Rodoviários rejeitaram contraproposta, mas aceitaram negociação com o governo
O início da greve do transporte público coletivo da Grande Vitória, que estava prevista para esta terça-feira (9), foi adiado para quinta (11). Em assembleia realizada nesta segunda-feira (9), que aconteceu de manhã e de tarde no campo de futebol do Clube Caxias, localizado no bairro Itararé, em Vitória, os rodoviários rejeitaram uma contraposta das empresas do Sistema Transcol. Apesar disso, atenderam a um apelo do Governo do Estado para mais uma rodada de negociações.

Nesta terça, representantes do Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários) terão uma reunião com a gestão do governador Renato Casagrande (PSB). Na quarta-feira (10), uma nova assembleia vai determinar os rumos do movimento.
De acordo com o Sindicato dos Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários), a nova proposta apresentada pelas empresas (Expresso Santa Paula, Serramar, Vereda, Viação Praia Sol, Viação Serrana, Viação Grande Vitória, Nova Transportes, Santa Zita, Unimar e Viação Satélite) contemplava aumento de 5% no salário e acréscimo de dez minutos no tempo de descanso para motoristas, mas foi considerada aquém das demandas dos trabalhadores.
O processo de negociação começou em setembro e, segundo o sindicato, se arrastou sem avanços significativos. Antes da contraproposta atual, as empresas apresentaram a mesma proposta que vinha sendo recusada anteriormente: um reajuste linear de 4,49%, correspondente ao índice de inflação (IPC), sem atender às demais pautas.
A pauta aprovada pelos rodoviários inclui reajuste salarial que contemple a inflação e mais 10% de ganho real; redução da carga horária; e melhorias urgentes nas condições de trabalho. A jornada atual dos operadores do sistema é de 7 horas e 20 minutos por dia, com 1 hora e 20 minutos de intervalo para almoço, no regime de seis dias de trabalho por um de folga. Além dessa carga já considerada elevada, motoristas e demais funcionários frequentemente são submetidos a duas horas extras diárias impostas pelas empresas, o que tem contribuído para o desgaste físico e emocional da categoria.
Um dos pontos mais criticados pelos trabalhadores é a retirada dos postos de cobradores, extintos pelas empresas nos últimos anos. Com isso, motoristas acumulam a função de dirigir, cobrar, orientar passageiros e lidar com situações de segurança.
Segundo o sindicato, essa sobrecarga tem provocado adoecimento e levado muitos profissionais a pedir afastamento ou deixar definitivamente o sistema. “Eles estão matando os trabalhadores. Tem gente que não aguenta mais. Estão saindo do sistema porque a pressão está muito grande. É um serviço essencial, mas quem presta esse serviço não está sendo valorizado”, destacou Marquinhos Jiló, presidente do Sindirodoviários.
O Sindirodoviários também destacou que a categoria tem enfrentado casos recorrentes de violência urbana, agressões e assaltos, o que tem intensificado o desgaste emocional dos trabalhadores. Segundo Marquinhos, desde o início do ano, o sindicato alerta que o ritmo de adoecimento e o nível de estresse estão acima do suportável.
Ele lembra que a gestão de Renato Casagrande (PSB) chegou a criar um grupo de trabalho no início deste ano para discutir medidas de segurança pública voltadas ao transporte coletivo, mas afirma que a questão salarial e as condições de trabalho continuam sem respostas satisfatórias.
O sindicato defende que o governo tem papel direto na mediação do impasse, porque o sistema Transcol é uma concessão pública administrada pela Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES) e operado por empresas privadas, que atuam sob contrato, com regras e supervisão do Estado.
“Pedimos essa intervenção porque não queremos esse transtorno para a população. Sabemos que é o povo que sofre. O Sindirodoviários sempre buscou resolver pelo diálogo. Não é à toa que estamos há seis anos sem uma única greve. Mas há um limite. Não podemos deixar de olhar para nossa categoria”, explicou.
Apesar da paralisação marcada, o sindicato afirma que continua aberto ao diálogo. Caso a gestão ou as empresas apresentem uma proposta considerada justa, o movimento pode ser suspenso. “Se o governo intermediar e trouxer algo decente para o trabalhador, voltamos para a mesa. Estamos abertos. Mas até agora nada avançou”, completou.

