Quatro militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) relataram que foram agredidos durante o ato desta terça-feira (15), na Assembleia Legislativa, pelo deputado estadual e segundo secretário da Mesa Diretora, Roberto Carlos (PT), e pelos seguranças da Casa.
Segundo os camponeses, que preferiram não se identificar por medo de represálias, o deputado prometeu que os deixaria entrar no saguão mas, posteriormente, recuou da decisão. Diante da recusa, os camponeses tentaram entrar à força na Assembleia e o deputado, após ver que ele e os seguranças presentes não conseguiriam contê-los, agrediu os manifestantes que estavam mais à frente, chutando a canela de um e torcendo o braço de outro. Os relatos afirmam que o deputado ainda autorizou a repressão dos seguranças, que agrediram os outros dois militantes – inclusive uma mulher, que foi empurrada contra a porta de vidro.
Apesar da confusão, os camponeses conseguiram entrar no saguão da Assembleia e ocupar a galeria, enquanto acontecia a sabatina à vaga do Tribunal de Contas no plenário. No saguão, havia também uma feira de artesanatos e produtos do campo, que os militantes do MPA apoiaram.
“Ficamos muito chateados, porque ele é um deputado do PT, partido com o qual temos ligação”, destacou um dos militantes agredidos. Ele e os outros três companheiros registrarão um Boletim de Ocorrência (BO) e contarão com o acompanhamento do advogado da entidade.
Após os militantes terem anunciado a agressão com ajuda do carro de som que acompanhava a manifestação, Roberto Carlos saiu de dentro da Assembleia e tentou se retratar, sob muitas vaias, justificando que foi “eleito por Deus”. As mulheres do MPA reagiram: “Deus não vota, quem vota é o povo”, diziam. “Se Deus votasse, você não seria eleito”, bradou uma delas.
Por entre os gritos de “Fora”, Roberto Carlos ainda insistiu em falar sobre educação no campo e justiça, ressaltando, logo depois, que é um professor. A consideração não foi perdoada por uma militante, que mandou: “Tem que voltar pra faculdade pra aprender educação e ética”. Outra camponesa comentou: “Isso é discurso?”.
“Temos o direito de ter um país onde todos possam ter uma luta como essa de vocês”, elogiou, posteriormente, o vereador de Vila Velha, Zé Nilton (PT), referindo-se ao MPA.
Apesar do episódio, os coordenadores que empunhavam o microfone o responderam com educação. Convidaram-no a participar do almoço com os camponeses e, ainda, da caminhada de volta ao Sindicato dos Bancários do Estado (Sindibancários), onde estão acampados. Entretanto, alertaram: “Aceitamos desculpas, mas não aceitamos demagogia”.
Posteriormente, em sua página no Facebook, o deputado ainda tentou se justificar. Ele tratou o problema como “um pequeno incidente”, e relatou versão oposta à dos militantes, de que “enquanto buscava o diálogo, alguns membros do grupo mais exaltados forçaram a porta de entrada criando um princípio de tumulto e confronto com os seguranças, tranquilamente contornado após a entrada do MPA na Casa”. Ele ainda publicou que o “seu mandato, além de popular é participativo, está de portas abertas para sanar qualquer mal-entendido através do diálogo”.
Na dispersão do ato, uma militante disse: “Ele está quase chorando, viu que vai perder votos agora”. Ao se encaminharem de volta ao Sindibancários, anunciaram, com ajuda do carro de som: “A caneta de alguns parlamentares é mais perigosa do que as armas de muitos criminosos”.