Sexta, 19 Abril 2024

Após chuvas, pescador registra rejeitos de minério em praia de São Mateus

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Após as chuvas que atingiram o Espírito Santo, um pescador de São Mateus, norte do Estado, gravou um vídeo registrando a presença de rejeitos de minério na praia de Barra Nova Sul, nessa segunda-feira (13). A região é uma das áreas atingidas pelo crime ambiental da Samarco/Vale-BHP, em 2015, considerado o maior da história brasileira.

Clenildo Nascimento dos Santos, morador da região, foi quem gravou os vídeos. Ele explica que os rejeitos são vistos no local há anos, desde que o crime ocorreu, mas são mais recorrentes após períodos de chuva intensa. "Tem vez que para um pouco, mas quando dá chuva e vento, vem tudo de novo. Agora que deu bastante chuva, alvoroçou o mar, mexeu com o fundo do rio, com a lama, aí esse rejeito anda aparecendo, vêm espumas também", explica.

Enquanto isso, Clenildo assim como outros pescadores que dependem do mar para sobreviver, vivenciam a preocupação com o futuro da pesca no local, atividade que também é a fonte de sustento da esposa. "Nós não sabemos se está apropriado, né? Não temos um laudo concreto, uma confiança igual nós tínhamos de comer, de pescar tranquilo", relata.

Ele lembra que a Renova, fundação responsável pela reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, não tem cumprido com acordos firmados, o que é outro fator de preocupação. Ele foi um dos moradores da região que, em razão da emergência financeira, precisou fazer um contrato mais rápido com a entidade, com valores inferiores aos que teria direito. "Eles também estão se aproveitando, porque agora o pescador está endividado, então não consegue esperar um prazo mais longo para receber o seu devido direito e tem que aceitar qualquer proposta", aponta.

A lentidão e ineficiência da Renova são reiterada por especialistas. Em 2020, uma pesquisa realizada pela Rede Interinstitucional ComRioComMar verificou que a fundação executou apenas 17% das ações previstas no Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) firmado em 2016, logo após o rompimento. O acordo foi estabelecido com a União, governos do Espírito Santo e Minas Gerais, bem como autarquias ambientais federais e estaduais.

"Tem pessoas que nunca botaram uma linha dentro da água, que não sabe nem remar, receberam 400 mil, 500 mil. É triste para nós, né? Que somos pescadores, que agora precisamos voltar a pescar e não tem como. A gente fica até em dúvida de pescar, porque muitas das vezes, quando entra na água, depois vem aquela coceira (...) É complicado demais", ressalta.

Pescador há 26 anos, Clenildo conta que a produção que tinha antes também não é a mesma após o crime socioambiental. "Antes disso tudo, nós juntávamos aí por semana 150 kg, 200 kg de peixe. Hoje, para juntar 30 kg, 20 kg de peixe na semana, dá trabalho. Isso quando encontra ainda. Tem semana que você mal pega pra comer", afirma.
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As pesquisas sobre os impactos do crime ambiental na região costeira e marinha do Espírito Santo são realizados pela Rede Rio Doce Mar (RRDM), que reúne cerca de 500 pesquisadores de diversas instituições, incluindo a Fundação Espírito-Santense de Tecnologia, vinculada à Universidade Federal do Espírito Santo (Fest-Ufes).

Desde o ano passado, a Renova tenta encerrar o contrato com os pesquisadores. Em outubro de 2020, a fundação chegou a romper o acordo de forma unilateral, o que não foi permitido pela Justiça Federal. Na ocasião, pesquisadores temiam a falta de transparência nos estudos que poderiam ser realizados por empresas privadas.

Por cinco vezes, a Justiça Federal determinou que os pesquisadores da Rede Rio Doce Mar (RRDM) fossem mantidos nos estudos. A última foi em novembro deste ano, durante reunião virtual entre a Renova e a Câmara Técnica de Biodiversidade do Comitê Interfederativo (CTBio/CIF), que prorrogou o prazo de permanência por 90 dias.

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Comentários: 1

adriano moccelin em Sábado, 18 Dezembro 2021 15:44

onde acesso o vídeo?

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