Sexta, 26 Abril 2024

Ameaçadas de extinção, lontras são fotografadas na Lagoa Encantada

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Izanildo Sabino
Um registro raro de uma espécie arisca aos seres humanos e ameaçada de extinção é motivo de entusiasmo entre os defensores da Lagoa Encantada e seus alagados, na região de Vale Encantado, em Vila Velha: duas lontras (Lontra longicaudis) foram fotografadas nadando na lagoa, aparentemente em comportamento de reprodução, comprovando que o local de fato abriga a espécie, conforme os ambientalistas já supunham, a partir de vestígios encontrados dentro do manguezal. 

A presença do animal reforça a necessidade de criação de uma unidade de conservação que protege esses ecossistemas - lagoas, alagados, manguezal, restinga e rio -, garantindo a manutenção de serviços ecossistêmicos fundamentais, como a conservação da biodiversidade, o sequestro de carbono e a regulação das cheias urbanas que acometem periodicamente o município, especialmente em sua porção sul, onde a Lagoa Encantada está localizada.

"Esse achado só confirma que essa área tem que virar unidade de conservação, englobando todas as lagoas, não só a principal. No texto que foi para consulta pública, isso está posto, vamos ver se a minuta que será enviada para a Câmara de Vereadores vai manter", pondera o biólogo Flávio Mendes da Silva, integrante do Fórum de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental do Grande Vale Encantado (Desea), uma das organizações que encabeça os movimentos de proteção da região e de transformação em unidade de conservação. 

A lista vermelha capixaba, que reúne as espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção, em sua atualização feita em 2019, classifica a Lontra longicaudis como Vulnerável e aponta que as principais ameaças são as alterações dos ambientes naturais por poluição, desmatamento e interação com animais domésticos, que podem caçá-las ou transmitir doenças, como a cinomose.

Antes das fotos do casal de lontras se banhando na lagoa, os ambientalistas guardavam, nos últimos anos, muitos registros de vestígios, como fezes e rastros, sempre em lugares de difícil acesso, como o manguezal. Com isso, já consideram que a espécie fazia parte da fauna selvagem local.

"A lontra é em geral um bicho muito difícil de ver. Até quem estuda a espécie, faz isso mais pelas fezes e rastros, mesmo. E elas são consideradas solitárias, que só ficam juntos durante o acasalamento e reprodução. Por isso, o interessante desse registro do Izanildo [Izanildo Sabino, também ambientalista membro do Fórum Desea] é que parece tratar-se de um casal. É um indicativo de eles irão se reproduzir ou de que talvez até já estejam com filhote", comemora o biólogo.
Izanildo Sabino

Flávio explica ainda que, além do comportamento mais arisco, a lontra torna-se ainda mais reservada em lugares como a Lagoa Encantada, que, por estar no meio urbano, é visitado por um número grande de pessoas. "O comportamento delas aqui é de ficar ativa à noite ou nos horários crepusculares, no início da manhã ou fim de tarde, quando menos pessoas costumam frequentar". 

E quando está ativa, caça com intensidade, necessitando de uma quantidade substancial de energia. "Ela é um predador de topo de cadeia e precisa comer muito. A dieta básica é de peixes e crustáceos, mas ela come de tudo, anfíbios, aves...Então ver essas lontras ali mostra que a área tem abundância de alimentos, muitos peixes, caranguejos, anfíbios. Precisa ser preservada", reforça. 

A lontra pode ainda ser considerada uma "espécie guarda-chuva", ou seja, ações de proteção dela abrigam naturalmente medidas de proteção de diversas outras espécies e ambientes, como acontece com a tartaruga-marinha, que é fundamental para a saúde dos ambientes marinhos e costeiros do Brasil, onde há bases do Projeto Tamar e outras iniciativas de conservação da espécie. "No caso da lontra, é interessante ainda que ela é um mamífero semiaquático, precisa tanto de ambientes aquáticos quanto de ambientes terrestres preservados", acrescenta. 

Unidade de conservação

A proposta em curso no município é de criação de uma unidade de conservação de proteção integral, na categoria parque natural municipal, com tamanho de 200 hectares, incluindo o manguezal e o leito do rio Aribiri, que nasce nas proximidades da lagoa.

Após a consulta pública, encerrada no final de abril, as definições de categoria de UC e delimitação serão encaminhados para a Procuradoria do Município e o Ministério Público do Estado (MPES), que farão avalições fundiárias e outros desdobramentos. Por fim, a prefeitura deve elaborar uma minuta de projeto de lei para criação da UC, que terá que ser apreciada e aprovada pela Câmara de Vila Velha.

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