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Grupo quer projeto de lei em defesa dos mestres de cultura popular

Abaixo-assinado defende o PL Legado Capixaba, com reconhecimento, auxílio financeiro e suporte para projetos

Um abaixo-assinado foi lançado buscando unir forças em torno de uma proposta de criação de um projeto de lei para reconhecimento e valorização de mestres da cultura popular de todo Espírito Santo. A iniciativa vem do grupo chamado PL Legado Capixaba, surgido a partir da articulação capixaba em torno da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc.

“Estamos vivendo um apagamento cultural articulado. Muitas das comunidades onde estão esses mestres são regiões em locais estratégicos em termos de exploração de recurso natural, onde pessoas estão sofrendo com miséria e violência por conta de conflitos por terra e minérios”, diz o artista Thiago Araújo, um dos responsáveis pela elaboração do projeto.

Foi escrita uma proposta do PL Legado Capixaba inspirada nos conceitos e proposições apresentados a nível nacional pela Lei Cultura Viva para os mestres. A intenção é que o Programa Emergencial de Proteção e Promoção dos Mestres, Mestras e Detentores dos Legados de Saberes e Fazeres das Culturas Populares Capixabas” possa ser adotado tanto a nível municipal quanto estadual no Espírito Santo.

Entre as propostas está o reconhecimento pelo Estado desses mestres com diplomação, auxílio financeiro para manutenção e fomento de suas atividades, suporte para realização de oficinas e cursos, e elaboração e gestão de projetos culturais.

Jonas Balbino, integrante do Baile de Congo de São Benedito (Ticumbi), de Conceição da Barra, norte do Estado, recentemente selecionado pelo Prêmio Mestre Armojo do Folclore Capixaba, critica o pouco reconhecimento dos mestres pelas instituições do Estado. “Para chegar na qualidade de mestre, a pessoas demoram um bom tempo. E depois de tanto tempo trabalhando pela cultura popular, há pouco ou nenhum reconhecimento. Enfrentam os desgastes do dia a dia, fazem o trabalho árduo de transmitir os ensinamentos, passando saberes de pai para filho.

O caso do Ticumbi, manifestação que só existe no norte do Espírito Santo, Jonas explicita como o fator econômico e social refletem na destruição do patrimônio imaterial e da cultura popular. Dos vários ticumbis que existiam, hoje restam apenas três ativos. “As pequenas propriedades dos quilombos foram tomados pelo eucalipto”, conta mencionando o grande êxodo rural e a transformação das lógicas do fazer cultural das comunidades. Necessitaram construir galpões para os ensaios e os brincantes que antes saíam pela terras das comunidades, hoje precisam de um ônibus para buscar os integrantes dos grupos nas várias comunidades, muitos deles idosos.

Mestre Berto Florentino e o Mestre Emérito Tertolino Balbino. Foto: Leonardo Sá

Jonas é filho de um dos grandes mestres da cultura popular capixaba, Tertolino Balbino, o Mestre Terto, que comandou o Ticumbi de São Benedito por mais de seis décadas. Aos 86 anos de idade, ele ainda acompanha os festejos e passa adiante os ensinamentos aprendidos desde a infância, embora tenha transmitido a função a Berto Florentino, devido a problemas de vista, sendo hoje um mestre emérito. Jonas conta que a preparação dos festejos dura o ano todo, mas o apoio do poder público é muito pouco.

Uma das restritas políticas existentes, o prêmio Mestre Armojo deste ano, que seleciona por meio de edital, premiou 13 mestres e sete grupos de cultura popular do Espírito Santo, que receberam cada um R$ 10 mil reais. “É o edital da Secult que dedica menos recursos. É quase irrisório”, lamenta Thiago Araújo, que estima que a lei poderia contemplar mais de 1.500 mestres de grupos culturais e fazeres artísticos no Estado.

“O poder público, de modo geral, tem uma visão diferente. Tem que entender a questão da transmissão do saber tradicional. Sem essa transmissão a gente perde completamente a cultura”, aponta Jonas Balbino.

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