Caminhada realizada por Comitê Popular mobilizou alerta ambiental no parque
Uma caminhada organizada pelo Comitê Popular de Luta e pela Comissão em Defesa do Meio Ambiente de Vila Velha percorreu a ciclovia em Jacarenema, na região da Barra do Jucu, para alertar a população sobre os impactos ambientais causados pela infraestrutura recém-inaugurada e pelos empreendimentos imobiliários previstos para a área do parque natural que recebeu as obras. Ambientalistas e integrantes do movimento têm apontado que as mudanças representam riscos significativos para o ecossistema local e comunidades vizinhas.

Darí Lourenço Marchesini, integrante do comitê, destaca que a estrutura funciona como um dique, impedindo o escoamento da água da chuva para a praia e aumentando as chances de enchentes nos bairros vizinhos. “Se tiver uma chuva forte, a água não tem como escoar, o que aumenta os riscos de alagamento. Ali é uma área de amortecimento, onde serão construídos os empreendimentos que financiaram as obras”, explica, em referência ao Costa Nova, um bairro planejado de alto padrão que ocupará 615 mil m² na zona de amortecimento próxima ao parque municipal, entre Araçás e Jockey, de frente para a Rodovia do Sol e a praia.
Segundo as informações já divulgadas, a liberação do projeto Costa Nova, localizado na zona de amortecimento da Unidade de Conservação (UC), pela Prefeitura de Vila Velha, sob a gestão de Arnaldinho Borgo (Podemos), foi condicionada ao financiamento de obras de compensação ambiental homologadas pelo Ministério Público do Estado (MPES). Entre essas obras estão a nova Ponte da Madalena e a ciclovia no parque, cujo impacto sobre a restinga – uma área de proteção permanente – foi denunciado por movimentos sociais e especialistas como crime ambiental.
As obras receberam um investimento superior a R$ 11 milhões e incluem a reconstrução da ponte da Madalena, que substituiu a antiga estrutura desabada em 2017, e conecta a Barra do Jucu ao parque natural. Projetada para pedestres e ciclistas, a nova ponte conta com dois mirantes e iluminação especial. Além disso, foi construída uma via de acesso de três quilômetros de extensão, com pavimentação, drenagem e ciclovia, que liga o balneário ao bairro Jockey de Itaparica.
A atividade desse domingo teve o objetivo de informar a população sobre as mudanças no Parque Natural Municipal de Jacarenema, unidade de conservação de 346 hectares que abriga diversas espécies da fauna e flora nativas. “As pessoas não conheciam os impactos, e a ciclovia é só o início do que estão tentando fazer com Jacarenema. A prefeitura já está querendo alterar o plano de manejo, já tem o empreendimento imobiliário”, critica Darí.
Em janeiro último, a gestão municipal publicou uma licitação para revisar o Plano de Manejo do parque, um documento técnico produzido por uma equipe multiprofissional, responsável por desenvolver um diagnóstico ambiental e sociocultural da unidade de conservação e definir uso territorial para cada uma das áreas propostas no zoneamento planejado. A medida preocupa especialistas e militantes de movimentos sociais, que temem a flexibilização de normas de proteção para permitir uma expansão imobiliária sem controle sobre o meio ambiente, caso não sejam priorizadas a recuperação de áreas degradadas e a preservação ambiental na revisão do documento.
Além da caminhada, também foi realizada uma visita técnica ao parque municipal nesta segunda-feira (10), onde foram constatados diversos impactos ambientais, como a destruição da restinga e de outras espécies de vegetação, além da erosão do solo em alguns pontos ao lado da ciclovia.
Segundo os ambientalistas, a iluminação dos postes ao longo da via atrapalha a desova de tartarugas próximo à Ponte da Madalena e desorienta os filhotes, impedindo que cheguem ao mar. Outro ponto observado foi a ausência de lixeiras em trechos da estrutura, o que tem resultado no acúmulo de resíduos, especialmente próximo à praia e à Ponte da Madalena.
Uma nota de repúdio assinada pelo Comitê Popular de Luta, pela Comissão de Luta pelo Meio Ambiente e pelo Fórum Popular em Defesa do Meio Ambiente e da Cidadania denunciou as estruturas anunciadas como “sustentáveis” pela prefeitura. O documento critica o desmatamento da restinga e a ampliação da ocupação humana na área de preservação, que pode comprometer a biodiversidade local e a segurança da população.

Criado em 2003, Parque Natural Municipal de Jacarenema é uma unidade de conservação de proteção integral, que compreende a Praia da Barrinha, o costão rochoso do Morro da Concha e o manguezal na foz do Rio Jucu. O local abriga diferentes formações de vegetação de restinga e mata ciliar, além de uma rica biodiversidade que inclui mais de 200 espécies de aves, além de peixes e outros animais, como capivaras, lontras e jiboias. No entanto, enfrenta desafios, como especulação imobiliária e ocupações irregulares.