O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quinta-feira (17), a 4ª edição do Boletim de Análise Político-Institucional (Bapi). O estudo revelou que, no Brasil, a probabilidade do negro ser vítima de homicídio é oito pontos percentuais maior, mesmo quando se compara indivíduos com escolaridade e características socioeconômicas semelhantes.
O artigo Segurança Pública e Racismo Institucional, de autoria do pesquisador do Ipea, Almir de Oliveira Júnior e da acadêmica da Universidade de Brasília (UnB) mostra que, se no País a exposição da população como um todo à possibilidade de uma morte violenta é grande, ser negro significa pertencer a um grupo de risco, já que, a cada três assassinados, dois são de negros.
A pesquisa também mostra que os negros são maiores vítimas de violência policial do que brancos.
Os pesquisadores apontam, no artigo que o Estado deveria fornecer aos cidadãos, independentemente de sexo, idade, classe social ou raça, uma ampla estrutura de proteção contra a possibilidade de virem a se tornar vítimas de violência e que este é um direito que não deveria excluir nenhum indivíduo.
No entanto, a segurança pública é uma das esferas da ação estatal em que a seletividade racial se torna mais patente. ???Há grande desigualdade entre brancos e negros no que diz respeito à distribuição da segurança. Esta desigualdade é explicitada pelas maiores taxas de vitimização da população negra. Pode-se tomar como referência a taxa de homicídios???, diz o artigo.
O Mapa da Violência 2013 ??? Homicídios e Juventude no Brasil, que também é usado como referência para o artigo, atesta a seletividade nos homicídios de negros. O estudo, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfiz, e lançado pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), confirma que no Espírito Santo os negros são vítimas preferenciais de homicídios.
O mapa mostra que a taxa de homicídios de negros no Espírito Santo é de 58,4 mortes por grupo de 100 mil. Entre os brancos esta taxa cai para 16 por 100 mil.
Entre os jovens, as taxas são mais aterradoras. Entre jovens negros, a taxa de homicídios do Estado é de 144,6 mortes por 100 mil. Entre brancos é 37,3.
A coordenadora do Fórum Estadual da Juventude Negra (Fejunes), Silvana Ribeiro, destaca que o racismo institucional é vivenciado pela população negra em todas as fases da vida. ???Começa na educação, quando se nega a história dos nossos ancestrais???, diz ela.
Silvana acrescenta que o racismo institucional se expressa de forma mais latente na segurança pública, em abordagens policiais e caracterização de suspeitos. ???Quando os homicídios de negros são 150% maiores que os de brancos fica evidente que há uma seletividade nessas mortes???.
A coordenadora do Fejunes completa dizendo que o banco de estudos do Núcleo de Estudos de Violência e Segurança Pública (Nevi), da Universidade Federal do Estado (Ufes), também mostrou que de 50 a 70% dos homicídios ocorridos na juventude vitimam jovens negros.