Obras para regularizar o fornecimento de energia aos indígenas começam nesta quarta
Após seis dias de mobilização e bloqueios na rodovia ES-010, a comunidade indígena Tupinikim da aldeia Irajá, em Aracruz, no norte do Estado, conseguiu que empresa EDP Espírito Santo comparecesse a uma reunião na cabana comunitária com lideranças e representantes de órgãos públicos federais e municipais nesta terça-feira (17), e assumisse compromissos com a regularização da distribuição de energia elétrica no território. Durante o encontro, a concessionária se comprometeu a iniciar os trabalhos para solucionar as falhas na rede de distribuição nesta quarta-feira (18).
Nesta segunda e terça-feiras (16 e 17), a comunidade bloqueou a rodovia ES-010, no trecho que dá acesso à aldeia, sentido centro de Aracruz-Coqueiral, para pressionar a concessionária a enviar representantes para firmar compromisso formal, com prazos definidos, sobre as melhorias na rede elétrica e iluminação pública. A mobilização começou na última quinta-feira (12), depois de meses sem avanços para os problemas apontados pelos moradores em reuniões com a empresa e a prefeitura.

Passados dois dias de recusa da empresa em comparecer à aldeia, dois representantes da EDP estiveram no local e firmaram um acordo conjunto com a Prefeitura de Aracruz para o início imediato das ações emergenciais. “Ontem paramos às 19h e retornamos hoje às 4h. Quando foi 10h, os representantes chegaram. Foi definido que amanhã os trabalhos já começam: poda, melhorias na iluminação e revisão das redes”, explicou o presidente da Associação Indígena Tupinikim da Aldeia Irajá (Aitupaíra), Bruno Siqueira. Ele também destacou que os projetos que exigem licitação serão elaborados e apresentados com apoio do município, enquanto a EDP fará os ajustes emergenciais possíveis desde já.
A reunião contou com a presença do procurador da República Jorge Munhoz; do chefe da Coordenação Regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Bruno Weber; do representante da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Paulo Tupinikim; e do secretário de Governo da Prefeitura de Aracruz, Saulo Meirelles. Também participaram o vereador Vilson Jaguareté (PT), representantes da Secretaria de Obras e do setor de iluminação pública do município, além das lideranças e moradores da comunidade.
“Pedimos desculpas à população pelo transtorno, mas infelizmente foi necessário. Essa melhoria não vai só contemplar nossa comunidade, mas também os bairros vizinhos. Quem passar pela estrada vai ver que a iluminação vai começar a aparecer onde antes era só escuridão”, afirmou Bruno.

O vereador Vilson Jaguareté destacou a importância do compromisso firmado. “A EDP finalmente se dispôs a agir em conjunto com os serviços da prefeitura. Um dos principais problemas relatados é a falta de poda das árvores, que provoca quedas constantes de energia. A partir de amanhã, as equipes da EDP e da Secretaria de Obras vão atuar diretamente nas aldeias”, destacou.
Ele reforça que os problemas não se restringem à aldeia Irajá. “Isso afeta praticamente todo o território indígena em Aracruz. Solicitamos que a EDP e a prefeitura atuem também para resolver essas pendências nas outras aldeias e provocamos a Secretaria de Obras para apresentar uma espécie de prestação de contas às lideranças sobre as ações de iluminação pública – o que já foi feito, o que está em andamento e o que ainda falta ser iniciado”, explicou.
Outro ponto abordado na reunião foi a burocracia em torno dos processos licitatórios para instalação de novos pontos de iluminação, que precisam passar por análise da EDP antes de serem aprovados pela prefeitura. Além disso, a anuência da Funai é necessária para execução de qualquer projeto nas terras indígenas.
Segundo Vilson, tanto ele quanto os representantes da Apoinme e da Funai se comprometeram a acompanhar esses processos em Brasília para destravar as pendências. “Pedi também que a EDP estabeleça um canal direto de comunicação com as lideranças das comunidades. Hoje, quando falta energia, os moradores precisam ligar para mim ou para outros vereadores para fazer a ponte com a empresa. Isso precisa mudar. A relação precisa ser direta, respeitosa e contínua”, completou.
Os protestos na ES-010 foram convocados na última sexta-feira (13), após mais uma tentativa frustrada de diálogo com a EDP. A comunidade ressalta que já participou de diversas reuniões nos últimos anos, sem que houvesse solução concreta. Além dos transtornos cotidianos, os indígenas denunciam o descaso da empresa com os prejuízos materiais já sofridos por diversas famílias. Aparelhos como ventiladores, televisores, micro-ondas e até geladeiras da escola foram queimados devido a picos de energia. Em carta aberta publicada nas redes sociais, a comunidade denunciou o que classificam como “descumprimento de compromissos assumidos” e “falta de respeito com os povos originários”.