Foco é o desenvolvimento do Estado com justiça social e ambiental, destaca a coordenadora, Érika Leal
O Espírito Santo mantém um dos modelos econômicos mais arcaicos do país, ainda excessivamente centralizado nas exportações de poucas commodities, baseadas no agronegócio de celulose e nos setores minero-siderúrgico e petroleiro, com forte degradação socioambiental, todos em franca expansão, a despeito da concentração de renda que se intensifica e a crise climática que se agrava.
Não há dúvidas de que em um cenário árido como esse, uma renovação do modo de pensar e fazer Economia é fundamental para trazer mais prosperidade para a população e não apenas para os poucos grandes empresários que se beneficiam do mercado global das velhas commodities.
Alinhado a essas necessidades, que não são exclusividade capixaba, o campus de Cariacica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) é o primeiro do País a criar um curso de Economia, com previsão de abrir a primeira turma no segundo semestre deste ano.
O curso também já nasce alinhado às novas tecnologias e aos conceitos de justiça social e ambiental, atribuições que, destaca a coordenadora, professora Érika Leal, somente agora os cursos mais tradicionais do país estão introduzindo em seus currículos, a exemplo das universidades estaduais de São Paulo e Campinas (USP e Unicamp), a Federal e a Pontifícia Católica do Rio de Janeiro (UFRJ e PUC-Rio).
“Todos os cursos do país estão em revisão para inserir as novas tecnologias, inteligência artificial, ciência de dados, big data e impressão 3D. E também os temas de sustentabilidade serem mais presentes, a questão cultural, da preocupação com as desigualdades, as humanidades. Cursos de referência no País estão revisando seus projetos pedagógicos para inserir algo que o nosso já tem. Nosso curso foi todo construído considerando a reflexão acerca da contribuição do profissional de Economia para modernização econômica, sustentabilidade ambiental e justiça social. Nosso projeto pedagógico prevê ações interdisciplinares além de Economia do Meio Ambiente ser uma disciplina obrigatória no curso. Estou muito feliz com a nossa proposta”, ressalta.
Especificamente sobre distribuição de renda, Érika afirma que a comissão organizadora “não consegue conceber um curso de Economia que não discuta com a comunidade acadêmica o compromisso com a Justiça Social. O curso de Ciências Econômicas é voltado para o progresso social, não há progresso sem justiça social”.
Um exemplo prático desse cuidado com a inclusão social é a oferta noturna do curso, que favorece o acesso do jovem trabalhador, até então praticamente excluído de uma formação em Economia gratuita e de qualidade.
“Nós acreditamos que os institutos federais têm um potencial imenso de capilaridade no território nacional. O curso de Economia no país não chegou às camadas mais pobres da população como os de Administração e Ciências Contábeis, por exemplo. No Espírito Santo, a população que precisa trabalhar e estudar não consegue cursar Economia na rede pública, porque a oferta do curso na universidade federal é matutina. O Campus Cariacica estará ofertando o primeiro curso superior público noturno da cidade de Cariacica, que é um município importante da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), com um público potencial para o curso. É uma contribuição importante do nosso Instituto para a inclusão social, oferta de uma educação pública e de qualidade, com potencial para alcançar as diversas camadas da sociedade. É, portanto, uma ação complementar ao que existe hoje”, pondera.
O foco no desenvolvimento capixaba se realiza a partir da grade curricular, que inclui economia regional e formação econômica do Espírito Santo. “O campus conta com o Laboratório do Desenvolvimento Capixaba, que produz estudos sobre a economia do Espírito Santo. Nosso grupo integrou a equipe do Projeto Desenvolvimento Regional Sustentável do governo do Estado do Espírito Santo, anteriormente já fizemos diversos estudos sobre os programas de inovação do Estado, temos estudos sobre logística portuária e entendemos que o curso de Economia poderá contribuir para potencializar a produção de conhecimento sobre o a economia do Espírito Santo e produzir sempre em parceria com pesquisadores de diversas regiões”.
Há ainda um interesse em direcionar os trabalhos para o município que sedia o curso. “Vamos incentivar a produção de trabalhos finais de curso e iniciação científica também em estudos sobre nosso Estado e o entorno, que é Cariacica. O que temos de produção acadêmica sobre a cidade de Cariacica? Praticamente nada. Nós trabalharemos nas disciplinas, nas pesquisas, e também envolvendo a comunidade nos trabalhos de extensão”, elenca.
O curso foi aprovado pelo Conselho Superior do Ifes de Cariacica no último dia seis, depois de mais de um ano de elaboração da proposta e do projeto pedagógico. Além dos professores do campus local, houve a colaboração de acadêmicos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o acompanhamento do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), no qual a coordenadora é conselheira.