O relatório final da CPI do Cachoeira, apresentado nessa quarta-feira (21) pelo relator das investigações, deputado Odair Cunha (PT-MG), confirmou a ligação do esquema de lavagem de dinheiro da Delta Construtora S/A com empresas sediadas no Espírito Santo. Nos últimos anos, duas empresas laranjas capixabas aparecem na contabilidade das empresas investigadas. No mínimo, somente essas duas empresas lavaram mais de R$ 23,5 milhões entre 2011 e este ano.
A célula da organização criminosa no Espírito Santo só ficou atrás dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo em volume de operações.
Segundo o texto do relatório, distribuído entre os membros da CPI e que poderá ser alterado até a leitura oficial adiada para a próxima semana, foram identificadas 77 empresas laranjas que teriam sido utilizadas para lavar o dinheiro da Delta Nacional no pagamento de propinas com políticos, financiamento de campanhas eleitorais e repasse de dinheiro para a organização criminosa encabeçada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.
As suspeitas teriam partido da similaridade de dados cadastrais entre as empresas como, por exemplo, a proximidade nas datas de abertura e encerramento dos negócios, ou até mesmo a falta de registros de funcionários na RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). No total, as empresas laranjas do esquema teriam movimentado R$ 429,68 milhões nos últimos dez anos.
“As movimentações financeiras entre as empresas suspeitas e as investigadas ocorrem em maior volume no estado de São Paulo, seguido pelo estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Tais fatos são coerentes tendo em vista a existência de maior número de empresas situadas no estado de São Paulo”, narra um dos trechos do relatório.
Foram identificadas como laranjas no Espírito Santo, as empresas Garra Transportadora e Locação e Logística de Veículos Ltda ME e Michelin Espírito Santo Comércio, Importação e Exportação Ltda, sediadas nos municípios de Viana e Vila Velha, respectivamente. Os nomes das empresas constaram na contabilidade das empresas investigadas por ligações com a Delta Construtora.
Deste grupo, a Garra Transportadora foi a única empresa laranjas local que teve o registro das movimentações financeiras descrito no relatório final da CPI. De acordo com as investigações, a empresa de fachada movimentou um total de R$ 23.507.076,06 nos últimos dois anos, fato que a coloca entre as principais beneficiárias no esquema de lavagem de dinheiro da Delta no País.
A relação entre a Garra e a empreiteira carioca teve início em 2011, pouco depois da constituição da empresa de fachada no dia 25 de outubro daquele ano. Naquele ano, a Garra recebeu R$ 13.110.272,92 vindo da conta da Delta. Em 2012, os membros da CPI identificaram o recebimento de R$ 10.396.803,14 nas contas da empresa registrada nos nomes de dois laranjas: Eliandro Paula da Conceição e Gláucio Barcelos, que sequer residem no Espírito Santo.
O relatório final da CPI faz ainda referência à empresa Michelin Espírito Santo, que também seria utilizada no esquema de lavagem de dinheiro entre as empresas do esquema Delta/Cachoeira. No texto, o relator pede que o Ministério Público Federal (MPF) dê continuidade às investigações, com a quebra do sigilo fiscal da empresa, para apurar a origem do dinheiro recebido no esquema.
Negócios no Estado
O texto também cita as relações comerciais da Delta Construções com órgãos públicos no Espírito Santo. De acordo com a CPI, a empreiteira carioca recebeu um total de R$ 1,458 bilhão em contratos com órgãos públicos estaduais no País entre os anos de 2002 e 2012. No Estado, a empresa recebeu R$ 152,87 milhões em acordos no mesmo período.
A principal fonte de receitas da empresa foi a Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), com R$ 51.278.412,51; seguidos pela Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz), com R$ 44.428.066,33; Departamento de Estradas e Rodagens do Estado (DER-ES), com R$ 31.041.903,16; e Poder Judiciário do Estado, com repasses de R$ 26.121.859,16.
O relatório também avançou sobre as transações financeiras entre a Delta e os órgãos públicos municipais. A empresa carioca recebeu pouco mais de R$ 6 milhões em acordos com prefeituras capixabas. Segundo a CPI, as receitas partiram dos cofres da prefeitura da Serra (R$ 6.058.889,13), Aracruz (R$ 41.368,01) e Barra de São Francisco (R$ 4.809,45).
Delta e o governo Hartung