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Movimentos LGBTQIAPN+ debatem estratégias para eleições de 2026

Evento em Cachoeiro aponta urgência de mobilizar candidaturas aos legislativos

“Temos o desafio de organizar as nossas base. Precisamos que os movimentos sociais de esquerda se alinhem para chegarmos ao objetivo de eleger pessoas LGBTQIAPN+, porque nas últimas eleições, acabamos nos dividindo e continuamos sem representatividade”. A avaliação é de Geovane Roberto, do Coletivo de Juventude de Axé, sobre a importância do debate “Desafios e perspectivas para as eleições de 2026: presenças LGBTQIAPN+ no cenário eleitoral local”, a ser realizado nesta quinta-feira (22), às 19h, no Bar Quilombo XXI, reunindo movimentos em prol da causa e dos direitos humanos em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado.

Acervo pessoal

“A ideia é discutir a perspectiva e os desafios que enfrentamos enquanto pessoas LGBTQIAPN+, pensando nas eleições. Vamos discutir por que é tão difícil ocupar os espaços de poder, principalmente em cidades como Cachoeiro, onde o conservadorismo e o coronelismo ainda falam muito alto”, observa Aline Leal, coordenadora do coletivo Não Sou Mais um Silva, que defende a importância de traçar estratégias coletivas para eleger pessoas que cuidem da comunidade.

“É um momento importante para nos fortalecermos, trocarmos vivências e entendermos que a política também é lugar nosso – no município, no Estado e em todo o Brasil. Precisamos colocar os nossos corpos nos espaços políticos, somos um grupo vulnerável, e quando nos juntarmos para fazer frente a isso, podemos começar a mudar esse cenário”, reforça Aline.

A solução, para Geovane, é envolver a juventude. “Queremos que a juventude faça história, porque mobilizando, acreditamos que a juventude consiga eleger uma pessoa LGBTQIAPN+ para deputada estadual ou federal. Essa é a nossa meta”, enfatiza.

No próximo ano, o cenário eleitoral tende a ser ainda mais acirrado, projeta Geovane Roberto. Ele destaca que o desamparo da população LGBTQIAPN+ é uma realidade que atravessa os níveis municipal, estadual e federal, agravada pela quase total ausência de representantes que pautem políticas voltadas para essa comunidade“.

Para ele, as últimas eleições municipais também foram um reflexo preocupante. “Foi formada uma Câmara extremamente conservadora. Não tem diálogo, não tem uma porta aberta para os movimentos sociais, principalmente LGBTQIAPN+. A perseguição ao nosso movimento tem sido usada como palanque pela extrema direita”, aponta. Ele menciona, ainda, a instrumentalização e pautas como o combate à chamada “ideologia de gênero” e projetos que criminalizam expressões culturais das periferias.

Os militantes destacam que a iniciativa tem caráter suprapartidário e busca articular militantes em diversas frentes políticas. “Precisamos de política pública. E, para isso, precisa ter alguém lá dentro para propor projetos de lei e mobilizar os movimentos sociais. A sociedade civil tem que se mobilizar na rua, mas, tendo alguém no poder, ficaria mais fácil dialogar”, considera Geovane.

Ele também critica a forma como a comunidade LGBTQIAPN+ é estigmatizada por setores conservadores da sociedade. “Somos representados como os destruidores da família, mas é só abrir as manchetes de jornais, e você vê que não é a nossa comunidade que está protagonizando crimes de feminicídio, estupro, violência contra crianças e adolescentes. A classe política deveria entender que nós não somos destruidores de família. Estamos lutando por direitos”, pontua.

Os coletivos veem a mobilização como uma tarefa urgente. “Nosso objetivo agora é correr contra o tempo”, convoca Geovane.

O evento integra a programação da V Semana Municipal de Combate à LGBTfobia, que inicia suas atividades nesta terça-feira (20), com a primeira de três formações sobre o tema, além de incluir estreia do filme NP-Noites Proibidas, e encerramento no domingo (25), com o “7° Manifesto Cultural LGBTQIAPN+ Cultura e Resistência: pessoas LGBTQIAPN+ resistindo e existindo”, a partir de 13h, na Praça de Fátima, no centro da cidade. A programação completa está disponivel na página do coletivo Não Sou Mais Um Silva.

‘Urgente e inadiável’

Aline também fala a partir de uma vivência concreta: atuou como coordenadora da campanha de Ágatha Benks, mulher trans, preta e periférica, candidata pelo Psol à Câmara de Cachoeiro de Itapemirim. Ela conta que a experiência foi transformadora e reveladora do que está em jogo numa disputa eleitoral protagonizada por corpos historicamente excluídos.

“Em um município totalmente conservador como Cachoeiro, a experiência me fez sentir na pele o que é estar na linha de frente de uma disputa. E que não era só eleitoral, era simbólica, política e totalmente afetiva. A gente não entrou só com proposta, com panfleto – entramos com alma, corpo, verdade”, ressalta.

Aline (esq.) e Marina Balarini (dir.), também ativista contra discriminação de gênero e LGBTfobia, no ato do 8 de março deste ano: acervo pessoal

Ela lembra que, apesar das muitas portas fechadas, do silêncio e da transfobia enfrentada, a campanha também foi recebida com muito afeto, especialmente pelas mulheres, pela juventude negra e pela comunidade LGBTQIAPN+. Segundo Aline, foi um processo de resistência marcado por dor, mas também por potência: “Cada lágrima ali também foi resistência”, destaca.

A campanha também revelou a urgência da organização coletiva e da formação política para realizar o objetivo de colocar pessoas LGBTQIAPN+ e periféricas em posição de decisão, não apenas como símbolo, mas com poder real de ação. “Eu aprendi que a nossa luta é urgente e inadiável. A ofensiva conservadora não é só uma onda: é um projeto de silenciamento real. Precisamos de mais Ágathas nas ruas e nas urnas, falando conosco por nós mesmas”, considera.

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