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Impactos do eucalipto e do setor de petróleo no Estado serão discutidos em encontro nacional

Os impactos da monocultura de eucalipto e a expansão do setor do petróleo no Espírito Santo serão discutidos no VI Encontro Nacional da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), que começa nesta quinta-feira (24) e vai até o próximo sábado (26), em Belo Horizonte, Minas Gerais. O evento pretende consolidar a construção coletiva de um diagnóstico crítico sobre a conjuntura e as desigualdades ambientais ligadas ao modelo de desenvolvimento implantado em todo o país. Mais de 150 pessoas de diferentes regiões do país estarão presentes no encontro, entre eles indígenas, pescadores e ribeirinhos, cujos direitos territoriais sofrem ataques do agronegócio.
 
De acordo com Daniela Meireles, técnica da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) do Estado, o encontro vai organizar as frentes de luta da RBJA no Brasil. Ela explica que as atividades levadas pela delegação capixaba ao debate, além de contribuir para a poluição dos recursos naturais sem oferecer alternativas de recuperação, têm características excludentes e segregadoras na instalação de seus empreendimentos. Nos projetos, são desconsiderados os impactos causados às comunidades tradicionais, como pescadores, quilombolas e indígenas.
 
No Espírito Santo, a Aracruz Celulose (Fibria) é a principal exploradora do território capixaba com os plantios de eucalipto no norte do Estado. A empresa usurpou territórios indígenas e quilombolas, inclusive com a prática de grilagem, para expandir com sua monocultura, responsável por inúmeros danos sociais e ambientais nos municípios de São Mateus e Conceião da Barra, como o empobrecimento do solo, seca dos córregos e rios, destruição da Mata Atlântica, poluição devido ao uso excessivo de agrotóxicos e intoxicação dos moradores próximos aos latifúndios. 
 
Estudos realizados pela Associação dos Geógrafos do Brasil no Estado (AGB-ES) e a Fase apontam que o consumo diário de água para produção de celulose é de 248 mil metros cúbicos, o suficiente para abastecer uma cidade de 2,5 milhões de habitantes, número equivalente à população da região metropolitana de Vitória. Se a água utilizada pela empresa fosse captada, tratada e distribuída pela Companhia Estadual de Saneamento (Cesan), as entidades preveem que a conta da empresa se aproximaria de R$ 16 milhões mensais, sem considerar o consumo de outras unidades – e suas expansões – do país. 
 
No Estado, populações ribeirinhas também sofrem impactos da invasão portuária, concentrada em portos e estaleiros destinados a operações offshore, de apoio a plataformas petrolíferas. Entre os empreendimentos estão o Estaleiro Jurong de Aracruz (EJA), o Itaoca Offshore, o C-Port, da empresa americana Edison Chouest, além do superporto da Manabi, focado na exportação de minério. Todos eles provocarão impactos ambientais e o fim da pesca tradicional.
 
Apesar de oferecerem empregos e desenvolvimento, a realidade dos locais onde estão instalados os grandes empreendimentos é marcada pela formação de bolsões de pobreza, aumento da criminalidade e ausência de serviços básicos de saúde e educação. 
 
Para a RBJA, está evidente que a reprodução da forma atual de acumulação de riqueza na sociedade só é possível por meio da produção de injustiças. Como explica Julianna Malerba, do Colegiado Político da RBJA e da Fase, as áreas que mais recebem atividades poluentes é onde habitam populações pobres, negras e indígenas, logicamente mais expostos aos ricos e danos ambientais. Julianna também chama atenção para a importância do debate quando aponta para uma relação contraditória: “o compromisso com a superação da desigualdade e da pobreza tem impulsionado a expansão de atividades extrativas e intensivas no uso dos recursos naturais e impactado, justamente, os grupos historicamente vulnerabilizados, que detêm menos poder”.  
 
A Rede Brasileira de Justiça Ambiental existe desde 2002 e reúne cerca de 100 movimentos sociais, entidades ambientalistas, organizações, associações de moradores, órgãos de ensino e pesquisadores universitários, que se unem em torno do campo político de defesa da Justiça Ambiental. Trata-se de marco conceitual que aproxima as lutas populares pelos direitos sociais e humanos, por qualidade de vida e pela sustentabilidade ambiental. 

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