Quatro pessoas, entre elas, o casal de empresários Ricardo e Sandra Corteletti, continuam presas após a Operação Sanguinello, deflagrada nesta quarta-feira (28), que desarticulou uma organização criminosa envolvida em fraudes no comércio atacadista de bebidas. De acordo com informações do Ministério Público Estadual (MPES), os promotores responsáveis pelas investigações estão ouvindo o depoimento dos envolvidos. Dois presos na operação acabaram sendo liberados após terem colaborado com as apurações.
Durante a tarde e início desta quinta-feira (29), os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) ouviram o depoimento do empresário Frederico de Lima e Silva Leone. A previsão é de que Sandra da Penha Corteletti, também presa na operação, prestasse depoimento ainda na noite de quinta. Já o depoimento do empresário Ricardo Lúcio Corteletti está previsto para as 10 horas desta sexta-feira (30).
Segundo informações do MPES, outros dois presos na operação – João Batista Tomaz de Carvalho e Juscelino de Jesus Carvalho, apontados como laranjas do esquema – foram ouvidos na tarde de quarta e foram liberados após terem colaborado com as investigações. Já Cristiano da Silva, também acusado de emprestar o nome para dar vazão às fraudes, não quis prestar depoimento e segue preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana.
Na próxima semana, os integrantes do Gaeco devem ouvir outras quatro pessoas que também figuram como possíveis envolvidos no esquema, mas que não tiveram a prisão decretada. Além da oitiva dos envolvidos, os responsáveis pelas investigações estão analisando documentos e o material apreendido.
Segundo as apurações iniciais, os acusados podem responder pelos crimes de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, organização criminosa e crime contra a ordem tributária. As penas totais podem variar de seis a 21 anos de prisão. De acordo com o MPES, os depoimentos e o material apreendido indicam que o esquema de fraudes tem extensão maior que o apurado inicialmente, com mais pessoas e empresas fictícias envolvidas, bem como um valor financeiro superior ao apurado inicialmente – em torno de R$ 230 milhões –, nas operações comerciais com fortes indícios de irregularidades.
Entenda o caso
As investigações da Operação Sanguinello tiveram início em outubro do ano passado, a partir de levantamentos feitos pela Receita Estadual e o Ministério Público dos dois estados. Os fatos se tornaram mais evidentes em fevereiro deste ano, logo após a denúncia do empresário Rodrigo Fraga, dono de um restaurante em Vila Velha, que antes de cometer suicídio fez várias acusações contra o sócio de fato do negócio, Frederico de Lima e Silva Leone, também preso na operação desta quarta. O episódio teria corroborado com o trabalho que já vinha sendo executado.
Segundo o Ministério Público, a importadora de bebidas NewRed, sediada em Vila Velha, emitia documentos fiscais para acobertar a venda de mercadorias para o Distrito Federal e outros estados da Federação. No entanto, os produtos eram descarregados em Minas Gerais em empresas localizadas na região do Ceasa, onde ficariam os reais beneficiários do esquema.
Para justificar a entrada da mercadoria e acertar o estoque, os verdadeiros destinatários se valiam de notas fiscais “emitidas” por empresas fictícias, a maioria delas no município de Itaúna, na região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. A estratégia permitia que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente nas operações fosse assumido por essas empresas de fachada, constituídas em nome de “laranjas”.
No Espírito Santo, foram cumpridos 11 mandados de busca nos municípios de Vitória, Vila Velha e Cariacica, além da realização de diligências fiscais e efetivação de ordens judiciais de sequestro de bens para garantir a eventual restituição das quantias sonegadas. Em Minas Gerais, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão – oito em empresas e três em residências – e nove mandados de prisão temporária.