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ES está na contramão de campanha nacional por aulas presenciais somente com vacina

“Educação é prioridade e vacinação dos educadores também deve ser”, defendem políticos, ativistas e pesquisadores

Rodrigo Araújo/Governo ES

O Espírito Santo está na contramão da campanha nacional “Profissionais da Educação: Vacina Já!”, capitaneada pelos deputados federais Idilvan Alencar (PDT/CE) e Professora Dorinha Seabra (DEM/TO), que defendem a vacinação desses trabalhadores contra a Covid-19 como prioridade para a reabertura segura das escolas do país.

Em solo capixaba, apesar de afirmações feitas pelo secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo, e do presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-ES), Vilmar Lugão, de que estão se esforçando implementar a pauta no Plano Nacional de Imunização, sem sucesso, a decisão anunciada na última terça-feira (26) foi pelo retorno presencial ou híbrido em todas as escolas públicas entre três de fevereiro e primeiro de março, independentemente do sucesso ou não das alegadas tentativas dos dois gestores.

No lançamento virtual da campanha, no último dia 14, no canal do deputado Idilvan no YouTube, a ativista Priscila Cruz, presidente-executiva da ONG Todos Pela Educação, arriscou uma síntese da discussão empreendida pelos convidados, entre parlamentares, governadores, trabalhadores e gestores estaduais e municipais da Educação de diversos estados: “É muito fácil falar da boca pra fora que Educação é prioridade, mas a prioridade se transforma em realidade quando a gente por exemplo tem uma decisão de priorizar a vacinação dos professores. Vamos colocar essa prioridade, tirar da boca e colocar na ação, vamos dar prioridade para os professores. A gente não está apenas vacinando professores, a gente está cuidando dos profissionais da Educação, acelerando a abertura das escolas, acelerando o cuidado a esses alunos, principalmente dos mais pobres que estão sendo mais afetados”.

A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, é favorável à iniciativa da campanha, que tem apoio de entidades como o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), e o movimento Todos Pela Educação. Ela contesta a decisão de retorno presencial sem vacinação. Ethel lembra que, embora haja possibilidade de os pais optarem pelo não comparecimento dos filhos à escola, podendo assistir as aulas de forma remota, existe o risco para os profissionais da educação. 

“As pessoas não estão se sentindo seguras e pode acontecer como no ano passado, que poucos estudantes compareceram. Mas mesmo que vá apenas um estudante se mobiliza todo o conjunto dos trabalhadores. Com as novas variantes do coronavírus, mais transmissíveis, vamos ter que avaliar de perto os impactos desse retorno presencial sem vacinação dos profissionais da educação”, afirma Ethel. Entre os questionamentos que ela traz está sobre como o poder público irá fazer esse acompanhamento. “Qual é o plano de testagem? Como vai ser feito? Precisa de mais transparência nessas questões”, reivindica.
A epidemiologista destaca que, com as novas cepas do vírus, mais transmissíveis, a chance de crianças e adolescentes infectarem as pessoas que residem com elas, como idosos, é maior. “A escola propicia aglomeração e é um importante local de transmissão do vírus, até mais do que hospitais, como já ficou comprovado no Reino Unido”, explica. Para Ethel, se a ideia da gestão de Renato Casagrande (PSB) é priorizar a educação, deve ser levado em consideração que não é possível abrir tudo.
“O que a gente vai fechar para abrir escola? Não dá para abrir tudo, alguma coisa tem que fechar. Vai fazer como na França, que abriram escola e fecharam comércio? Não tem como abrir e agir como se tivéssemos voltado ao normal, pois não está tudo normal. Ainda estamos no meio de uma pandemia”, diz Ethel, que destaca que a taxa de transmissão (RT) no Espírito Santo é de 1.06, e no interior também está acima de um, em um cenário de segunda onda em que há aumento de casos de infecção e mortes.
Direito de escolha?
Por mais que o governo do Estado e os municípios afirmem que os alunos têm a opção de assistir as aulas de forma remota, há o questionamento sobre se de fato é possível para todos colocar isso em prática. “Quem vai ter ‘direito’ de escolher? A esmagadora maioria dos estudantes da educação pública são filhos da classe trabalhadora. Isso significa que, com todas as atividades econômicas em funcionamento, essas pessoas não têm escolha. Logo, seus filhos também não. Se pais ou responsáveis ‘escolherem’ não mandar as crianças para escola, terão que ficar em casa com elas. E quem vai ganhar o pão?”, questiona a presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo (Adufes), Ana Carolina Galvão. A professora destaca que os governos não se importaram em garantir saúde, assistência social, auxílio financeiro adequado às famílias em meio à pandemia. 
O mesmo destaque é feito pelo deputado estadual Sérgio Majeski (PSB). “Com crianças em casa, principalmente nas áreas periféricas, piorou a alimentação, aumentou exposição a violência. Aula híbrida? Com que estrutura? Dizer que estão tomando todas as medidas de segurança é conversa pra boi dormir. Os prefeitos de agora podem dizer que deveria planejar na gestão anterior. Mas eles já sabiam dessa situação. Parece que todo mundo ficou na vã esperança que em 2021 ia tudo se normalizar. É a única explicação. O descaso é gigantesco”, denuncia.
Auxílio para equipamentos
Outro ponto importante evidenciado durante o lançamento virtual da campanha foi o posicionamento do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), que doou, aos alunos das universidades e escolas públicas estaduais, chips com pacotes de dados para acesso à internet e tablets para que os mais de 300 mil estudantes possam ter melhores condições de acesso ao ensino remoto, implementado por conta da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O coletivo Luta Unificada dos Trabalhadores da Educação do Espírito Santo (LUTE-ES) critica o modelo de ensino à distância, mas afirma que, neste momento de urgência, é o mais seguro.

Uma das críticas que o LUTE faz em relação ao ensino remoto é que, ao contrário do que aconteceu no Ceará, no Espírito Santo não houve disponibilização de acesso a equipamentos para estudantes. “Em algumas casas, por exemplo, tem mais de uma criança e um único equipamento para todas usarem. Isso reflete no aproveitamento”, diz o professor e integrante do LUTE, Demian Cunha.
Ele faz outras críticas à forma como o ensino remoto foi aplicado no Espírito Santo, pois, afirma, professores também não tiveram auxílio para aquisição de equipamentos, não houve debate com a comunidade escolar, há sobrecarga de trabalho para professores, as orientações da Secretaria Estadual de Educação (Sedu) mudam de maneira constante e a plataforma utilizada, que é a Google, pode possibilitar envio de informações para a empresa.
Sérgio Majeski também faz críticas à falta de assistência para alunos e professores. “As aulas vão começar do jeito que terminaram no ano passado, sem nenhum tipo de assistência. Em algumas prefeituras até pior que o estado. Em junho do ano passado todo mundo sabia que não tinha uma data para a pandemia acabar. E apesar de saber disso, concretamente, o que o Estado e prefeituras fizeram no sentido de criar mecanismo pra que a educação funcionasse melhor esse ano?”, questiona o parlamentar.

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