Sexta, 03 Mai 2024

Cantoras capixabas homenageiam Clara Nunes

Cantoras capixabas homenageiam Clara Nunes

 

Clara Nunes fez um retrato do Brasil com voz, repertório e o sincretismo religioso, que permeou toda a sua vida. Agora, quem vai representar a originalidade da intérprete mineira será um time de cantoras capixabas que farão um tributo aos 30 anos da morte da artista. O espetáculo musical Clara Nunes - Um Ser de Luz acontece nesta sexta-feira (12) e sábado (13), no Espaço Cultural do Sesi. 
 
Amélia Barrreto, Dennise Pontes e Dorkas Nunes irão interpretar 20 canções marcantes da carreira de Clara Nunes, destacando a obra da artista através de arranjos acompanhados de um conjunto com violão, cavaquinho, contrabaixo, teclados, bateria e percussão. 
 
O jornalista e escritor José Roberto Santos Neves, encarregado da direção artística e do roteiro, promete duas noites que irão atravessar diversos ritmos afro-brasileiros. Além de José Roberto, o músico Roger Bezerra também compõe a equipe técnica como diretor musical. 
 
José Roberto também é pesquisador da MPB e explica que a carreira de Clara Nunes pode ser dividida em três momentos. Desde o início em 1966 até os anos 1970, a intérprete se dedicou aos boleros e sambas-canções. “Clara estava sendo lançada pela gravadora Odeon, que a forçou a adotar uma imagem romântica. Foi só com o segundo disco e o sucesso Você Passa e Eu Acho Graça, que ela começou a despontar e se aproximar do samba de raiz”, conta o escritor. 
 


No começo da década de 70, a cantora começou a associar sua música e sua imagem, o cabelo e o vestuário, à cultura afro-brasileira. Nessa época gravou canções de Nelson Cavaquinho, Candeia, João Nogueira e Paulinho da Viola. Em 1975, lançou o álbum Claridade, que se tornou seu maior sucesso, batendo o recorde de vendagem feminina e alavancando o samba-enredo Macunaíma, Herói da Nossa Gente, da Portela, sua escola do coração.
 
Ainda em 1975, Clara se casou com o poeta, compositor e produtor Paulo César Pinheiro e percorreu vários países da Europa em turnê. “Depois do casamento inicia-se uma nova fase na carreira de Clara. Seu marido foi responsável por sofisticar seu repertório, ela passou a cantar Chico Buarque e outros novos compositores. Além do samba também passou a contemplar os ritmos nordestinos como o forró, o frevo e o baião”, diz o pesquisador. 
 
Após viajar para a Angola, Clara Nunes começou a pesquisar as raízes da música africana, referência que se integrou a sua música até sua morte em 1983. “Ela não queria ser rotulada apenas como uma cantora de samba, mas sim como uma cantora de música brasileira. Provavelmente se ela tivesse tempo de conhecer o congo também adoraria o ritmo e com certeza gravaria alguma coisa”, afirma José Roberto. 
 
A intérprete mineira conseguiu se destacar no meio de tantas outras cantoras lançadas nas décadas de 60 e 70 pela sua proximidade com a cultura africana e o sincretismo religioso. José Roberto conta que apesar de ter sido batizada no catolicismo, ela cresceu em uma família espírita, mas só se encontrou de verdade quando entrou em contato com a Umbanda, no período em que morou no Rio de Janeiro. 
 
“Além do seu timbre de voz diferente, Clara tinha um componente político, não partidário, mas sim de engajamento na valorização da cultura brasileira e das origens africanas”, completa o escritor. A cantora foi uma grande representante do samba umbandista, ou religioso, e por ser uma artista extremamente popular e que vendia muitos discos. Ela trouxe o samba para o horário nobre em programas como o Fantástico e o Globo de Ouro. 
 
Hoje, entretanto, José Roberto lamenta que Clara Nunes deixou uma imensa lacuna na música brasileira e ainda não é reconhecida como deveria. Por isso, o festival é uma tentativa de relembrar as canções atemporais e populares de Clara, que foram especialmente escolhidas para combinar com o timbre das cantoras e comporem um repertório variado para o espetáculo.
 
“Os shows vão contemplar aqueles que conheceram e também as novas gerações que ainda não ouviram essa grande artista”, diz.
 
Serviço
Clara Nunes - Um Ser de Luz será apresentado nesta sexta-feira (12), às 21h, e sábado (13), às 20h, no Teatro do Sesi. R. Tupinambás, 242, Jardim da Penha, Vitória. Ingresso: R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira). À venda no teatro, de segunda a sexta, 9h às 18h; sábado a partir das 14h até o horário do evento. Informações: (27) 3334-7300.

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