Manifestantes denunciam programa estadual em evento de abertura da Campanha

Ambientalistas que integram o Movimento em Defesa das Unidades de Conservação (UCs) do Espírito Santo irão entregar uma carta contra a privatização dos parques naturais capixabas durante a abertura da Campanha da Fraternidade 2025, que tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. O lançamento será neste domingo (9), às 13h, no Ginásio Dom Bosco, em Vitória. Durante o evento, os manifestantes pretendem dar visibilidade à luta pela revogação do Programa Estadual de Desenvolvimento e Uso Sustentável das Unidades de Conservação (Peduc), instituído pelo Decreto nº 5409-R, do governador Renato Casagrande (PSB), e coletar assinaturas para um abaixo-assinado que já ultrapassou 13 mil adesões.
A mobilização contra o Peduc vem crescendo desde 2024 e chegou à Campanha da Fraternidade durante as visitas realizadas pela Arquidiocese de Vitória em seis áreas pastorais para discutir questões ambientais locais. Os organizadores preparam uma cartilha com os dados de problemas ambientais levantados no último ano para distribuir no evento e nas redes sociais do Vicariato para Ação Social, Política e Ecuménica. Além disso, a campanha terá como objetivo contatar a Assembleia Legislativa e as Câmaras Municipais para propor audiências para discutir a questão ambiental de acordo com a realidade regional.
A preocupação com o programa estadual surgiu da previsão de leilões em 2025, que permitirão a concessão de parques naturais à iniciativa privada por 35 anos. Entre as unidades afetadas estão os parques Paulo César Vinha (PEPCV), na região metropolitana; Itaúnas, em Conceição da Barra, no norte do Estado; Cachoeira da Fumaça (PECF), em Alegre; Forno Grande (PEFG) e Mata das Flores (PEMF), em Castelo, no sul do Estado; e Pedra Azul (Pepaz), em Domingos Martins, na região serrana.
Sem a realização de estudos e relatórios de impacto ambiental (EIA/Rima), os primeiros projetos de infraestrutura turística para os Parques Estaduais de Itaúnas e Paulo César Vinha foram apresentados pela consultoria Ernst & Young, contratada sem licitação por mais de R$ 8,6 milhões para a modelagem econômica das concessões. As propostas incluem a construção de teleféricos, tirolesas, restaurantes, hospedagens, piscina flutuante e estacionamentos para centenas de veículos. Especialistas alertam que esse modelo de exploração econômica pode colocar em risco a preservação ambiental dessas áreas protegidas.
Para Izanildo Sabino, representante do movimento, a Campanha da Fraternidade é uma oportunidade de ampliar o debate e angariar apoio contra o projeto. “O governador deve estar presente e nós estaremos distribuindo aos participantes a carta aberta que entregamos a ele, pedindo a revogação do Peduc. Temos outras pessoas que estão atuando também dentro das pastorais, como a Pastoral da Ecologia, e aproveitamos o tema da campanha para dar visibilidade e ganhar mais apoio para a causa”, afirmou. Na carta ao governador, os manifestantes pedem o cancelamento do programa e a substituição do Secretário de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, apontado como responsável por uma condução autoritária do projeto, em benefício de interesses privados.
Recentemente, o governador Renato Casagrande (PSB) foi confrontado por ambientalistas durante a abertura da Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no último dia 19 de fevereiro, em Vitória, em um novo protesto do Movimento em Defesa das Unidades de Conservação. Na entrada do evento, manifestantes cobraram a revogação do programa, e o governador Renato Casagrande enviou um assessor para comunicar que estaria aberto a debater a questão, mas não assumiu compromissos concretos até então.
Diante desse cenário, o movimento pretende continuar pressionando o governo e busca maior apoio popular. “Iremos trabalhar juntos na campanha, nas comunidades, em busca de informar as pessoas sobre o que está acontecendo, não só na questão da privatização, mas também na questão ambiental e da ecologia integral. Durante toda a quaresma, continuaremos a coletar assinaturas para o abaixo-assinado, que se aproxima da meta de 15 mil adesões”, acrescentou.
Para ele, o engajamento da Igreja tem sido fundamental para ampliar a participação popular. “Recentemente, o padre Kelder fez um pronunciamento sobre a situação. Quando um padre fala, quando uma liderança se posiciona, isso envolve as comunidades e amplia a adesão à luta”, reforçou. Os manifestantes esperam que a pressão popular preserve as unidades de conservação capixabas e impeça o avanço da degradação ambiental em benefício de interesses econômicos privados. “Vamos unir forças com a Campanha da Fraternidade contra a privatização dos parques para que mais pessoas possam atuar nessa luta”, finalizou.