domingo, novembro 10, 2024
22.9 C
Vitória
domingo, novembro 10, 2024
domingo, novembro 10, 2024

Leia Também:

Carlos Abelhão lança nova obra de poemas

Livro artesanal com ‘art journal’ de Ronald Alves será transformado em posters

Começou despretensiosamente. Durante a quarentena do coronavírus, o poeta Ronald Alves começou a realizar trabalhos de “art journal”, ilustrando os próprios poemas que escrevia no período de isolamento. Depois, pediu para o amigo Carlos Abelhão algumas poesias, sem dizer o motivo. Recebeu o projeto de poemas e contos românticos chamado Memórias de um canceriano, que seria lançado em 2020, mas estava engavetado diante da pandemia.
Carlos Abelhão. Foto: Divulgação

Ronald então selecionou de forma “aleatória” alguns desses versos e uniu a ilustrações e colagens, compondo um livro artesanal que enviou de volta de presente para o amigo, que adorou a surpresa. O resultado agradou tanto que Abelhão decidiu lançar agora o livro com o nome de Poemas selecionados. “A ideia é que cada poema seja uma obra única dentro de um livro único. Nós iremos transformar os poemas e as ilustrações em quadros”, conta Carlos Abelhão. Os quadros resultantes estarão à venda na Thelema, loja colaborativa e espaço cultural no Centro de Vitória.

O lançamento será nesta quinta-feira (20), às 20h, na página de Carlos Abelhão no Facebook, contando com participação de Ronald Alves e também dos escritores Jhon Conceito e Daniela Dias. A publicação do livro ainda contou com produção da Coisas de Ruth, design de Guilene Leonardi, e foto de Fábio Teixeira.

A experiência de Carlos Abelhão com a literatura começa pela música. Primeiro pelas rodas de samba, nas quais era levado por seu pai, que era sambista. “Quando meu pai foi morto no Rio de Janeiro, minha família foi embora para a Bahia e lá passamos um momento muito difícil. Na verdade passamos fome e muitas vezes eu ficava desenhando e escrevendo palavras no chão para esquecer a fome”, conta.

Um dos poemas em “art journal” do livro Poemas Selecionados. Foto: Divulgação

As duras experiências se refletem na poesia de Abelhão, que passa pela crítica social mas não abre mão também do romantismo. Quando veio morar no Espírito Santo, se apaixonou pela professora de matemática na escola e tinha um diário no qual escrevia versos para ela. “Um dia um dos meus colegas pegaram meu diário e mostrou para a professora. Eu fiquei morrendo de vergonha. A professora me chamou para conversar e falou que eu tinha muito talento e que escrevia muito bem”.

O episódio, no fim das contas, não teve resultado motivador. Depois dele parou de escrever por um bom tempo. E foi por meio da música novamente que a literatura voltou a pulsar no jovem, dessa vez por meio do rap. O marco foi quando escutou a canção Soldado Morto, de MV Bill, em 2013. “Eu me encantei com aquela forma de cantar, de contar história, parecia com tudo que eu estava vivendo. A partir desse momento eu descobri o hip hop, comecei a fazer algumas oficinas e descobrir no hip hop um pai, um irmão, um caminho a seguir”.

Foi aí que montou um grupo com amigos e seguiu compondo e cantando. “O hip hop deu base para minha vida, para minha literatura, me fez olhar para mim mesmo e se descobrir um homem negro sensível, que podia chorar e fazer das dores do mundo poesia”.

Assim, Carlos Abelhão voltou a escrever, tendo lançado em 2013 o livro de poesia marginal Um tudo do meu eu. Ama escrever, escreve em qualquer lugar e a todo momento, conta. “Eu não tenho um processo para escrever. Eu simplesmente escrevo, escrevo para fugir das dores, para fugir de mim mesmo. Escrevo porque sou covarde e não tenho coragem de dizer para o mundo como me sinto”.

Como agitador cultural e social que é, ativista comunitário, sempre circulou pelos espaços, idealizou o Sarau Poetizando e costuma estar presentes em outros saraus e slams apresentado seus escritos. Mas nos últimos meses pandêmicos, tem escrito “em casa ao som do silêncio, acompanhado de um gin e de uma gata chamada Olivia”, conta.

“Eu não tenho um estilo definido, eu sou a mistura de tudo. Se eu fosse definir meu estilo, seria como uma receita gastronômica; eu pegaria Neoclassicismo, Romantismo, Realismo, Simbolismo, Parnasianismo, Pré-modernismo, Modernismo e misturaria com duas pitadas de favela e uma dose de amor. Pronto tá aí o meu estilo!”, ri o escritor.

Mais Lidas