Quinta, 16 Mai 2024

Líderes da Maranata apostaram na impunidade para coagir testemunhas

Desde novembro de 2011, quando o jornal A Gazeta publicou, com exclusividade, as primeiras denúncias revelando um esquema de corrupção na cúpula da Igreja Cristã Maranata, já era possível perceber que havia muito mais irregularidades atrás dos desvios de dízimos dos fiéis que, segundo apurações preliminares, chegam a R$ 21 milhões.

 
Os crimes praticados pelos líderes da Maranata incluem remessa ilegal de recursos para as igrejas do exterior, criação de empresa irregular, contrabando e fraudes fiscais. Nessa terça-feira (12), uma operação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público Estadual (MPE) prendeu quatro importantes membros da igreja: Elson Pedro dos Reis, pastor que assumiu a presidência da Maranata no final de 2012; o também pastor Amadeu Loureiro Lopes; Carlos Itamar Coelho Pimenta, que além de pastor é advogado, e o ex-presidente e um dos fundadores da igreja, Gedelti Victalino Gueiros, que está em prisão domiciliar por ter mais de 80 anos. 
 
Mesmo após as prisões, o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual, Paulo Panaro, afirmou que uma das testemunhas continuou a sofrer ameaças de pessoas ligadas à igreja. 
 
Ele revelou o teor da ameaça que a testemunha teria documentado: “Você viu o que você fez? Eu vim de longe para te pegar, vou só esperar a poeira baixar para você ver o que vai acontecer", teria dito um representante da Maranata à testemunha na manhã dessa terça-feira (12). O promotor acrescentou que essa foi uma das testemunhas que não aceitaram mudar o depoimento. 
 
Em entrevista à Rádio CBN Vitória na manhã desta quarta-feira (13), Panaro explicou que as prisões dos quatro líderes foram necessárias justamente porque outras sete testemunhas sofreram coação. “Chegou às nossas mãos uma lista de pessoas que poderiam morrer. A lista esta materializada nos nossos autos”, disse o promotor.
 
Ele ressaltou que ficou impressionado com o fato de as ameaças prosseguirem mesmo após a decretação das prisões. Panaro disse ainda que as testemunhas coagidas mudaram seus depoimentos porque foram ameaçadas. 
 
O promotor afirmou que a coação sobre as testemunhas foi tão intensa, que as testemunhas resolveram voltar atrás e mudar o teor do primeiro depoimento, no qual admitiam o envolvimento das lideranças da Maranata no esquema. Ele acrescentou que a própria igreja pagou as despesas cartoriais para que as testemunhas registrassem o segundo depoimento como válido, que inocenta os envolvidos.
 
Paulo Panaro explicou que agora caberá a Justiça interpretar a mudança repentina das testemunhas e decidir qual depoimento é válido. O promotor afirmou ainda que as lideranças da Maranata usaram a própria bíblia para coagir as testemunhas. 
 
O promotor esclareceu que os trabalhos de investigação não têm como intenção macular a imagem da Igreja Cristã Maranata, ao contrário, “respeita-se integralmente a liberdade de crença, direito constitucional de exercício ao culto religioso”. 

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