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Tom Zé revisita o tropicalismo em Tropicália Lixo Lógico

Explicando para confundir e confundindo para esclarecer, Tom Zé se reinventa novamente em seu mais recente álbum Tropicália Lixo Lógico (2012). Com mais de 50 anos de carreira, Tom Zé fez parte do movimento cultural que dá nome ao seu disco junto com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Mutantes. O artista aproveita suas experiências musicais e filosóficas para recontar – ou recriar– o tropicalismo que lhe deu origem.

 
A primeira música Apocalipsom A (o Começo No Palco do Fim), com participação de Emicida, já anuncia o caos que o disco propõe. Começa com um chocalho e uma flauta indígena misturada ao rap: “Casou-se com muita gala/O saber de Aristóteles/Com a cultura do mouro/Pra ter num só filhote/O duplicado tesouro”. Emicida também empresta seu carisma para a faixa Apocalipsom B (o Começo No Palco do Fim), que encerra o disco.
 
O disco segue com o baião Capitais e Tais, na qual o cantor baiano homenageia vários estados do nordeste. A faixa lembra suas canções mais antigas com os ritmos regionais e o coro. As participações especiais continuam, em Tropicalea Jacta Est, Mallu Magalhães e Tom Zé brincam com versos de canções hinos do tropicalismo e cantam “Domingo no parque sem documento/Com Juliana navegando contra o vento/Saímos da nossa idade média nacional/Diretamente para a era do pré-sal”.
 
Em O Motobói e Maria Clara, a voz de Mallu aparece novamente, a música é repleta de texturas sonoras como o tintilhar de xícaras do começo e a letra, que é quase um travalíngua de neologismos. O disco é cheio de experimentações vocais e instrumentais, como na engraçada Amarração do Amor que Tom Zé canta versos incompreensíveis e se descontrai no trecho seguinte “Vou te derreter/numa panela de dendê/e toda noite eu esfrego no meu corpo uma pitada de você”.
 
A maioria das músicas termina no meio de um verso, antes do final. Sobre isso, o técnico de som teve muitos problemas para finalizar o trabalho e fez uma lista que ele considerou “erros” do disco, que Tom Zé publicou em seu blog: http://tomze.blog.uol.com.br/arch2012-07-22_2012-07-28.html Entretanto, o corte seco é intencional e sempre acontece quando a melodia começa a parecer familiar ao ouvido. A edição é uma forma de despertar o ouvinte para a próxima faixa.
 
A faixa que dá nome ao disco, Tropicália Lixo Lógico, tem um início grandioso com violinos e em seguida entram as guitarras distorcidas. Na música, Tom Zé se pergunta “O que fazer com tanto lixo lógico?”. Os convidados especiais voltam a aparecer em De-De-Dei Xá-Xá-Xá, com Pélico. A melodia lenta parece agregar os estilos dos dois músicos em uma canção singela e quase romântica.
 
Já em A Terra, Meus filhos o planeta é descrito com uma mulher, bonita, mas sofrida, que “De maus tratos envelhece/Sem ter usado espartilhos”. A mistura de ritmos é presente em toda a obra baião, forró, rock, bossa nova e outros gêneros de uma maneira criativa e nada óbvia. 
 
Com muito senso de humor e inteligência, Aviso Aos Passaeiros faz música dos avisos de segurança de elevadores. Seguindo a mesma linha, a faixa NYC Subway Poetry Department, em inglês com a ilustre participação de Rodrigo Amarente, do Los Hermanos, os versos brincam com os avisos dos metros Stand Clear of The Closing Doors (Fique longe das portas que fecham). Os dois juntos cantam fiquem longe das cabeças e dos corações fechados, entre outras coisas limitadas. 

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