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Padre de São Mateus sofre agressões verbais por defender Yanomamis

Moacir Pinto foi chamado de “desgraçado” por historiador, que disse ainda que os Yanomamis são “venezuelanos infiltrados”

O padre Moacir Pinto, da Diocese de São Mateus, norte do Estado, foi agredido verbalmente durante uma homilia após se opor à violência cometida por garimpeiros contra os Yanomamis, em Roraima, com anuência do Governo Bolsonaro (PL). O agressor, relata, é o historiador Eliezer Nardoto, que o chamou de “desgraçado”, disse que os indígenas na verdade são “venezuelanos infiltrados” e que não continuaria a assistir a missa, pois Moacir “é um militante de esquerda, e não um padre”.

O sacerdote relata que, ao ouvir isso, afirmou para Eliezer que “a porta da igreja está aberta”. A defesa dos Yanomamis foi feita na comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, com base na liturgia do dia, que, de acordo com o padre, falava do Cristo que foi perseguido pelas autoridades “por ter abraçado os mais sofridos”.


Eliezer Nardoto foi candidato a prefeito de São Mateus em 2020, pelo PRTB, obtendo apenas 2,27% dos votos válidos. É uma das lideranças da Campanha Paz no Campo, que há anos protagoniza diversas ações contra os direitos dos quilombolas do Sapê do Norte, que compreende também o município de Conceição da Barra.

A Diocese de São Mateus divulgou, nesta sexta-feira (3), uma carta aberta de apoio e solidariedade, por meio da qual o bispo Dom Paulo Bosi Dal’bó, o corpo clérigo da Diocese de São Mateus e “o povo santo de Deus” repudiaram “as declarações de ofensas e de humilhação pública sofridas pelo Pe. Moacir Pinto”.
“Diante desse fato, é importante lembrar e ressaltar que toda a ação profética da Igreja em defesa da Vida é fundamentada nas sagradas escrituras, na Doutrina Social da Igreja e no testemunho de tantos homens e mulheres de fé que doaram seu sangue para defender outras vidas”, afirma a nota.
O texto prossegue destacando que “a proteção da vida não é pautada em nenhum viés de cunho ideológico ou partidário, uma vez que a vida é um dom de Deus e todo aquele que se sente cristão e é cristão tem o compromisso de defendê-la, independente do país, continente ou hemisfério que a vida estiver sendo ameaçada”.
O sacerdote relata que vem sendo perseguido por bolsonaristas desde 13 de maio de 2022, quando em uma homilia feita no dia de Nossa Senhora de Fátima contestou as afirmações de que o Brasil estava sendo ameaçado pelo comunismo e disse que “pior do que o comunismo é o bolsonarismo”, fazendo com que um grupo de fiéis se revoltassem contra ele. Na ocasião, afirma, também recordou que Bolsonaro falou que os negros devem ser medidos em arroba, igualando-os aos animais, e que em uma cidade majoritariamente negra, como São Mateus, Bolsonaro nem deveria ser recebido.
Desde então, informa, suas homilias têm sido gravadas por bolsonaristas como forma de intimidar, questionadas nas missas da Catedral e das comunidades, e um grupo de apoiadores do ex-presidente chegou a denunciá-lo ao bispo, o que não surtiu efeito.

O padre afirma estar abalado emocionalmente com a situação, mas “vai seguir a vida, fazendo meu trabalho” e que foi importante o apoio dos padres mais ligados à questão social. “O bolsonarismo se entranhou na consciência das pessoas, desumanizou e não tem a ver com a nossa fé cristã. Vai demorar muito tempo para reverter”, lamenta.

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