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De carona

 
A câmera passeia pelo corredor do ônibus, enquanto o diretor dá os comandos para os figurantes, “quero todo mundo conversando. E você pode fingir que está dormindo”. Os assistentes escondem os equipamentos nas cadeiras e dão os últimos ajustes na câmera antes do ônibus começar a andar. A locação escolhida para 23º dia de gravação do longa-metragem Entreturnos é o interior de um transporte coletivo, um dos cenários mais importantes do filme do diretor Edson Ferreira.
 
“Estamos acostumados a filmar em locações com toda uma estrutura montada e aqui é tudo diferente, porque estamos em movimento”, diz Edson. O balanço do ônibus é uma das maiores dificuldades para o câmera, que amarra o equipamento no corrimão de cima da condução em busca de maior estabilidade. 
 
As filmagens são acompanhadas do barulho intenso do trânsito, freadas, arrancadas, buzinas, tudo contribuindo ou atrapalhando para a captação do áudio. 
 
Morador de Vitória, da região de Santo Antônio, Edson conta que a ideia para o filme surgiu quando ele passou a observar o cotidiano das pessoas que andam de ônibus, uma realidade que também faz parte da sua vida. “Comecei a prestar atenção nos tipos que frequentam o transporte coletivo, o vendedor de bala, os estudantes e principalmente o trocador e o motorista, que protagonizam minha história”, diz o diretor. 
 
Mas o filme não é só ambientado no ônibus. Há outros cenários como o Bar da Leia, onde se desenvolve um triângulo amoroso. O trocador, Beto (Paulo Roque), mesmo sendo casado, apaixona-se por Leia (Lorena Lima). Para completar a terceira ponta do triângulo, Valcir (Luis Miranda), uma amigo de Leia, volta da Bahia e passa trabalhar no bar.
 
O romance resulta em uma gravidez e na dúvida da paternidade. “Descobrir quem é o pai é o menos importante, o foco é nessa relação que se criou entre os três, essa família inusitada”, explica.
 
 
Com um elenco de peso, Edson confessa que quando cria um personagem, sempre pensa primeiro no ator, mesmo sem a certeza se ele irá participar. Os papéis de Beto e Leia foram feitos para os atores e amigos do diretor, Paulo Roque e Lorena Lima. Já a escolha de Luis Miranda, que já trabalhou no seriado global A Grande Família, para interpretar o baiano Valcir, partiu de uma grande admiração do diretor pelo artista. 
 
“Já tinha tempo que queria trabalhar com ele, então quando ele veio a Vitória apresentar uma peça, fui até o barzinho onde ele estava e entreguei o roteiro para ele”, conta Edson.
 
Com os outros atores, o contato foi pelo Facebook, como a Janaína Kremer, de O Homem que Copiava (2003), que faz a esposa do Beto, e Milhem Cortaz, ator de Tropa de Elite (2003), que interpreta um ex-presidiário e suposto marido de Leia. “A princípio ele não queria fazer o personagem, disse que só iria participar do filme se o roteiro fosse muito bom”, lembra o diretor. “Felizmente ele achou o roteiro ótimo e aceitou o convite”.
 
O filme lança um olhar diferente para a periferia, que segundo Edson é geralmente estereotipada com personagens fracos. “O trocador de ônibus, pessoas que trabalham em bar, ex-presidiários são geralmente pessoas esquecidas, mas são personagens riquíssimos, cheios de histórias para contar”. 
 
Entreturnos busca retratar de maneira realista e contemporânea o cotidiano da periferia capixaba, “a única coisa que é fictícia é o nome do bairro, onde se passa a história, chamado Desperança”, comenta.
 
 
Realizado com recursos do edital de longa-metragem da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), o lançamento de Entreturnos está previsto para o início de 2013. A Secult concedeu R$ 500 mil para a concretização do filme, a produção ficou por conta da Patuléia Filme, a mesma que produziu As Horas Vulgares, dos diretores Vitor Graize e Rodrigo Oliveira.
 
Apesar dos editais incentivarem a produção cinematográfica capixaba, o orçamento oferecido ainda é muito baixo, sendo menos da metade do capital mínimo para a realização de um longa. 
 
“Há poucos profissionais qualificados no estado e precisamos buscar técnicos de fora, o que gera uma troca de experiências legal, mas encarece o trabalho. Além disso, o orçamento sempre estoura e precisamos buscar patrocinadores de fora”, aponta.

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