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‘Ilusão com o petróleo deixou os pobres ao Deus dará’

Padre Kelder Brandão aponta para a falta de políticas públicas de combate à fome no Espírito Santo

Mais uma Campanha da Fraternidade se aproxima e pela terceira vez a questão da fome será debatida na atividade encabeçada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No Espírito Santo, o aumento do número de pessoas sem acesso ao direito básico à alimentação é percebido “a olhos vistos” e encarado pelo coordenador do Vicariato para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória, padre Kelder Brandão, como fruto de uma visão distorcida da realidade.

“A ilusão com o petróleo fez a sociedade e o poder público deixarem os pobres ao Deus dará”, diz. O sacerdote recorda que, em 2007, com a descoberta da camada de pré-sal e a possibilidade de recebimento de royalties, se acreditou em uma suposta qualidade de vida para todos capixabas, que encontrou força também no discurso de que o Espírito Santo era um dos estados brasileiros com a maior renda per capita.

Essa realidade, afirma Kelder, fez com que o poder público estadual não consolidasse políticas de distribuição de renda, por exemplo, e que a sociedade civil não cobrasse de maneira incisiva. “O Espírito Santo precisa de muito enfrentamento à pobreza, distribuição de renda, geração de emprego, educação, moradia, de políticas públicas adequadas e envolvimento da sociedade na reivindicação. A sociedade tem que cobrar, pois para o poder público é muito cômodo se alicerçar num discurso de uma qualidade de vida que não é para todos”, diz.
Padre Kelder também aponta ser um “equívoco” dizer que a pandemia da Covid-19 é responsável pelo aumento da fome. Para ele, a crise sanitária agravou um processo que já vinha se intensificando desde os idos de 2018, quando a Campanha Paz e Pão, da Arquidiocese de Vitória, começou a ser pensada. Essa iniciativa, que busca fornecer cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social cadastradas nas paróquias da Arquidiocese, começou a ser implementada de fato em 2020.
O coordenador do Vicariato alerta para o fato de que, com o retorno de Lula (PT) à presidência, os movimentos sociais não devem repetir o comportamento que tiveram a partir de 2003, quando Lula chegou ao Palácio do Planalto pela primeira vez. “Houve implementação de políticas importantes, mas com a chegada de um governo de centro esquerda ao poder os movimentos acabaram se afastando das periferias, deixando de fazer formações e trabalhos de base. Isso abriu espaço para o tráfico e para o neo pentecostalismo”, diz.
Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade deste ano terá como tema “Fraternidade e fome”, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer”. No Espírito Santo, a abertura está marcada para o dia 26 de fevereiro, a partir das 14h, no Ginásio Dom Bosco, em Vitória, ao lado do Colégio Salesiano. Em vez da tradicional Via Sacra ou caminhada pelas ruas da Capital, será feita uma celebração. A mudança, segundo Kelder, foi por causa do forte calor, fazendo com que se optasse por um espaço fechado.
“Durante o evento vamos nos manifestar contra a fome e as panelas vazias de milhões de brasileiros, escolhendo a Área Pastoral mais animada, que ganhará 50 cestas básicas, além das que já recebe mensalmente, para distribuir no mês de março entre as famílias assistidas pela Campanha Paz e Pão”, diz a carta emitida pelo Vicariato para a comunidade católica da Arquidiocese.
A temática da fome será abordada pela terceira vez na Campanha da Fraternidade. A primeira foi em 1975, com o tema “Fraternidade é repartir” e o lema “Repartir o pão”. A segunda foi em 1985, com o lema “Pão para quem tem fome”. A Campanha da Fraternidade nasceu por iniciativa de Dom Eugênio de Araújo Sales, em Nísia Floresta, Arquidiocese de Natal, Rio Grande do Norte. Alguns de seus objetivos são despertar o espírito comunitário, buscar o bem comum, e renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária.

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