Quinta, 25 Abril 2024

'Faltam profissionais para crianças com deficiência nos CMEIs de Vitória'

cmei_cecilia_emireles_professor_roberto_martins Divulgação/Professor Roberto Martins

Faltam profissionais para assistir as crianças com deficiência também na rede municipal de educação infantil de Vitória. A exemplo do que o coletivo Mães Eficientes Somos Nós (MESN) já vem denunciando em relação à morte social dessas crianças e adolescentes na rede estadual e do município da Serra, onde o grupo tem mais residentes, também na Capital diversas mães denunciam que, mesmo após reivindicarem esse direito às escolas e à prefeitura, continuam sendo ignoradas e não sabem mais o que fazer. 

"Todo ano é uma luta para conseguir o que já é direito das crianças com necessidades especiais, que é a auxiliar em sala de aula. Eu gostaria de uma orientação, de onde posso ter contato com o prefeito [Lorenzo Pazolini, Republicanos], que se dizia a favor da causa autista. Já fui na Seme [Secretaria Municipal de Educação], já reclamei na escola, e nada. Estou esgotada", relata Renata Rodrigues, mãe de dois autistas, com cinco e quatro anos, matriculados no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Cecilia Meireles, em Monte Belo. 

Renata observa que na sala de um dos filhos há outras duas crianças com deficiência, mas "apenas uma auxiliar de Educação Especial que se divide entre todos os alunos, sendo que cada aluno com necessidade especial precisa de um auxiliar", o que não está acontecendo. 

E para piorar, sublinha, o contrato da auxiliar é de quatro horas, então, nos últimos 45 minutos de aula, todos os dias, as crianças ficam sem auxiliar. "Elas vão embora às 11h, então a gente fica dependendo de outro funcionário, geralmente as auxiliares de serviços gerais que acabam fazendo esse trabalho. Eu busco meu filho às 11h, mais cedo, acho melhor. Tenho medo dele ficar sozinho e se machucar", relata.

Somada à falta de auxiliares, há também a dificuldade com o serviço médico. "Meu filho de cinco anos ainda não conseguiu consulta. Nem no posto de saúde nem na Amaes [Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo]. Só consigo laudo na consulta particular". 

Renata ressalta que é inegável o impacto positivo de uma Educação Especial bem conduzida. "Ano passado o meu mais velho evoluiu muito. Ele nunca tinha conseguido ficar em sala de aula direitinho, fazer os deveres...a professora é maravilhosa, mas ela não está podendo dar aula este ano para todos como antes, porque está sem as auxiliares". 

Com praticamente um mês e meio do ano letivo de 2022 já transcorrido, o desespero das mães as fez se unirem em busca de fortalecimento e soluções urgentes. "Se todas reclamarem juntas, talvez consigam mais. Mães de outros CMEIs também se uniram para sermos ouvidas".

Germana Oliveira Hosken dos Santos é outra mãe nesse grupo crescente. O filho estuda no CMEI Zenaide Genoveva Marcarini Cavalcanti, em Jardim da Penha. "Sempre foi visto como referência, mas este ano não está atendendo às necessidades dos nossos filhos. Faltam auxiliares. E com isso todos ficam prejudicados, as crianças com e sem deficiência", afirma. 

O filho de Germana teve paralisia cerebral. "O cognitivo dele não foi afetado, ele fala, entende tudo, mas não anda, só rasteja, precisa de uma auxiliar só para ele. Até para que as outras crianças não pisem nele!", descreve. 

Sua reivindicação à gestão municipal consta como atendida, relata a mãe. "A prefeitura diz que estão contratando. Me ligaram dizendo 'mãe, depois do carnaval ele vai ser 100% assistido. Mentira", denuncia. O motivo é que a auxiliar da professora, que atende a turma toda, está afastada, com atestado de trinta dias, por isso a auxiliar do seu filho está tendo que substituí-la nos cuidados com toda a turma, deixando a criança que não anda sozinha. 

Na turma da sua outra filha, que não tem deficiência, há uma criança que não se comunica e precisa muito de uma auxiliar individual. "Mas por falta de gestão da prefeitura, acontece a mesma coisa. A auxiliar de Educação Especial está desvinculada dessa função, atendendo ao conjunto da sala".

O desrespeito também parte das famílias dos estudantes, relata Germana. "As crianças aprendem o desrespeito com os próprios pais. Quem tem filho com deficiência, tem direito a uma vaga especial na porta da escola. Mas isso não é respeitado constantemente. Teve um dia que pedi licença a um pai que tinha estacionado o carro na vaga especial. Na frente do filho dele, me questionou: 'por acaso tem alguém na cadeira de rodas no seu carro?'. Tive que explicar que deficiência não está escrito na testa e não se caracteriza só pelo uso de cadeira de rodas. Ele saiu cantando pneu, reclamando. Olha o que ele ensinou para o filho", lamenta. 

A precariedade do atendimento às crianças com deficiência na rede municipal, não só na Educação Infantil, mas também no ensino fundamental, chegou ao gabinete da vereadora Karla Coser (PT), que enviou um requerimento de informações a respeito da situação de contratação de pessoal e da organização do atendimento na Educação Especial. "Visitamos algumas unidades de ensino e percebemos a falta de pessoal e ferramenta para exercer o trabalho", disse em suas redes sociais nesta sexta-feira (11).

Século Diário também questionou a Seme sobre a situação relatada pelas mães. Em resposta, a secretaria informou que "há 466 crianças matriculadas na Educação Especial de Vitória" e que "atualmente, são 136 Assistentes de Educação Infantil (AEI) fazendo o atendimento a elas, além de 93 professores". Esse profissional, sublinha, "atuando na Educação Especial, cumpre horário de 10 horas diárias, para atendimento nos dois turnos".

A pasta de Educação também ressaltou que "o apoio às crianças da Educação Especial ocorre a partir da necessidade de cada criança, indicado por meio de laudo médico ou avaliado por meio da assessoria técnica da Coordenação de Educação Especial da Seme" e que "de acordo com resolução do Conselho Municipal de Educação de Vitória (Comev), o funcionário auxiliar, que é o Assistente de Educação Infantil (AEI), é apenas para crianças de 0 a 2 anos, ou seja, até o grupo 3", mas, "devido à ampliação da jornada escolar, a Secretaria de Educação também encaminhou o profissional AEI para atendimento até o grupo 4, compreendendo todas as turmas em idade de creche. Os grupos 5 e 6, que são pré-escola, não possuem atendimento por AEI". 

A Seme disse ainda que, "desde dezembro de 2021, para a organização do ano letivo de 2022, a Secretaria de Educação, por meio da Secretaria de Gestão e Planejamento (Seges), vem fazendo sucessivas chamadas de profissionais AEI para suprir as vagas nas unidades de ensino".

Veja mais notícias sobre Educação.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Sexta, 26 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://www.seculodiario.com.br/