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Documentário #VivaRegência apresenta recorte sobre cultura, desastre ambiental e a visão dos moradores

Foi numa incursão de três dias que o jovem Marcos Azeredo (foto ao lado) realizou a gravação das entrevistas do documentário #VivaRegência – um registro audiovisual curto e objetivo que se propunha a retratar a Vila de Regência, distrito de Linhares, após a chegada da lama no rio Doce e no mar que banha o vilarejo. No início o documentário explica como os nativos da Vila, marcada por uma forte cultura religiosa, estão encarando os problemas causados pela tragédia, que afetam diretamente a economia local – prioritariamente voltada à subsistência em torno da pesca e do turismo.

É Maria Conceição, uma senhora envolvida com o Congo de Regência, especificamente Mestre de Congo, que norteia sobre a visão de alguns moradores sobre o momento que a Vila vive. Na primeira cena do documentário, Dona Conceição conversa despretensiosamente com o irmão, sem saber ao certo que a gravação está em curso. Azeredo pergunta se ela já se inscreveu para receber um cartão-benefício voltado aos moradores da Vila, no que Conceição demonstra não estar sabendo de nada e, além disso, mostra que aquilo tudo é bastando complicado para ela.

Formada por muitos moradores mais velhos, a Vila de Regência é uma comunidade muito unida e forte em suas manifestações culturais – referência em festas de Congo, como a Festa de Caboclo Bernardo. Foi, aliás, nessa festa, na edição de junho de 2015, antes do desastre ambiental da lama da Samarco/Vale/BHP, que o então estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade de Vila Velha (UVV), iniciou a gravação das imagens de apoio do documentário – que inicialmente iria tratar a questão da instalação do chamado Porto Manabi na região, destacando os impactos ambientais que isso traria para Regência.

“A minha ideia era registrar um lado mais ambiental da Vila na Festa do Caboclo Bernardo para depois voltar e realizar as entrevistas. Minha abordagem seriam sobre os possíveis problemas para a comunidade e o ambiente caso o porto fosse instalado. Contudo, aconteceu o acidente da lama da Samarco e eu mudei o foco completamente. Quando voltei para realizar as entrevistas, a lama já havia chegado e foi impossível passar despercebido por isso”, recorda Marcos Azeredo.

Foi em março de 2016 que ele retornou à Vila de Regência em busca de figuras representativas do local – inspirado no modo de fazer entrevistas do cineasta Eduardo Coutinho, que partia para entrevistas de seus documentários sem definir antes quais seriam suas fontes, a proposta era que o próprio local o levasse a encontrar as pessoas certas e representativas.

“Cheguei, fui à Associação de Moradores e pedi para me indicarem nomes de moradores envolvidos diretamente no Congo. Foi assim que cheguei à Maria Conceição (foto acima, à esq.). Quando terminei a entrevista ela perguntou-me: 'E agora, você vai falar com quem?'. Recebi então a indicação para conversar com um pescador. Na verdade, ela levou-me a três pescadores, dois deles não se dispuseram a falar por estarem diretamente ligados a algum trabalho para a Samarco. Mas o terceiro, o José Sabino (foto acima, à dir.), aceitou falar, mesmo trabalhando para a empresa”, conta Azeredo.

A percepção de Marcos é que a comunidade é muito unida e procura se ajudar sempre, vivendo numa lógica distante dessas das grandes cidades onde as coisas são mais rápidas, corriqueiras e de relações pouco estreitas. Há uma parte do documentário em que o pescador José Sabino fala, inclusive, sobre gostar de viver numa comunidade distante das coisas, calma, e que percebe bem quando chegam visitantes lá para as festas dos finais de semana. “Eu não gosto de divulgar muito a Vila de Regência, para não migrar muito gente para cá. Seu eu puder esconder um pouco, escondo […] Aqui só tem uma saída para Linhares, então é complicado para as coisas ruins chegarem”, arremata José Sabino.  

E mesmo com esse discurso, que parece bem comum aos moradores mais antigos, sobre ser uma Vila muito pacata e longe dos problemas da cidade, a Vila de Regência enfrenta hoje seu maior desastre ambiental, sem perspectivas de melhoras a curto prazo.  Ainda assim seu povo se mostra forte e determinado a continuar a vida por lá – o que não descarta o apoio de outras comunidades e cidades para ajudar e dar visibilidade ao desastre, além de ajudar o turismo, a cultura e a economia local a se estabilizar novamente.

Além de Dona Conceição e José Sabino, Marcos Azeredo entrevista outras fontes, apresenta imagens do rio Doce, da Festa do Caboclo Bernardo e mostra um pouco da realidade atual na Vila. O documentário #VivaRegência entra agora na fase de divulgação e de circuitos em festivais de cinema. A proposta é que em breve Marcos Azeredo retorne à Vila para realizar uma apresentação da obra aos moradores, no intuito de empoderá-los acerca da importância da preservação dos seus valores e cultura. Após a fase de divulgação, Marcos planeja liberar o #VivaRegência na internet.

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