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Sílvio Romero: ‘A poesia de Cruz e Sousa é a de um triste, mas um triste rebelado’

O SIMBOLISMO NO MUNDO E NO BRASIL
 
Em 1893, no cenário da literatura e poesia feita no Brasil, a produção escrita do dito mármore neo-helênico do Parnasianismo teve uma fissura, pois surgia o Simbolismo quebrando a barreira fria e gélida do movimento literário parnasiano. Pois, além de o Simbolismo retornar com alguns temas caros ao Romantismo, como a alma trágica, trazia também um ar novo em que a dor comum na poesia ganhava contornos de um existencialismo mais filosófico, místico e abstrato, do que as dores cantadas de amor da veia original romântica.
 
Na França, o habitat de origem do movimento poético intitulado Simbolismo, este surgiu num cenário de reação ao domínio literário tanto do Realismo como do Naturalismo, e se chocando frontalmente com o Parnasianismo. Tal Simbolismo tem como ponto inaugural a obra Flores do Mal de Charles Baudelaire, em torno de 1857, encontrando naturalmente forte resistência do status literário da época, como é comum em toda transição, geralmente com fissuras e pequenos traumas para abrir um novo espaço de inspiração, que no caso do Simbolismo trazia como renovação a contribuição do inconsciente na criação literária, com fontes no misticismo e no esoterismo, num movimento que ia de encontro ao cientificismo e ao materialismo, com uma carga de poesia subjetivista e sensorial, por muitas vezes sinestésica.
 
No Brasil, o Simbolismo produziu poetas como Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, mas foi um movimento que no Brasil se encontrou emparedado entre um prolongamento artificial do domínio literário parnasiano e um neoparnasianismo que surgiu posteriormente absorvendo rapidamente a incipiente poesia simbolista nacional. E o Simbolismo tem recebido só ultimamente o devido reconhecimento como movimento independente, pois na época em que tais fenômenos se deram, quem recebeu os louros e a pompa foi o forte status neoparnasiano, sucesso de crítica e de público, e a chance que o Simbolismo supostamente encontraria com o declínio deste domínio neoparnasiano foi barrado novamente com a ascensão modernista e sua rejeição automática do Simbolismo por estes poetas modernos.
 
O Simbolismo, por sua vez, só teve sorte melhor na Europa e em alguns países da América Latina.  Por fim, dentro da perspectiva já histórica do movimento simbolista brasileiro temos como grande representante desta escola literária o poeta Cruz e Sousa mais do que outros, este que surgiu como um poeta infenso à sintaxe tradicional portuguesa, e que fez, então, uso em suas obras das conquistas estilísticas da escola francesa.
 
CRUZ E SOUSA, INFLUÊNCIAS E QUESTÕES
 
Na poesia de Cruz e Sousa temos uma mistura de um satanismo herdado de Baudelaire com o ceticismo melancólico de Antero de Quental, e que então se ergueu como uma poesia de dor, de uma alma insatisfeita e com sofrimento biográfico e não só abstrato, que explodia como uma forma de imprecação e sacudidelas alucinantes, seja na condição de negro como mesmo de poeta, juntando a sua questão da vida em si com a da cor que lhe fechava muitos caminhos. Cruz e Sousa que era então um poeta negro em época hoje remota para nós contemporâneos que ainda, infelizmente, presenciamos os caminhos tortuosos que enfrenta a questão da cor, isto é, da condição do negro na sociedade brasileira. Como nos diz Sílvio Romero: “a poesia de Cruz e Sousa é a de um triste, mas um triste rebelado; é o pessimismo, última flor da civilização humana”.
 
Em relação à aventada obsessão do poeta Cruz e Sousa com a cor branca, e que seria analisada forçosamente como um movimento psicológico do poeta de recusar sua origem africana, há muitas controvérsias, pois muitas vezes se tomou como exemplo desta tese, em certa proporção, estapafúrdia, o poema Antífona como prova desta citação obsessiva do poeta da cor branca, e que nunca representou todo o conjunto de sua obra. Mesmo que outros poemas ainda citassem a cor branca, é levantada a questão de que tal fenômeno não seja reduzido à questão da pele, mas a uma concepção mais geral do branco como cor universal do espectro físico luminoso.
 
Pois, para refutar a negação da cor negra em favor da cor branca na poesia de Cruz e Sousa, não faltam exemplos, e o primeiro que podemos levantar é o poema Meu Filho, que descreve a alegria do poeta com seu filho, de um lado, e o pavor do futuro da criança, de outro, num mundo terrível para os negros. O tema do negro, portanto, se citarmos mais exemplos deste tema na poesia de Cruz e Sousa, nos aparece também em poemas como Acrobata da Dor, Canção Negra, Crianças Negras, Rir, Escravocratas e vários outros.  
 
POEMAS
 
MEU FILHO: O poema começa como um doce acalanto do poeta com seu filho, aqui temos a mistura da ternura com o medo, eis: “Ah! quanto sentimento! ah! quanto sentimento!/Sob a guarda piedosa e muda das Esferas/Dorme, calmo, embalado pela voz do vento,“ (…) “Ao mesmo tempo suave e ao mesmo tempo estranho/O aspecto do meu filho assim meigo dormindo …”. Os sintomas da angústia existencial e de um contexto social hostil logo aparecem, no que temos: “Minh`alma fica presa e se debate ansiosa,/Em vão soluça e clama, eternamente presa/No segredo fatal dessa flor caprichosa,/Do meu filho, a dormir, na paz da Natureza.” (…) “Dar-lhe eu beijos, apenas, dar-lhe, apenas, beijos,/Carinho dar-lhe sempre, efêmeros, aéreos./O que vale tudo isso para outros desejos,/O que vale tudo isso para outros mistérios?!”. A face cruel do mundo perturba a imagem da paz celeste de uma criança no berço, pois temos o poeta diante de um futuro nebuloso para si e para os seus, no que o poema segue, com viva reflexão e dor: “O que vale esse amor, todo esse amor veemente?!” (…) “Quando as garras cruéis e horríveis da Desgraça,/De sadio que ele é, fazem-no fraco e enfermo?!” (…) “Por que tantas prisões, por que tantas cadeias/Quando a alma quer voar nos páramos liberta?/Ah! Céus! Quem me revela essas Origens cheias/De tanto desespero e tanta luz incerta!” (…) “Quem descobre, afinal, as causas do que eu penso,/As causas do que eu sofro, as causas do que eu gemo!” (…) “Ah! Vida! Vida! Incendiada tragédia,/Transfigurado Horror, Sonho transfigurado,/Macabras contorções de lúgubre comédia/Que um cérebro de louco houvesse imaginado!”. O poema clama e lamenta, um grito lancinante ecoa em todos estes versos de fundo estético e frente de batalha de um poeta dorido: “Vendo-o no berço assim, sinto muda agonia,/Um misto de ansiedade, um misto de tortura” (…) “E sinto sede intensa e intensa febre, tanto,/Tanto Azul, tanto abismo atroz que me deslumbra.” (…) “Tu não sabes, jamais, tu nada sabes, filho,/Do tormentoso Horror, tu nada sabes, nada …/O teu caminho é claro, é matinal de brilho,/Não conheces a sombra e os golpes da emboscada./Nesse ambiente de amor onde dormes teu sono/Não sentes nem sequer o mais ligeiro espetro …/Mas, ah! eu vejo bem, sinistra, sobre o trono,/A Dor, a eterna Dor, agitando o seu cetro!”. A paz do sono e da inocência não sabe do próprio destino, e o pai e poeta bem o sabe, e lamenta a  vida de sonhos vãos e de humilhado como ele foi e como seu filho também seria.
 
CANÇÃO NEGRA: O poema começa com a fúria da boca de um mendigo, em alegorias que se metamorfoseiam em cada estrofe, temos: “Ó boca em tromba retorcida/Cuspindo injúrias para o Céu,/Aberta e pútrida ferida/Em tudo pondo igual labéu./Ó boca em chamas, boca em chamas,/Da mais sinistra e negra voz,/Que clamas, clamas, clamas, clamas/Num cataclismo estranho, atroz.” (…) “Ó boca de uivos e pedradas,/Visão histérica do Mal,/Cortando com mil facadas/Dum golpe só, transcendental./Sublime boca sem pecado,/Cuspindo embora a lama e o pus,/Tudo a deixar transfigurado,/O lodo a transformar em luz./Boca de ventos inclementes/De universais revoluções,/Alevantando as hostes quentes,/Os sanguinários batalhões.”. A boca em chamas e a boca fazendo universais revoluções, e o poeta descrevendo numa espécie de febre delirante de poeta estas cenas em que a luz do amor luta como fonte de combate e que se retorce em dores: “Boca fatal de torvos trenos!/Da onipotência do bom Deus/Louvados sejam tais venenos,/Purificantes como os teus!” (…) “Ó boca ideal de rudes trovas,/Do mais sangrento resplendor,/Vai reflorir todas as covas,/O facho a erguer da luz do Amor.” (…) “Mendigo estranho! Em toda a parte/Vai com teus gritos, com teus ais,” (…) “A terra é mãe! – mas ébria e louca/Tem germens bons e germens vis …/Bendita seja a negra boca/Que tão malditas cousas diz!”. A negra boca da canção negra, que diz coisas malditas, que é gérmen na terra mãe, e que tem todo o poder da onipotência do bom Deus, e que o poema descreve em versos como uma luta louca de fera.
 
TRISTEZA DO INFINITO: O poema está em vida melancólica, os versos são tristes, soturnos, frios, gélidos, o poema sofre e tenta definir o indefinível, esta dor de enigma que é a angústia sem fonte, como uma abstração que rompe a carne e a alma, no entanto: “Anda em mim, soturnamente,/Uma tristeza ociosa,/Sem objetivo, latente,/Vaga, indecisa, medrosa.” (…) “Uma tristeza que eu, mudo,/Fico nela meditando/E meditando, por tudo/E em toda a parte sonhando./Tristeza de não sei de onde,/De não sei quando nem como …”. Tristeza indefinível, que não se sabe de quê sofre, mas sabe que sofre, e o poeta medita tal origem e tal enigma, não fecha equação, sente e não sabe nomear, o poeta então só pode fazer versos disto que não sabe, mas que está em seu coração de modo mais forte até das outras coisas que ele sabe, a dor da ignorância não deixa de ver a verdade da dor em seu sangue e em sua alma, um paradoxo que diz tudo ao coração mas que se apaga para a razão, esta angústia que o poeta luta em vão para decifrar, e eis que o poema segue: “Dessas tristezas incertas,/Esparsas, indefinidas …/Como almas vagas, desertas/No rumo eterno das vidas.” (…) “Dessas tristezas que vagam/Com volúpias tão sombrias/Que as nossas almas alagam/De estranhas melancolias.” (…) “Ah! tristeza imponderável,/Abismo, mistério aflito,/Torturante, formidável …/Ah! Tristeza do Infinito!”. De modo que a coda tenta, ainda diante da terrível dúvida, dar uma definição aberta como o infinito, eis que é a tristeza do infinito.
 
POEMAS
 
MEU FILHO
 
Ah! quanto sentimento! ah! quanto sentimento!
 
Sob a guarda piedosa e muda das Esferas
 
Dorme, calmo, embalado pela voz do vento,
 
Frágil e pequenino e tenro como as heras.
 
 
 
Ao mesmo tempo suave e ao mesmo tempo estranho
 
O aspecto do meu filho assim meigo dormindo …
 
Vem dele tal frescura e tal sonho tamanho
 
Que eu nem mesmo já sei tudo que vou sentindo.
 
 
 
Minh`alma fica presa e se debate ansiosa,
 
Em vão soluça e clama, eternamente presa
 
No segredo fatal dessa flor caprichosa,
 
Do meu filho, a dormir, na paz da Natureza.
 
 
 
Minh`alma se debate e vai gemendo aflita
 
No fundo turbilhão de grandes ânsias mudas:
 
Que esse tão pobre ser, de ternura infinita,
 
Mais tarde irá tragar os venenos de Judas!
 
 
 
Dar-lhe eu beijos, apenas, dar-lhe, apenas, beijos,
 
Carinho dar-lhe sempre, efêmeros, aéreos.
 
O que vale tudo isso para outros desejos,
 
O que vale tudo isso para outros mistérios?!
 
 
 
De sua doce mãe que em prantos o abençoa
 
Com o mais profundo amor, arcangelicamente,
 
De sua doce mãe, tão límpida, tão boa,
 
O que vale esse amor, todo esse amor veemente?!
 
 
 
O longo sacrifício extremo que ela faça,
 
As vigílias sem nome, as orações sem termo,
 
Quando as garras cruéis e horríveis da Desgraça,
 
De sadio que ele é, fazem-no fraco e enfermo?!
 
 
 
Tudo isso, ah! tudo isso, ah! quanto vale tudo isso
 
Se outras preocupações mais fundas me laceram,
 
Se a graça de seu riso e a graça do seu viço
 
São as flores mortais que meu tormento geram?!
 
 
 
Por que tantas prisões, por que tantas cadeias
 
Quando a alma quer voar nos páramos liberta?
 
Ah! Céus! Quem me revela essas Origens cheias
 
De tanto desespero e tanta luz incerta!
 
 
 
Quem me revela, pois, todo o tesouro imenso
 
Desse imenso Aspirar tão entranhado, extremo!
 
Quem descobre, afinal, as causas do que eu penso,
 
As causas do que eu sofro, as causas do que eu gemo!
 
 
 
Pois então hei de ter um afeto profundo,
 
Um grande sentimento, um sentimento insano
 
E hei de vê-lo rolar, nos turbilhões do mundo,
 
Para a vala comum do eterno Desengano?!
 
 
 
Pois esse filho meu que ali no berço dorme,
 
Ele mesmo tão casto e tão sereno e doce
 
Vem para ser na Vida o vão fantasma enorme
 
Das Dilacerações que eu na minh`alma trouxe?!
 
 
 
Ah! Vida! Vida! Incendiada tragédia,
 
Transfigurado Horror, Sonho transfigurado,
 
Macabras contorções de lúgubre comédia
 
Que um cérebro de louco houvesse imaginado!
 
 
 
Meu filho que eu adoro e cubro de carinhos,
 
Que do mundo vilão ternamente defendo
 
Há de mais tarde errar por tremedais e espinhos
 
Sem que o possa acudir no suplício tremendo.
 
 
 
Que eu vagarei por fim nos mundos invisíveis,
 
Nas diluentes visões dos largos Infinitos,
 
Sem nunca mais ouvir os clamores horríveis,
 
A mágoa dos seus ais e os ecos dos seus gritos.
 
 
 
Vendo-o no berço assim, sinto muda agonia,
 
Um misto de ansiedade, um misto de tortura
 
Subo e pairo dos céus na estrelada harmonia
 
E desço e entro do Inferno a fuma hórrida, escura.
 
 
 
E sinto sede intensa e intensa febre, tanto,
 
Tanto Azul, tanto abismo atroz que me deslumbra.
 
Velha saudade ideal, monja de amargo Encanto,
 
Desce por sobre mim sua estranha penumbra.
 
 
 
Tu não sabes, jamais, tu nada sabes, filho,
 
Do tormentoso Horror, tu nada sabes, nada …
 
O teu caminho é claro, é matinal de brilho,
 
Não conheces a sombra e os golpes da emboscada.
 
 
 
Nesse ambiente de amor onde dormes teu sono
 
Não sentes nem sequer o mais ligeiro espetro …
 
Mas, ah! eu vejo bem, sinistra, sobre o trono,
 
A Dor, a eterna Dor, agitando o seu cetro!
 
 
 
CANÇÃO NEGRA
 
 
                          (A Nestor Victor)
 
Ó boca em tromba retorcida
 
Cuspindo injúrias para o Céu,
 
Aberta e pútrida ferida
 
Em tudo pondo igual labéu.
 
 
 
Ó boca em chamas, boca em chamas,
 
Da mais sinistra e negra voz,
 
Que clamas, clamas, clamas, clamas
 
Num cataclismo estranho, atroz.
 
 
 
Ó boca em chagas, boca em chagas,
 
Somente anátemas a rir,
 
De tantas pragas, tantas pragas
 
Em catadupas a rugir.
 
 
 
Ó boca de uivos e pedradas,
 
Visão histérica do Mal,
 
Cortando com mil facadas
 
Dum golpe só, transcendental.
 
 
 
Sublime boca sem pecado,
 
Cuspindo embora a lama e o pus,
 
Tudo a deixar transfigurado,
 
O lodo a transformar em luz.
 
 
 
Boca de ventos inclementes
 
De universais revoluções,
 
Alevantando as hostes quentes,
 
Os sanguinários batalhões.
 
 
 
Abençoada a canção velha
 
Que os lábios teus cantam assim
 
Na tua face que se engelha,
 
Da cor de lívido marfim.
 
 
 
Parece a furna do Castigo
 
Jorrando pragas na canção,
 
A tua boca de mendigo
 
Tão tosco como o teu bordão.
 
 
 
Boca fatal de torvos trenos!
 
Da onipotência do bom Deus
 
Louvados sejam tais venenos,
 
Purificantes como os teus!
 
 
 
Tudo precisa um ferro em brasa
 
Para este mundo transformar …
 
Nos teus Anátemas põe asa
 
E vai no mundo praguejar!
 
 
 
Ó boca ideal de rudes trovas,
 
Do mais sangrento resplendor,
 
Vai reflorir todas as covas,
 
O facho a erguer da luz do Amor.
 
 
 
Nas vãs misérias deste mundo
 
Dos exorcismos cospe o fel …
 
Que as tuas pragas rasguem fundo
 
O coração desta Babel.
 
 
 
Mendigo estranho! Em toda a parte
 
Vai com teus gritos, com teus ais,
 
Como o simbólico estandarte
 
Das tredas convulsões mortais!
 
 
 
Resume todos esses travos
 
Que a terra fazem languescer.
 
Das mãos e pés arranca os cravos
 
Das cruzes mil de cada Ser.
 
 
 
A terra é mãe! – mas ébria e louca
 
Tem germens bons e germens vis …
 
Bendita seja a negra boca
 
Que tão malditas cousas diz!
 
 
TRISTEZA DO INFINITO
 
Anda em mim, soturnamente,
 
Uma tristeza ociosa,
 
Sem objetivo, latente,
 
Vaga, indecisa, medrosa.
 
 
 
Como ave torva e sem rumo,
 
Ondula, vagueia, oscila
 
E sobe em nuvens de fumo
 
E na minh`alma se asila.
 
 
 
Uma tristeza que eu, mudo,
 
Fico nela meditando
 
E meditando, por tudo
 
E em toda a parte sonhando.
 
 
 
Tristeza de não sei de onde,
 
De não sei quando nem como …
 
Flor mortal, que dentro esconde
 
Sementes de um mago pomo.
 
 
 
Dessas tristezas incertas,
 
Esparsas, indefinidas …
 
Como almas vagas, desertas
 
No rumo eterno das vidas.
 
 
 
Tristeza sem causa forte,
 
Diversa de outras tristezas,
 
Nem da vida nem da morte
 
Gerada nas correntezas …
 
 
 
Tristezas de outros espaços,
 
De outros céus, de outras esferas,
 
De outros límpidos abraços,
 
De outras castas primaveras.
 
 
 
Dessas tristezas que vagam
 
Com volúpias tão sombrias
 
Que as nossas almas alagam
 
De estranhas melancolias.
 
 
 
Dessas tristezas sem fundo,
 
Sem origens prolongadas,
 
Sem saudades deste mundo,
 
Sem noites, sem alvoradas.
 
 
 
Que principiam no sonho
 
E acabam na Realidade,
 
Através do mar tristonho
 
Desta absurda Imensidade.
 
 
 
Certa tristeza indizível,
 
Abstrata, como si fosse
 
A grande alma do Sensível
 
Magoada, mística, doce.
 
 
 
Ah! tristeza imponderável,
 
Abismo, mistério aflito,
 
Torturante, formidável …
 
Ah! Tristeza do Infinito!
 
 

Gustavo Bastos, filósofo e escritor

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