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Violência policial marca reintegração de posse em Conceição da Barra

“Reunir os pedaços de dignidade e esperança para construir, de forma coletiva, outras alternativas de luta”. Esse é o horizonte das cerca de 200 famílias despejadas na manhã desta terça-feira (11) do Acampamento Fidel Castro, em Braço do Rio, Conceição da Barra (norte do Estado), na definição de Adelso Rocha Lima, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Apesar da destruição das lavouras e barracas, mantém-se intacta a força para seguir na luta”, afirma.

 

Localizado na Fazenda Itaúnas, o acampamento teve sua ação de reintegração de posse cumprida em favor da Agropecuária Aliança S/A (Apal), ex-produtora de cana no distrito do município, que tem a maior concentração de terras do Estado.

“A ação da polícia foi de um nível desproporcional, uma violência absurda”, lamenta. “Helicóptero, cavalaria, muitos policiais … para resolver um problema social e não de polícia. E que não foi resolvido, só agravado”, critica, narrando os voos rasantes da aeronave por cima das famílias, “uma violência física e psicológica” desnecessária.

 

As famílias se instalaram provisoriamente no pátio da escola do Assentamento Pontal do Jundiá, no mesmo distrito. Foi a primeira escola de ensino fundamental e a primeira escola a praticar a Pedagogia da Alternância em um assentamento capixaba, informa Adelso. “É um refúgio, um acolhimento temporário”, diz. Um acolhimento para sarar as feridas de um ato estatal truculento e injustificável. 

A noite anterior ao despejo, conta Adelso, foi de muita chuva. As pessoas juntavam seus poucos pertences, que eram em parte molhados. A chuva também molhava a lavoura, o que seria uma alegria dias antes, mas os cinquenta hectares de plantações, “de uma variedade enorme de alimentos”, foram totalmente destruídos pelos tratores. “Conseguimos recolher um pouco da produção, para o nosso almoço e janta de hoje”, conta.

Significativo foi ver explícitas as alianças, os apoiadores do Movimento, que nunca se negam a estar ao lado das famílias acampadas que reivindicam o direito constitucional pela Reforma Agrária, como aponta o líder do MST. Lideranças religiosas e políticas e Defensoria Pública “intermediaram junto à Polícia para evitar uma violência ainda maior, fora de controle”, conta, agradecido, o coordenador do MST.

Existem hoje no Espírito Santo mais de mil famílias acampadas, à espera de assentamento. A demanda pela Reforma Agrária no Estado, no entanto, é muito maior, segundo as lideranças do MST. A próxima reintegração de posse está marcada para o dia 18, no Acampamento Ondina Dias, em Nova Venécia. 

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