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‘Política estadual de preservação do patrimônio é frágil’

Arquiteto Genildo Coelho fala sobre planos de novo instituto do patrimônio cultural no sul do Estado

O Instituto de Preservação do Patrimônio Cultural Ádapo foi lançado neste mês de dezembro, em Marataízes, no sul do Estado, cidade que será a sede da nova organização sem fins lucrativos. O objetivo de seus associados é realizar ações direcionadas a salvaguardar o patrimônio material e imaterial, sobretudo nos municípios sul-capixabas.

“O Instituto Ádapo [‘aliança’ e ‘união’, em iorubá] surge da necessidade de preservação da cultura como um todo. Na nossa região, já temos organizações importantes, como a Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, da qual eu faço parte, mas que é mais voltada para um segmento específico”, explica o arquiteto e urbanista Genildo Coelho, um dos integrantes da organização.
 

Os associados incluem profissionais de diferentes segmentos, e que desenvolvem projetos conjuntos na área cultural há vários, o que inclui, além de Genildo: Maria Elvira Tavares, escritora, psicopedagoga e contadora de histórias; Diego Scarparo, ilustrador e diretor cinematográfico; Luan Faitanin Volpato, publicitário, fotógrafo e designer gráfico; Maria Laurinda Adão, mestra de caxambu reconhecida como patrimônio imaterial; Fátima Buzatto Moura, turismóloga e produtora cultural; e Rosinez Machado Lima, assistente social e líder comunitária.

Luan Volpato

Genildo Coelho afirma que a principal meta de 2024 é organizar juridicamente a entidade, antes de pensar em qualquer projeto, mas já adianta como pretendem atuar. Na parte de patrimônio material, a intenção é elaborar projetos para a manutenção e recuperação de edificações históricas. No quesito patrimônio imaterial, a intenção é viabilizar recursos para eventos tradicionais, além de providenciar o registro em fotos e vídeos desses eventos.

A proposta é também entrar no debate sobre políticas públicas para a área. “A política estadual de preservação do patrimônio é frágil, porque só está baseada no financiamento, principalmente em editais. O Espírito Santo é um dos poucos estados brasileiros que não têm um instituto de preservação”, critica.

Ele cita como exemplo a tradicional festa Raiar da Liberdade, realizada há 135 anos na comunidade Quilombola de Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim. Apesar da importância e longevidade, todo ano os organizadores precisam correr atrás de editais e leis de incentivo. “Edital é insuficiente, tem que haver reconhecimento e recurso anual garantido no orçamento do governo”, comenta.

Luan Volpato

O arquiteto critica ainda a tendência de se pensar as ações direcionadas ao patrimônio histórico apenas em termos de recuperação, e não manutenção. “É preciso fazer intervenções nos edifícios logo nos primeiros sinais, quando começa a dar goteira. A restauração do Teatro Carlos Gomes (de Vitória), por exemplo, está custando R$ 20 milhões. Se não tivesse ficado tanto tempo fechado, talvez não fosse necessário todo esse investimento”, argumenta.

Demandas

O integrante do Instituto Ádapo afirma que há metas ambiciosas de expandir suas atividades para o Espírito Santo como um todo e até para outros lugares de fora. Apesar disso, ele enumera algumas demandas específicas da região sul que necessitam de intervenções relacionadas à preservação patrimonial.

Uma delas diz respeito ao município de Muqui, que, apesar de compor o maior sítio histórico do Espírito Santo, ainda não possui um Plano Diretor Municipal (PDM) e nem arquitetos e urbanistas dedicados à questão patrimonial na gestão pública. Já Mimoso do Sul, cidade vizinha, possui PDM, mas o entorno do sítio histórico de São Pedro de Itabapoana, distrito de Mimoso, tem sofrido descaracterizações.

Genildo cita, ainda, festas e manifestações populares importantes, como Folia de Reis e Bate Flechas, que ainda não foram contempladas com políticas públicas adequadas. “Que ações e que legislações precisamos fazer para dar conta dessas demandas? É nisso que pretendemos focar nossos esforços”, completa. 

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