Sexta, 03 Mai 2024

Impactos da Aracruz Celulose no Estado são denunciados em mapa mundial de conflitos

Impactos da Aracruz Celulose no Estado são denunciados em mapa mundial de conflitos

Um mapa mundial de conflitos ambientais feito pelo EJOLT (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade) - organização europeia pela justiça ambiental -, registrou os plantios de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria) e a sua ofensiva às comunidades quilombolas do norte do Estado. O deserto verde provocado pela monocultura do eucalipto e a usurpação de terras tradicionais estão entre os prejuízos ambientais e sociais destacados no estudo.



Segundo reportagem da BBC Brasil, o mapeamento inédito foi feito pelos pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autônoma de Barcelona e apontou o Brasil como o terceiro país (ao lado da Nigéria) em número de disputas. O mapa foi apresentado no final do mês de março, em Bruxelas, na Bélgica, pela Delegação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

 

A Vale também consta no mapa, ocupando a quinta posição no ranking das empresas em todo o mundo envolvidas em conflitos ambientais. São denunciados conflitos da mineradora com agricultores de Moçambique, além de Colômbia, Peru, Chile e o Brasil. A América Latina é palco de 14 das 15 disputas da mineradora e oito delas estão em solo brasileiro, a exemplo da extração de bauxita no Pará e de ferro em áreas indígenas de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. No entanto, os conflitos envolvendo a mineradora no Espírito Santo com entidades dos movimentos sociais e indígenas de Aracruz não aparecem no mapa.

 

Disputas agrárias, conflitos indígenas, disputas por recursos hídricos e por reservas minerais também recheiam o desastroso quadro  dos 58 conflitos ambientais em curso no Brasil, todos esses retratados no mapa. Na América Latina, o país só perde, em números, para a Colômbia, com 72 conflitos ambientais.

 

Segundo Joan Martínez Alier, diretor do EJOLT, à BBC Brasil, a demanda por materiais e energia da população mundial de classe média e alta faz com que os conflitos ecológicos aumentem em todo o mundo. Alier também afirmou que a maioria das comunidades impactadas por essas disputas são pobres, muitas das quais indígenas, e se distanciam da justiça ambiental e dos sistemas de saúde pela sua falta de poder político.



Deserto verde



O mapa detalha que a Aracruz Celulose chegou ao Estado no ano de 1967 e iniciou sua ocupação de terras, bem como o plantio do eucalipto, no município de Aracruz. Em 1970, a invasão se expandiu para os municípios de São Mateus e Conceição da Barra. Somente dois anos depois, em 1972, a companhia Aracruz Celulose foi fundada e em 1978 foi aberta a primeira fábrica de celulose. A segunda foi aberta em 1989 e a terceira em 2002.



O documento sinaliza os plantios de eucalipto como um dos vários objetos de conflito ambiental e destaca que a empresa é a maior produtora mundial de celulose branqueada e, somente no Espírito Santo, são 320 mil hectares de eucalipto plantados, onde destruiu mais de 50 mil hectares de mata atlântica, somente para sua instalação. A exportação é destino de 97% dos 2,4 milhões de toneladas de celulose produzidos anualmente, e a Aracruz consome cerca de 250 mil metros cúbicos de água por dia em sua linha de produção.

 

O relatório do mapa sobre este conflito também relata que a Aracruz impacta as populações indígenas, camponesas, pescadores e até mesmo os trabalhadores de sua linha de produção. Os peaquisadores classificam como severos os impactos causados pela Aracruz aos quilombolas e consistem na perda de terras, de florestas, de água e de oportunidades de trabalho. O relatório também detalha que cerca de 30 comunidades sobrevivem, atualmente, na região cercada pelo eucalipto, lutando pelos seus direitos constitucionais à terra.



No norte do Estado, registram, a Aracruz usurpou 11 mil hectares de terras indígenas, retirando 8.500 mil famílias dos seus locais de origem e restringindo seu acesso à água e alimentos. Por isso, os Tupinikim e os Guarani há anos lutam para proteger os seus territórios.



O estudo também registrou que milhares de hectares estão se transformando em um deserto devido às monoculturas de eucalipto e de cana de açúcar, que absorvem toda a água do solo. Além disso, o eucalipto tem eliminado as plantações de café da região, o que pode exterminar até 200 mil empregos, enquanto o eucalipto só poderá dispôr de 4.800 empregos.

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