera Cristiane. E para complicar mais a situação, ela conta ter tido ciência de um acordo entre o Ministério Público e a Prefeitura acerca de medidas mais rígidas que podem dificultar de vez as manifestações culturais na Rua Sete.

Em prol de discutir e se manifestar contra a falta de diálogo e o silenciamento ao evento, além das medidas higienistas aplicadas na Rua Sete, sambistas, ativistas culturais e moradores do Centro de Vitoria se reúnem neste sábado (27), no calçadão da Rua Sete. A proposta é levar instrumentos, cadeiras e ocupar o local com música, artes e discussões.  

Serviço

O Samba de Resistência tem realização neste sábado (27), a partir das 13h, no Calçadão da Rua Sete, no Centro de Vitória.

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