Mobilização busca dar visibilidade às mulheres escritoras do Estado
No Século XVII, uma jovem chamada Maria Ortiz comandou uma mobilização de expulsão de invasores holandeses na Ladeira do Pelourinho, na vila de Nossa Senhora da Vitória, entrando na história por ser algo que uma mulher não podia ser: corajosa. Quatro séculos depois, a Ladeira do Pelourinho agora é Escadaria Maria Ortiz, a vila de Nossa Senhora da Vitória é apenas Vitória, capital do Espírito Santo, mas nesse mesmo lugar em que os holandeses foram expulsos, um grupo de mulheres se reuniu para mostrar que podem ser algo que muitos em nossa sociedade ainda acreditam que não: escritoras.
Esse encontro de cerca de 70 mulheres escritoras, no qual foi tirada uma foto com todas elas, aconteceu nesse domingo (12), por meio de uma mobilização que começou em São Paulo e acabou motivando grupos de todo o Brasil, ocorrendo em 20 cidades brasileiras. Extrapolou as fronteiras e foi realizada também na Alemanha, Inglaterra e Portugal. No Espírito Santo, a iniciativa foi organizada pelo Leia Mulheres, um coletivo de leitura de obras de autoria feminina, cujas atividades acontecem mensalmente no Sesc Glória, no Centro da Capital.
A integrante do Leia Mulheres, Taiga Scaramussa, explica que a ideia da foto na Escadaria Maria Ortiz é "mostrar que elas estão produzindo, estão no mercado editorial", uma vez que, embora as mulheres tenham conquistado espaços, como na própria literatura, ainda existem obstáculos a serem superados, como a baixa participação nas academias de letras, o menor índice de reconhecimento nos prêmios literários de maior prestígio, e, até mesmo, a crença no fato de que mulheres escrevem assuntos considerados como tipicamente femininos pela sociedade machista, como amor, casamento e família.Suely destaca a presença de mulheres negras na literatura, salientando que, no Brasil, estão presentes nela desde o Século XIX, quando, em 1859, ocorreu a publicação de Úrsula, primeiro romance publicado por uma mulher negra, a professora abolicionista do Maranhão Maria Firmina dos Reis. De lá para cá, aponta, outras se destacaram também, como Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo. No Espírito Santo, ela cita nomes como Elisa Lucinda e Vera Viana. "Somos muitas já, é importante sair do lugar de invisibilidade, trazer nossa visão, nosso olhar sobre nós mesmas", ressalta.
O encontro na Escadaria Maria Ortiz também atraiu mulheres do interior, como Maria das Graças Gozzer, Bárbara Gozzer Machado e Amélia Schultz Zager, de Santa Maria de Jetibá, região serrana. Maria das Graças acredita que foi uma forma de "mostrar a diversidade na voz das mulheres, com escritoras de todas as cores, tipos de cabelo, de todas as vozes". Como moradora da região de montanha, ela afirma ter sido importante entrar em contato com escritoras de outras culturas dentro de seu próprio Estado.Academias de letras
A Academia Espírito-Santense de Letras foi fundada em 1921, mas somente em 1981 uma mulher, que foi Judith Leão Castello Ribeiro, passou a integrar esse espaço, até então totalmente masculino. Prestes a fazer 101 anos em julho próximo, foi presidida por uma mulher pela primeira vez somente em 2002, quando a escritora Maria Helena Teixeira assumiu a gestão, que terminou em 2004.Veja mais notícias sobre Cultura.
Comentários: