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Comissão Guarani Ywyrupa: ‘Não tem dinheiro que pague a perda do rio’

Contaminação do rio Piraquê-Açu pela Samarco/Vale-BHP será tema de assembleia em Aracruz

Kara´i Mírīm

A Aldeia Piraquê-Açu, em Aracruz, norte do Estado, é o endereço da assembleia da Comissão Guarani Ywyrupa (CGY) que acontece entre os próximos dias 16 e 18, reunindo lideranças Guarani capixabas e paulistas, com foco no direito ao território indígena. 

Na regionalização do tema central, São Paulo tratará da necessidade de demarcação de terras indígenas reivindicadas por diversas ocupações Guarani em áreas preservadas. Já o Espírito Santo focará no desafio de viver cercado de indústrias poluentes. 

A Terra Indígena (TI) demarcada para os Guarani e Tupinikim em Aracruz tem quase 40 empreendimentos de grande porte, como Suzano, Portocel, Jurong, Imetame e Transpetro, instaladas dentro ou no seu entorno. 

“Essas empresas precisam se acertar com a gente, ter diálogo, como tratar melhor o nosso território. Elas usam uma parte do território sem nada em troca [para as comunidades]. Está vindo um Guarani especialista em captar recursos para projetos sociais nas aldeias”, comenta o vice-cacique da Aldeia Piraquê-Açu e coordenador da CGY no Espírito Santo, Kara’i mírīm. 

Bisneto da grande líder e xamã guarani Tatanti Rua Retee, que guiou seu povo à procura da Terra Sem Males, desde o Sul do país até Aracruz, Kara’i relata a aproximação maior com as leis dos não-indígenas, como uma necessidade do momento, para garantir a continuidade do modo de ser Guarani. “Hoje a Comissão tem mais de três advogados cuidando da parte de demarcação em São Paulo e fazendo projetos culturais para as aldeias. Eles estão trazendo isso para cá”. 

Uma pauta importante da assembleia será o crime da Samarco/Vale-BHP, que contaminou gravemente o rio Piraquê-Açu. Até hoje, a pesca e a recreação no local estão suspensas, afastando as famílias de um elemento natural que sempre foi central em sua cultura, dando inclusive o nome de uma das aldeias, a anfitriã deste encontro. 

“Não tem dinheiro que pague a perda do rio”, afirma o vice-cacique, reconhecendo, no entanto, que as mineradoras precisam, de alguma forma, “arcar com o prejuízo que causaram no território”. 

Desde o rompimento da barragem, em 2015, conta Kara´i, a comunidade “sofre muito” com a perda do rio, do manguezal e toda a sua abundância. “Morreram bastante ostras, peixes, caranguejos, até os peixes que eram bem resistentes, como o baiacu, não aguentaram. Até hoje, em 2022, a gente não está consumindo mais peixe, não toma mais banho nesse rio também, temos medo”. 

Além da perda do alimento e do lazer, da tradição da pesca e de ensinar as crianças a nadarem no rio, há também as financeiras. “É um sofrimento que a gente tem. Como a nossa aldeia trabalha muito com turismo, teve muita perda de turistas e de venda de artesanato. As comunidades estão tristes, não vê mais a alegria como era. Estamos correndo atrás do prejuízo, mas é demorado demais”. 

Na esteira da assembleia da CGY, as aldeias também têm recebido representantes do escritório Pogust Goodhead, que defende os direitos de mais de 200 mil atingidos pelo crime das mineradoras em uma ação impetrada na Justiça Britânica. “Estamos vendo se podemos entrar nessa ação também”, conta o vice-cacique.

A assembleia se inicia na manhã do dia 16 e termina com um almoço comunitário no dia 18. Nos dois primeiros dias, haverá apresentações do Coral Guarani e falas de lideranças e anciões, além de momentos de aprendizado, aconselhamentos e apresentações de projeto. Na manhã do último dia, a programação é de visitas às aldeias Olho d’Água, Amarelos, Boa Esperança e Três Palmeiras e à Reserva Ka’aguy Porâ, onde a comunidade realizou um grande reflorestamento.

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