'Todos os alunos se beneficiam do conteúdo flexibilizado da Educação Inclusiva'
Em tempos de declarações inacreditavelmente preconceituosas por parte do próprio ministro da Educação – o pastor presbiteriano Milton Ribeiro disse que crianças com deficiência atrapalham o aprendizado das demais e que, com algumas, é impossível a convivência – conhecer a experiência de um pequeno município capixaba de cultura pomerana é um oásis no deserto de gestão e coordenação que emana de Brasília.
As formações em Educação Especial, conta, não são feitas apenas com os professores especialistas, mas com todos os trabalhadores, "desde o porteiro até o diretor. Motorista, merendeiro, servente, bibliotecário, auxiliar administrativo...todos participaram desse espaço formativo".
"Uma turma inteira não estava compreendendo o Iluminismo e, a partir da flexibilização, todos compreenderam", exemplifica. "Isso atende ao nosso objetivo, de integrar, pra que todos se beneficiem".
Joziane explica que o conteúdo flexibilizado que vai ser ministrado numa sala de aula que tenha alunos com deficiência – são no máximo dois por sala – é elaborado conjuntamente pelos dois professores, o especialista e o comum.
Além desse planejamento em conjunto, o professor especialista faz o atendimento colaborativo, atuando na sala de aula comum junto com o aluno especial, e faz o contraturno na sala de recursos dentro da escola.
No contraturno, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) é feito na sala de recursos de forma individualizada, sendo duas horas por dia, duas vezes na semana, com cada aluno. No caso dos alunos cujas famílias optam pelo AEE em outras instituições, a eles é prestado apenas o atendimento colaborativo no turno da sala comum.
Professores especialistas, auxiliares, estagiários, psicólogo e fonoaudióloga compõem o quadro de profissionais do Centro de Referência de Educação Inclusiva, que atendem a 108 alunos distribuídos em 48 unidades de ensino. No total, são nove professores especialistas, cerca de 40 auxiliares e três estagiários.
Na rede de Santa Maria, Joziane explica que o estagiário desenvolve o mesmo trabalho que o auxiliar, porém, na perspectiva de ser uma atividade de formação para seu currículo e vivência como estudante. É uma experiência, portanto, bem diferente da que ocorre na rede estadual e nas redes municipais que seguem a mesma diretriz, onde é comum o estagiário ser chamado pejorativamente de "babá de aluno", fazendo as vezes do cuidador, em atividades que não estão alinhadas com seu currículo de graduação. "O estagiário é apoio do professor. Quando ele adentra na nossa rede, eu digo que eles são o braço direito do professor, dando suporte no desenvolvimento diário das atividades com os alunos", qualifica a coordenadora.
"A gente vê como um investimento na potencialização dos nossos alunos. Enxergamos as potencialidades e as possibilidades do ensino. A gente costuma falar que os professores especialistas que vêm aqui pela primeira vez sentem dificuldade, porque o trabalho é muito diferenciado. Chegam com um modelo médico-pedagógico, mas nós temos um trabalho pedagógico e contextualizado. Mas logo se adaptam", relata.
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