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‘Epidemiologia baseada no esgoto é mais rápida, precisa e barata’, ressalta sanitarista

Complementar aos testes de sangue e muco, método é limitado pela rede insuficiente, diz Ricardo Franci

Divulgação

Dando os primeiros passos para sua implementação no Estado, a epidemiologia baseada no esgoto tende a ser uma ferramenta complementar de grande importância no controle da pandemia de Covid-19. 

“O que a gente pretende com esse projeto é demonstrar que se o Espírito Santo se dotar de uma infraestrutura capaz de fazer a vigilância epidemiológica também baseada no esgoto, vamos estar melhor equipados para fazer frentes a surtos, não só de Covid, mas de outras doenças, como cólera, que já ocorreu aqui”, explana o engenheiro civil e sanitarista Ricardo Franci, professor titular do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde coordena o Núcleo Água e participa de uma equipe multidisciplinar que toca dois projetos usando a ferramenta.

Um é coordenado pela professora Liliana Cruz Spano, do departamento de Patologia da Ufes, focado em dois hospitais que tratam pacientes de Covid-19. O outro, sob coordenação da professora Regina Keller, analisará efluentes da rede de esgoto geral das cidades da Grande Vitória.

Em ambos recortes populacionais, a técnica de análise do material coletado é semelhante à empregada nos testes PCR feitos a partir de muco humano. “É um método bastante sensível”, destaca Ricardo, citando o fato ocorrido na cidade de Paris, onde foi possível detectar o SARS-CoV-2 no esgoto duas semanas antes da aceleração da epidemia. “É mais rápido e mais barato que a testagem”, compara, ressaltando que são métodos complementares. “A testagem é cara e lenta, porém, necessária”, afirma.

Já a epidemiologia baseada no esgoto, sublinha, “com muito poucas amostras, menos de dez, é possível ter um diagnóstico preciso da epidemia em uma região”. Cada amostra, descreve, não tem mais do que dois litros, e no Laboratório da Ufes, os resultados das análises saem em um dia.

Os estudos já contam com manifestação de interesse da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e dos consórcios de saneamento consultados na Grande Vitória, faltando a autorização da Companhia Espirito-Santense de Saneamento, solicitada há quase um mês.

A demora na resposta preocupa a equipe, reconhece o pesquisador. “Estamos prontos aguardando apenas uma definição. Por isso começaremos pelo Canal da Costa, que não depende da autorização de ninguém. Semana que vem devemos coletar lá”, conta.

Saneamento básico insuficiente

Em paralelo à implementação da metodologia já conhecida e aplicada com sucesso em outros estados e países, Ricardo Franci já vislumbra a possibilidade de adaptar a ferramenta para a rede brasileira e capixaba, de baixa cobertura de tratamento de esgoto. 


“O único problema [do método] é: a cobertura do esgotamento sanitário é muito ruim. Apenas metade da população tem sistema completo e isso limita a aplicação”, pontua. Para a coleta em corpos hídricos que recebem esgoto não tratado de centenas de bairros e municípios inteiros, será preciso estudar como adaptar as análises e coletas necessárias à realidade hidrodinâmica diferente desses espaços. “A diluição que acontece ali influencia muito no resultado que se vai obter. Não podemos prometer nada, mas vamos tentar adaptar a metodologia”, diz.

No caso do Canal da Costa, esclarece, mesmo não se tratando de um ambiente padrão onde a metodologia é aplicada – efluentes de esgoto bruto, pertencente a redes de coleta e tratamento, sem diluição em corpos d’água – a elevada concentração de esgoto dá garantia de eficiência na aplicação da técnica, sem adaptação.

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