Sábado, 27 Abril 2024

​Alunos de Geografia da Ufes reivindicam aumento do número de professores

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O número de professores do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (DeGeo/Ufes) é insuficiente para suprir a demanda, e o curso também não atende à cota de 20% para pessoas negras no quadro docente. As queixas são dos estudantes de graduação em Geografia, que fizeram uma manifestação nessa quarta-feira (22) à noite, no Centro de Ciências Humanas (CCHN), que fica no campus de Goiabeiras, em Vitória.

Segundo o Centro Acadêmico Livre de Geografia Bruno Presidente (Calgeo – Bruno Presidente), o curso conta atualmente com 18 professores, dos quais apenas dois são homens negros, quando o mínimo – em respeito à Lei Federal 12.990/2014, de reserva de vagas no serviço público – deveria ser de, pelo menos, quatro. Os cerca de 450 alunos resultam em uma média de 25 estudantes por docente, quando o ideal seria de dez alunos por professor.

O curso de Geografia da Ufes conta com turmas de bacharelado e licenciatura (matutino e noturno), na graduação, e de mestrado e doutorado, na pós-graduação. Um documento de 2019 produzido pelo próprio departamento já apontava situação crítica nas turmas da graduação.

"O quadro, portanto, é de extrema sobrecarga dos professores. A título de comparação, a média alunos/professor dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] é de 15,1; a média nacional do Ensino Superior no Brasil é 17,94; e apenas a da rede superior pública é de 13,5. A média alunos/professor da Ufes é 11,23 e do CCHN [Centro de Ciências Humanas e Naturais] é de 19,82", descreve o documento, citando dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O material aponta ainda as medidas necessárias para reverter a situação: "Para se ter uma ideia da defasagem do quadro de professores do DeGEO, para nos ajustarmos às médias acima, precisaríamos contratar nove professores novos para equipararmos ao CCHN; 11 para equipararmos à média nacional, e 17 para equipararmos à Ufes. Desse modo, requeremos ao menos dois professores novos para cada um dos quatro cursos regulares de graduação, num total de oito novos professores para o Departamento de Geografia."

De acordo com o Centro Acadêmico Livre de Geografia, na época, a Administração da Ufes aceitou a documentação que apontava a defasagem de professores na Geografia, e o curso ficou em segundo lugar em urgência para contratação de novos docentes – perdeu apenas para Oceanografia, um curso novo e que ainda estava se estruturando. Com as perdas políticas na área da educação nos governos dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), as pautas não avançaram, segundo os estudantes.

"A estruturação do curso, de uns tempos para cá, tem ficado insustentável. Alguns professores substitutos (de outros cursos, já que não estão contratando) chegam a dar quatro matérias, que nem são da sua área. Com isso, fica uma defasagem no ensino, o que se soma à repetição de ementas, com professores usando os mesmos textos para disciplinas totalmente diferentes", denuncia Iris Horacio, estudante de licenciatura em Geografia na Ufes e representante de Relações Institucionais do Calgeo.

Ela elenca problemas adicionais: "Transporte para trabalhos de campos que são essenciais estão sendo negados pela universidade, com a justificativa de gastos demais pelo curso. Sendo que quase todos os pedidos de ônibus são negados para os cursos do Centro de Ciências Humanas."

No caso das cotas para professores negros, Iris afirma que outros cursos também negligenciam a questão e não se mostram dispostos a fazer a reparação. Isso favorece o chamado epistemicídio, quando formas de conhecimento são negligenciadas, visando o apagamento de saberes não hegemônicos.

"No curso, a gente quase não tem textos de mulheres, mulheres negras, homens negros – com exceção do Milton Santos, um geógrafo referenciado e um homem negro. Existem vários geógrafos negros não ocidentais que poderiam estar no nosso currículo e não estão", argumenta.

Protesto por acessibilidade

Também nessa quarta-feira (22), mas pela manhã, alunos realizaram um ato público em defesa de mais acessibilidade na Ufes, em frente ao Restaurante Universitário (RU). Foi o primeiro ato político do Coletivo Neurodivergentes Ufes, criado em agosto deste ano para militar em defesa dos direitos de neuroatípicos e Pessoas com Deficiência (PCDs), e contou com o apoio do Centro Acadêmico Livre de Geografia.

As reivindicações pautadas para o ato incluíram: entrada preferencial para quem é assistido pelos programas de inclusão acadêmica e acessibilidade, com criação de cartão específico; liberação para pessoas desse grupo fazerem marmitas; disponibilização de abafadores de som para neurodivergentes; disponibilização de responsável por abrir a porta para pessoas com deficiência física; e reabertura do "RUzinho".

'Em debate'

A Administração Central da Ufes argumenta, em nota, que "não foi informada sobre as manifestações e reitera que está sempre aberta para dialogar com os estudantes". A respeito das cotas para docentes, afirma que "a questão está sendo debatida no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) a partir de proposta de resolução encaminhada pela reitoria em março deste ano, e que visa assegurar que a lei que estabelece a reserva de vagas em concursos públicos seja cumprida nos concursos para professores."

No caso da demanda por mais acessibilidade, "a Administração Central afirma que a Ufes já apresenta avanços em acessibilidade em diversos níveis, mas entende que ainda há muito a construir. Por este motivo, a Secretaria de Inclusão e Acessibilidade (Siac), criada este ano, acompanha as demandas apresentadas pela comunidade acadêmica e busca soluções para que a Universidade continue se constituindo como uma instituição cada vez mais inclusiva."

Século Diário também procurou o Departamento e o Colegiado de Geografia da Ufes, mas não obteve retorno.

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