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Ministério Público apura denúncias sobre retiro religioso em Marataízes

Pastor teria se comprometido a impedir participação de menores de 18 anos

Redes sociais

O Ministério Público do Estado (MPES) instaurou dois procedimentos para apurar denúncias de participação de crianças e adolescentes em atividades inadequadas à faixa etária no Retiro Sobreviventes, organizado pela Igreja da Família, de Marataízes, no litoral sul do Estado.

O pastor Leandro Saldanha, “comandante” do retiro, foi notificado pelo MPES, e se comprometeu a cancelar a edição que estava prevista para setembro último, além de adotar medidas para que apenas maiores de 18 anos participem das próximas edições. O retiro agora acontecerá de 7 a 9 de novembro, no Centro de Celebrações da Igreja da Família.

De acordo com o Ministério Público, a Promotoria de Justiça de Marataízes instaurou um primeiro procedimento apuratório em 2023, quando aconteceu uma edição do retiro em Vargem Alta, no sul do Estado. Depois, o inquérito foi repassado à Promotoria de Justiça de Vargem Alta. O Inquérito Policial instaurado visou a apuração de possíveis crimes de tortura, maus-tratos e entrega de arma de fogo a crianção ou adolescente.

Em 2025, a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de Marataízes instaurou novo procedimento, mas agora com foco na prevenção da participação de crianças e adolescentes em atividades semelhantes. “O Ministério Público continuará acompanhando o caso, com o objetivo de assegurar o cumprimento das medidas acordadas e a proteção integral de crianças e adolescentes”, diz.

O caso ganhou repercussão após a publicação de matéria na newsletter Cartas Marcadas, do site jornalístico The Intercept Brasil, em setembro. Em fotos e materiais de divulgação, participantes apareciam segurando armas, mas não era possível saber se eram réplicas ou não.

O conteúdo foi retirado do perfil de Instagram do evento logo em seguida, mas a reportagem de Século Diário ainda identificou imagens feitas por usuários que participaram de outras edições e marcaram o perfil – essas também saíram do ar posteriormente. Uma das postagens, de novembro de 2023, registrava um grupo de participantes junto com duas pessoas que aparentam ser da organização. Um deles, no centro da imagem, aparece segurando o que seria a réplica de um fuzil.

Em outra postagem, de 2024, o pastor Leandro Saldanha aparecia ao lado de Cabo Vidal, servidor da Polícia Militar do Espírito Santo que oferece cursos preparatórios para quem deseja ingressar na PM. No ano passado, ele foi candidato a vereador de Marataízes pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e ficou como suplente, tendo obtido 564 votos.

Também havia várias fotos de participantes em outras atividades dos acampamentos, como cultos, corridas com características militares e disputas de cabo de guerra. As imagens eram acompanhadas de versículos bíblicos e depoimentos sobre experiências dentro do acampamento.

O Retiro Sobreviventes é organizado pela Igreja da Família, nome adotado em anos mais recentes pela centenária Primeira Igreja Batista da Barra do Itapemirim. Desde 2011, Leandro Saldanha é o pastor-presidente da igreja, tornando-se o responsável por direcionar a instituição para uma linha mais próxima do pentecostalismo – o que gerou conflitos com fiéis mais apegados à liturgia batista tradicional.

Segundo o The Intercept Brasil, algumas imagens nas redes sociais do retiro mostravam jovens prostrados após atividades físicas. A presença das réplicas de armas também era uma constante, e a frase “Deus acima de tudo!”, emulando o slogan do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), era utilizado por instrutores. O The Intercept também identificou uma bandeira do Pelotão de Operações Especiais de Vila Velha (Pelopes) em uma foto de uma edição do retiro realizada em março deste ano.

Em resposta ao The Intercept Brasil, a Igreja da Família afirmou que o retiro não utiliza armas de fogo reais, mas, segundo o site, não informou se os armamentos são impressos em 3D ou réplicas não letais de plástico (airsoft). A compra desse tipo de réplica não é permitida para menores de 18 anos, e chega ao consumidor com uma ponta laranja para distinguir de armas de fogo reais – mas essa diferenciação costuma ser intencionalmente removida pelos compradores.

O The Intercept Brasil afirma que, após a repercussão da matéria, chegaram novos relatos de possíveis irregularidades, envolvendo pressão psicológica, humilhação, fome e até sacrifício de animais na presença de jovens.

‘Quem vive, sabe’

A partir de outubro, novas imagens passaram a ser postadas no perfil do Retiro Sobreviventes no Instagram. Uma das postagens é um vídeo com registros curtos de edições anteriores. Em cima do vídeo, foi colocada a frase: “Sobreviventes. Sem áudio viral”.

“Nem sempre dá pra explicar o que acontece no Sobreviventes… Mas quem vive, sabe. É o som das lágrimas, das orações, da presença de Deus se movendo. E só o Espírito Santo fazendo o que só ele pode fazer”, diz a legenda da postagem.

De acordo com o site de venda de ingressos do Retiro Sobreviventes, o valor para se inscrever é R$ 220.

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