segunda-feira, agosto 4, 2025
18.9 C
Vitória
segunda-feira, agosto 4, 2025
segunda-feira, agosto 4, 2025

Leia Também:

Déficit de guardas ambientais ameaça Unidades de Conservação

Estado tem seis servidores para cuidar de 17 áreas, denuncia Sindipúblicos

Com apenas seis guardas ambientais para fiscalizar uma área de quase 55 mil hectares – o equivalente a mais de 76 mil campos de futebol – o Espírito Santo enfrenta um déficit de profissionais que fragiliza sua política de proteção ambiental. O alerta é do Sindicato dos Servidores Públicos (Sindipúblicos), que reforça a cobrança por uma nova seleção para a função, já que o único concurso com vagas para guarda-parque aconteceu ainda em 2007. Se na época a proporção já era insuficiente, tornou-se inviável com a criação de novas Unidades de Conservação (UCs) ao longo dos anos.

Em 2022, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) voltou a realizar concurso público, mas não abriu nenhuma vaga para guarda ambiental. Para o sindicato, a ausência de investimento revela que a política de conservação no Estado nunca foi efetivamente implementada. Atualmente, o Iema é responsável pela gestão de 17 unidades de conservação estaduais, que incluem parques, reservas biológicas e Áreas de Proteção Ambiental (APA). Essas unidades são criadas desde os anos 1990, mas sem que houvesse aumento proporcional de servidores para garantir sua fiscalização.

“A função de guarda-parque é essencial para a fiscalização ambiental. É quem atua diretamente na proteção do território, combate a crimes ambientais e também desenvolve ações de educação ambiental. Mas o Estado nunca estruturou esse trabalho de forma adequada”, afirma Silvia Sardenberg, dirigente do Sindipúblicos.

Sindipúblicos

Silvia explica que o trabalho de fiscalização, por segurança e eficácia, deve ser feito em duplas. “Não se pode colocar um servidor sozinho em campo, sujeito a acidentes ou situações de conflito. E para garantir plantões e escalas, o ideal seria contar com pelo menos três duplas por unidade. Ou seja, seis profissionais por UC”, detalha. Considerando a escala de trabalho desses profissionais, ela avalia que seria preciso três duplas para cada uma das 17 unidades existentes, o que demandaria uma equipe de 102 guardas-parque em atividade. “É uma estrutura completamente insuficiente”, denuncia.

Com um efetivo tão reduzido, os parques estaduais ficam vulneráveis a atividades ilegais, à ocorrência de queimadas e outras atividades que prejudicam a biodiversidade local. Além disso, Silvia ressalta que a falta desses servidores compromete o trabalho de outras categorias do Iema, que acabam sendo desviados de suas funções técnicas. “Tem biólogo e engenheiro florestal que deixa de fazer relatório ou pesquisa porque tem que sair para uma fiscalização de caça ou invasão. Isso é consequência direta da falta de pessoal”, relata.

Outro obstáculo apontado pelo sindicato é a forma como a gestão ambiental se estruturou no Espírito Santo. Antes de 1987, as medidas ambientais capixabas partiam da Secretaria de Saúde (Sesa), motivadas por preocupações com a qualidade da água e do ar — especialmente em Vitória, por conta da presença da Vale, ArcelorMittal e de outros polos industriais. A Secretaria de Meio Ambiente (Seama) não existia como pasta independente — era vinculada ao setor de desenvolvimento sustentável.

A gestão florestal cabia ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), que também cuidava de unidades de conservação já estabelecidas, como os parques da Pedra Azul, Mata das Flores, Cachoeira da Fumaça e Forno Grande, além da Reserva de Duas Bocas. Somente nos anos 1990, foi criado o Iema, que assumiu a gestão dessas áreas e passou a ampliar o sistema estadual de unidades de conservação. Surgiram então novos territórios protegidos, como os parques estaduais de Itaúnas, no norte do Estado, e Paulo César Vinha, na região metropolitana, além de Áreas de Proteção Ambiental menos conhecidas, como Pedra do Elefante e de Goiapaba-açu.

Karolina Gazoni/Iema

Para Sílvia, essa origem peculiar fez com que a “Agenda Verde” do Estado, que lida com florestas e conservação, fosse dividida. Enquanto o Iema fica responsável pela conservação e biodiversidade, o Idaf, ligado à Secretaria de Agricultura, continua com a autorização de desmatamento e o monitoramento florestal.

Ela afirma que o cenário dificulta a proteção integral das áreas verdes, já que um órgão, o Idaf, que vê a floresta como “recurso para ser utilizado”, é quem autoriza o desmatamento, e o outro, o Iema, que tem o dever de proteger, fica sem profissionais suficientes para a fiscalização. “Nos outros estados, florestas e unidades de conservação costumam estar sob o mesmo guarda-chuva institucional. Aqui essa divisão gera conflitos e dificulta a gestão integrada”, observa.

Na avaliação do Sindipúblicos, a situação atual representa a fragilidade da política de conservação capixaba. “O Estado cria as unidades de conservação, publica os decretos, mas não contrata os profissionais necessários para garantir a fiscalização. Não é só falta de concurso — é ausência de compromisso com a gestão desses territórios”, enfatiza Silvia.

A dirigente sindical relata que, junto com outros servidores, já chegou a elaborar estudos técnicos que justificavam a criação de pelo menos 100 vagas para guarda-parque, mas que a proposta nunca avançou. “A direção do Iema nunca levou adiante. É uma decisão política. E as consequências estão aí: áreas protegidas sem fiscalização, aumento da vulnerabilidade ambiental e desvalorização do próprio quadro técnico”, reforça.

Para ela, é necessário retomar a política ambiental com uma visão integrada, em vez de tratá-la de forma fragmentada entre órgãos distintos. “A política ambiental tem que deixar de ser apenas discurso e virar prática. Não dá para falar de conservação se não tem gente no campo”, enfatiza.

Mais Lidas